No Balcão do Quiosque

domingo, 30 de outubro de 2011

Sou a parte menos conhecida de mim mesmo. As outras partes complementam o mistério do não saber o que sou (não “quem sou”).

Deram-me um nome após o nascimento. É a única coisa que sobrevive após a morte. No contexto de saber-se o que se é, muito atrapalha ser alguém. Pois acreditamos ser o que dizem que nós somos. Somos uma imagem pintada em uma tela social para agradar — ou desagradar, tanto faz— aos olhos de quem nos vê, inclusive nós mesmos. Desnudar o que está revestido por camadas de condições psico-sociais, é uma ação a nós, totalmente desconhecida. Não sabemos como fazer isso. Pois se o soubéssemos, não seríamos o que somos ou deixaríamos de sê-lo instantaneamente e aquilo que É real, num rompante do mais visceral silêncio, estilhaçaria nossa redoma de vidro na qual pretensiosamente chamamos de meu mundo, com a facilidade de um efeito especial cinematográfico revelando algo que, na verdade, nunca esteve preso, nunca nem ao menos chegou a ser algo.

Se não podemos expressar o que seja esse algo, esse silêncio tatuado na alma, ao menos a linguagem musical — tal qual um Claire de Lune — intenta evocá-lo no anestésica impulso de colher uma impressão relampejante de sua realidade.

É disso que estou de dizendo. Disso que não é.

Clair de Lune

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Poeta dos Tijolos

Me desculpem os Amigos Quiosqueiros por postar duas seguidas, mas hoje o Cristo Redentor faz oitenta anos e eu não podia deixar de reeditar esse post que fiz no Boca Diurna em 07 de abril de 2008.


Meu avô Joaquim esteve aqui. Não como um turista português, em cruzeiro pelo  Brasil, mas como pedreiro e construtor de chaminés.

   Todos já devem ter visto espalhadas por todo o  mundo, chaminés de tijolos maciços, verdadeiras obras de arte, que erguem-se a  altitudes de tirar o fôlego...
Pois meu avô Joaquim era construtor de  chaminés.

   Algumas erguem-se em tamanha imponência e  graciosidade que são poupadas da demolição de uma fábrica fechada.  Eternizam-se  solitárias. Monumentos do testemunho da capacidade do homem.
   Meu avô Joaquim era praticamente analfabeto.  Ele era construtor de chaminés.

   Joaquim "Bigode" (O segundo a partir da esquerda), viveu e morreu simples e  pobre, mas não sem antes deixar de construir seu mais famoso monumento. O Cristo Redentor!


Meu avô Joaquim era pedreiro e praticamente analfabeto. Ele foi construtor de maravilhas.

Todos!  Absolutamente todos, temos alguma  importância para a história de nosso País.

Só depende de nós!!

Marcos Santos
Rio de Janeiro

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Zabelinha Onze-Horas

Meu amigo gosta muito das flores chamadas de "onze-horas". Outro dia ele me veio reclamando de um tipo de abelha que corta a parte inferior da flor, facilitando a acesso ao nectar.


- Veja só, essa abelha está estragando as flores. Ela fura na parte de baixo. As flores ficam feias.


Reconheço que não dei muita atenção ao assunto, pois eram apenas abelhas e flores. Nada mais natural. Mesmo assim peguei minha câmera e tirei algumas fotos das flores com suas respectivas abelhinhas.


O dia passou, eu esqueci do assunto...mas meu amigo não. 
Essa semana ele veio com ar de vitória, me informando que as abelhas não incomodariam mais suas "onze-horas" .


- O que você fez? Perguntei, imaginando que ele tivesse coberto as flores com alguma tela, ou véu...
- Taquei inseticida. Respondeu ele.


Na hora não acreditei no que tinha ouvido, pois meu amigo alimenta as sabiás soltas na natureza com uma penca de bananas todos os dias. Não é do tipo de pessoa que envenene abelhas. Mas ele fez....


Não sei se isso vale de consolo para as abelhas, mas na hora só pude argumentar para ele:


- Meu querido amigo, as plantas criam suas flores para as abelhas e para os outros insetos, não para você ou para mim. Essas "onze-horas" provavelmente querem atrair justamente esse tipo de abelha, que corta o fundo de sua flor, facilitando a queda do pólen no solo.


Ele não me deu muita atenção e só restou-me refletir sobre o assunto:
Definitivamente nós não somos desse planeta. Mesmo quando somos bons entre nós, para a natureza somos como a Medusa, cujo nosso simples olhar transforma tudo em pedra, em morte.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Arthur x Escola

     No dia 4 de outubro de 2010, o Sete Ramos publicava ARTHUR x DANONE,  pedindo o apoio dos amigos na luta de uma criança de cinco anos contra uma multinacional famosa. Muitos amigos entraram decididos na arena e, em 21 de fevereiro de 2011 noticiávamos a vitória - ainda parcial - do Arthur.
     Mas a vida não dá tréguas, e a luta continua. Hoje, um ano já passado, o adversário - pasmem! - é a escola onde o menino estuda.
     Não vou cansar meus amigos com detalhes, mesmo porque sou suspeito para falar - o Arthur é meu sobrinho-neto. O vídeo da Record News fala por mim.




     E quem se interessar pelo assunto, encontrará mais detalhes em:


Arthur x Danone - O Sete Ramos e seus amigos entram na briga


Arthur 1 x Danone 0 - Arthur ganha o 1° round por pontos


     E o link para o "Blog" do Arthur e de sua mãe é:


Tudo bem ser diferente - Comentários da Consuelo sobre a reportagem


     Nota: este "post" foi publicado no "Sete Ramos de Oliveira" e está sendo replicado aqui, neste ninho de crônicas e poesias, por indicação expressa da LU CAVICHIOLI, a quem agradeço a generosa sugestão.


     Abraços a todos.
     Rodolfo Barcellos.

sábado, 1 de outubro de 2011

CABELO CHAPADINHO É TUDO IGUALZINHO


Passeando pelos caminhos desimportantes das redes sociais, me deparo no FacebooK com uma foto postada por meu sobrinho, onde posam ele e mais quatro adolescentes, sendo destes quatro meninas. Fixei meu olhar sobre o retrato e inquietei. Neste instante se abateu sobre mim uma dúvida cruel acerca do real caminho para o qual segue a humanidade. Deprimi.

As meninas, todas elas, exibiam um longo e moreno cabelo liso. Todos iguaizinhos. E fui tomada de uma subida vontade de exterminar todas as chapinhas sobre a face da terra. Quem sabe a partir desse ato extremo, o estilo pessoal mostre a cara. As meninas pareciam quadrigêmeas ou lindas japonesinhas...

Minha sobrinha Giovanna, também parte dessa espécie sui generis, os adolescentes, veio ralhar comigo depois de ler uma frase metida a engraçadinha dessa que vos escreve, comentando o tema desimportante também lá no Face. Ela disse: “Memem, mas elas gostam, acham bonito”... Eu respondi: “Acham bonito nada! Elas apenas seguem o padrão. E nesse momento usar a famigerada exterminadora de cachos é a onda”... Ela riu. Talvez não compreendendo minha inquietação por tamanha bobagem. Essa mocinha, inclusive, deu conta de eliminar os seus cachos tão lindos há algum tempo. Começou dizendo que era uma vezinha só e quando nos demos conta, lá estava a franja e o cabelão lambido exibido com imensa vaidade. Tudo bem...  Tudo bem... Há de se respeitar a vontade alheia. Embora dentro de mim o bichinho da repressão contra a maquininha maldita esteja aos urros.

Onde foi parar o estilo próprio? Que graça há em se ter a mesma cara da amiga, irmã, ou seja lá quem for? Bom, talvez tenha mesmo graça e eu é que estou aqui bancando a ranzinza... Devo rever meus conceitos, é o que parece. O importante é cada um estar de bem com a sua vida, sua roupa e o seu cabelo do jeito que bem o prouver.

Mas se por acaso alguém encontrar um cacheado por aí, aprisione-o imediatamente! Ao menos pelo tempo suficiente de se fazer uma clonagem, essa espécime em extinção deve estar a salvo...

Findo aqui essa reflexão que não mudará em coisíssima nenhuma o andar da carruagem onde até os cavalos tem a crina chapada.

Uns beijos.


Por Milene Lima