No Balcão do Quiosque

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O natal do diabo

A festa prometia. Leroy decorou o caminho com a tranqüilidade de seus espertos 9 anos. Roupa nova e cheirando a perfume de gente grande. Seu pai não vai mesmo se importar apesar da bronca passageira quando descobrir. Afinal, foram apenas algumas gotas. Seu cabelo negro bem penteado ou melhor, bem despenteado segundo o ditame da moda.


Na mão esquerda, o presente profissionalmente empacotado com laço artístico de cetim no tom azul profundo.

O caminho escolhido foi o da vereda de ciprestes. E lá vai Leroy sozinho escoltado pela aura de inocência e pureza de intenção.

À meio caminho, pressentiu uma sombra a um braçinho de distância. Olhou repentinamente para o lado e viu um senhor alto de olhar meigo e feliz.

— Olá meu jovem amiguinho. Está indo para a festa de Natal?

— Sim. Como o Sr. sabe?

— Eu sei de muita coisa. Sei por exemplo que dentro desse presente que você carrega, está um Tan.

— É verdade. Que esperteza a sua seu moço! Como é seu nome mesmo?

— Tenho vários nomes para cada ocasião. Hoje como é uma dessas ocasiões especiais, pode me chamar de Estumersun.

— Que nome esquisito. O que significa?

— Venerável da aurora é o que significa.

— Para quê tanto nome? Não basta ter apenas um?

— Sabe amiguinho, esse é um problema que carrego por muito, muito tempo. Não posso ter apenas um nome como todo mundo. Meu nome se alterna constantemente.

— Por que?

— Porque tudo se alterna constantemente: as pessoas, os sentimentos das pessoas, os animais, as marés, os dias, as noites, as árvores... e até mesmo você meu amiguinho, está fadado à essa inevitável alternância. E em cada mudança que ocorre eu mudo meu nome para tentar escapar das mudanças constantes, entende?

— Não sei se entendi.

— Por que disse que hoje é uma ocasião especial? Você também vai à festa?

— Hou, hou, hou... é o que eu pretendo meu amiguinho. Mas não tenho um Tan para levar.

— Vamos comigo. Eu tenho esse aqui. Assim poderemos entrar juntos. Eu digo que você é meu tio.

— Amiguinho... é feio mentir.

— Amigão, pior é só mentir... he, he...

— Sabe amiguinho, você não precisaria levar um Tan. Você É um Tan.

O vento valsou com as folhas artisticamente enferrujadas envolvendo os dois caminhantes lado a lado.

— O que você fez pra não ter um Tan?

— Amiguinho, eu já tive um Tan. O mais glorioso que se possa imaginar. Seu brilho e poder são completamente desconhecidos de qualquer um neste nefasto. Não há referência possível que o torne compreensível. Quando tornei-me completo enamorei-me do fulgor e o fulgor abrasou-me com tal intensidade

que uma explosão silenciosa ofereceu-me uma escolha. E escolhi. Minha escolha criou mundos; deflagrou astúcia; plantou a progenitora da felicidade humana: a ignorância. Ah, como me regozijo vendo a felicidade das pessoas cintilar como vaga-lumes emitindo atração luciferina tal qual cupinzeiros luminescentes. Diriam ao observá-los: “eis uma autêntica árvore de Natal”.

— Como irá fazer para ter de novo um Tan?

— Não farei. Você fará.

— Como?

Estumersun estendeu-lhe a mão direita e disse-lhe: “Entregando-me”.

— Mas você é meu convidado. E aos convidados toda as honras lhe são granjeadas. É um princípio guiador de tudo quanto existe e do universo inteiro. Pelo "tan" há verdade, e sabedoria, e harmonia e...

— Não me fale assim!!! Eu sou o Venerável Celeste da Aurora! Sou o que antecede a luz matutina. Sem mim o mundo seria apenas um depósito de corpos putrefatos.

— Está bem, está bem amigão. Tome aqui o Tan. Não quero vê-lo triste.

Estumersun estendeu a mão ao encontro daquelas pequeninas mãos.

O Tan lhe foi concedido. Estumersun parado olhava orgulhoso para o Tan sentindo-se com o máximo de poder que um inefável poderia sonhar.

Mas o que Estumersun queria apoderar-se, dele apoderou-se.

Suas roupas aumentaram de tamanho. Seu calçado tornou-se demasiado espaçoso. Sua voz perdeu o timbre dos controlados. E o que mais temia aconteceu. Estumersun agora era uma criança.

— Vamos amiguinho. A Festa nos espera.

Leroy o pegou pela mão e às portas do salão, adentraram.

Um vasto salão. Plenamente iluminado. O que mais impressionava era o seu minimalismo decorativo. Nunca havia pisado em um recinto tão magnificamente limpo.

— Por que ele está vazio? — Perguntou a voz de Estumersun carregada de magia infantil.

— Porque é no vazio que a plenitude se manifesta.

Assim, correram felizes para o centro do salão e uma luz intensa os consumiu.

Não havia mais Estumersun, não havia mais Leroy. Apenas o único Natal.

11 de setembro





11 de setembro
( por Rosemari)

Naquela manhã acordou reflexiva. Fitou o espelho e aventurou - se em uma exploração facial. Descobriu uma fisionomia diferente, um semblante que a motivava a enfrentar o dia de céu azul e ensolarado.
Uma aventura especular, leve sorriso nos lábios, ao mesmo tempo em que ganhavam um colorido vermelho carmim. Acor do batom que escolhera caia muito bem com o vestido que usava, onde o decote emoldurava seu belo colo.
Embora pensativa, estava radiante diante das novas possibilidades que figuravam no cenário de sua vida. Mudanças rápidas e positivas estavam prestes a ocorrer que a deixavam segura e esperançosa.
Agenda lotada. Era preciso se apressar. Rompe seus pensamentos e deixa de lado sua aventura matinal. Apressadamente pega as chaves do carro e dirigi-se para a garagem. Na porta do elevador encontra um homem muito elegante, que a cumprimenta de uma forma sutilmente sedutora. Seu dia fica ainda melhor.
O dia ainda promete grandes surpresas. A primeira delas chega ao exato segundo em que liga o rádio, sintonizando a principal manchete. A notícia ressoa estrondosa. Acelera. É preciso saber urgente o que de fato está acontecendo. Ao chegar ao escritório, assiste pela televisão aquelas imagens horríveis que ficarão impregnadas em sua mente e no seu coração.
O Word Trade Center incendiava.
O fogo também queimava seus sonhos. As chamas carbonizavam corpos e consumavam esperanças, ideais e projetos de vida.
Faltavam apenas dez dias para seu embarque. Na agenda, o dia 11 de setembro estava relacionado a passagens, vôo para os EUA, reserva de hotel e a pauta para uma reunião com os executivos do 56º andar, em uma das torres gêmeas.
Estava tudo acertado para seu ingresso na empresa americana que a levaria a realizar seu projeto na área profissional e que há muito tempo estava sendo desenvolvido.
As labaredas envadiram sua alma, colocaram fim aos seus sonhos.
Passado e presente se misturavam àquelas chamas de fogo projetadas na tela do televisor.
As lembranças de sua última viagem à New York, onde fez o primeiro contato havia sido paradisíaca. Além de expor seu projeto, pode andar por aquelas ruas maravilhosas imaginando como seria viver fora de seu país, ao mesmo tempo em que concretizaria o sonho de brilhar profissionalmente.
Tudo estava consumado. Mais uma vez a vida lhe trouxe a realidade da dor.
Hoje, no lugar das torres gêmeas existe uma clareira. No seu coração, ainda existe esperança.

2º lugar XXIII concurso de Contos e Crônicas _ Ponto de Vista Literatura.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Fiquem bem ao som da música

Porque amo vocês, bloguistas do meu coração...
Ouvi esta música outra vez e me deu vontade de tê-los comigo
Aqui
e
Agora!

My Sweet Lord
http://www.youtube.com/watch?v=_aa3ylmxnLM

Bem haja!

Ouçam o meu coração a bater...
PUM PUM
PUM PUM
PUM PUM...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Virtus

Um homem, juntando todo o ouro que possuía, o enterrou longe dos olhos das pessoas com a firme intenção de não só escondê-lo, mas também, sozinho, adorá-lo periodicamente. Passado algum tempo, sem ter consciência do que lhe ocorria, foi acometido por uma crise de sonambulismo. Nesse estado, andou pelos campos até chegar ao local onde havia enterrado o tesouro e desenterrando-o deixou-o à mostra. Em seguida voltou para seu quarto mergulhando em profundo sono. No dia seguinte, sem nada lembrar do ocorrido, dirigiu-se ao local onde enterrou sua preciosidade para certificar-se de que continuava bem enterrado.

Ao chegar na área demarcada, surpreso e assustado, encontrou o buraco aberto com todo seu ouro espalhado pelo campo. Então bramiu:

— Quem será que fez isso? Ou foi um animal estúpido ou algum desafortunado ignorante!

Bufando e esbravejando consigo mesmo, recolheu todo o tesouro olhando rapidamente para os lados antes que alguém aparecesse, enterrando-o em outro lugar.

Isso acontecia de forma recorrente. Cansado de presenciar tamanho desatino, resolveu montar guarda para pegar em flagrante o malfadado incógnito.

Madrugada adentro e nada de aparecer quem ou seja lá o que fosse. Cansado e pronto para voltar eis que surge a poucos metros uma silhueta humana masculina bem alta provavelmente com mais de 1,80m. De andar estranho, parecendo um autômato.

— Ora vejam só... é um sonâmbulo, só pode ser! Então é isso! Não sabia que havia sonâmbulos por aqui. Mas espere... o que ele está fazendo?

O insone visitante carregando uma caixa, parou próximo ao local onde sem o saber, estava enterrado o tesouro do observador. Agachou-se, cavou fundo e colocando a caixa que trazia, trocava-a pela que enterrada estava; retirava o ouro nela contido espalhando-o aleatoriamente pelo terreno.

Após esperar o afastamento do sonâmbulo, correu até o local e desenterrou sofregamente a caixa. Era exatamente igual a que utilizou para “guardar” o seu tesouro. A não ser pelo seu conteúdo. Ou seja, nada! Absolutamente nada havia dentro da caixa.

— Esse sujeito tem tanto de maluquice quanto de ousadia!

Resolveu segui-lo para descobrir o que o estranho fazia com o seu tesouro.
Descobriu então que o indesejado visitante, colecionava CAIXAS VAZIAS; milhares delas. Não tinha nenhum interesse no ouro ou em qualquer outro objeto que nela estivesse contido.
Apenas o vazio das caixas tinha para ele mais valor do que qualquer quantidade de ouro.

Intrigado com esse fato, resolveu procurar o insólito colecionador.
Bateu à porta da casa e uma senhora de baixo de seus 85 anos atendeu de forma simpática.
Ele então, meio sem jeito, explicou-se ou tentou, e disse que gostaria de falar com o colecionador.

A senhora simpaticíssima, lhe disse:

— Meu querido, moro aqui há mais de 50 anos sozinha. Sou viúva há vinte anos. E não tenho filhos. Sinto lhe dizer mas acho que o Sr. se enganou de casa.

Sem graça saiu despedindo-se da Sra.
Chegou em casa foi direto para o chuveiro. Era o que estava precisando.

Lá fora, no quintal de sua casa, seus dois cachorros disputavam brincalhonamente, pedaços de várias caixas vazias espalhadas pelo terreno.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O filme vai começar

A memória ausente levou consigo o quinhão das sólidas referências de consciência que compõe a celebração à perspectiva, claro que não uma mera perspectiva, mas um ponto de fuga do ordinário; do fugaz; padronização. Isso tudo estava desativado.

Um anfiteatro para projeção cinematográfica foi o que restou à sua frente. Tão desativado quanto sua memória. Poltronas empoeiradas recobertas com lençóis amarelados; andorinhas revoavam crisnando em defesa de seus ninhos; frestas permitiam luminosos raios bíblicos; o cheiro predominante era de nostalgia.

Parado ali no corredor, olhava o vazio ambiente como quem olha para um vale do alto de uma cadeia de montanhas. A tela branca apresentava manchas esparsas. Caminhou em direção às poltronas dianteiras. Escolheu a ermo a terceira poltrona da oitava fileira; sentou-se, ou, deixou o corpo cair no estofado encaroçado e sujo levantando um ballet de poeira preguiçosa.

Fixou os olhos na tela como quem espera o apagar das luzes mas o que se apagou lentamente foi sua atenção de vigília. Um sono pesado e bem vindo o carregou dali para um sonho vívido; desses que não parecem sonhos, de tão real. Diante de sua tela mental ou seja o que for, desenrolou-se uma cena típica de uma época medieval. Uma taverna de aspecto abandonado à beira de uma estrada enlameada às cinco horas da tarde.

Aproximou-se à porta como se fosse um freqüentador regular e já ia empurrando-a; hesitou e lentamente a abriu. Ninguém presente. Encostou a mão na porta e sentiu o ambiente antes de adentrar. No recinto em penumbra divisou oito mesas muito rústicas cobertas com panos velhos e sujos. Somente uma delas estava em melhor condição. Estava limpa com pratos e talheres postos. Havia uma talha e uma caneca de argila verde. Supôs que na talha deveria haver vinho.
Sentou-se. Apanhou a talha e sentiu o peso do líquido. Não hesitou em encher a caneca. Sim, um vinho, densamente tinto.

Bebericou bem devagar para sentir o aroma e o frutado do mosto. O carácter do precioso, se lhe apresentou às portas do divino. Tudo ao redor lhe parecia arranjado para proporcionar bem estar.A cada gole fechava os olhos e se lhe abriam visões como de multidões em alvoroçado falatório; música rápida e instigante fustigava-lhe os ouvidos.

Degustava um gole do precioso, enquanto sentia que o local rodopiava à sua volta como se estivesse em um carrousel. De repente tudo escureceu.Só negrume o envolvia. Sentiu medo; muito medo. Pior, não sentia o chão. Silêncio total. De sobressalto faltou-lhe o ar quando um facho de luz o atingiu no peito revelando tudo que havia a sua volta. E o que viu assombrou-lhe completamente: uma platéia atenta olhava-o como quem espera uma atitude de cena. Ergueu-se sabe Deus como, e olhando para a platéia soltou: “o que vocês querem?” Logo percebeu que essa frase ecoou apenas em sua mente. O público continuava impassível.

Então entendeu que sua realidade não ultrapassava a dimensão de uma tela

— Estou preso a uma tela!... tela... cela...

Tentou pular para fora dali mas o que conseguia era um avanço apenas virtual. Percebendo a inutilidade de qualquer esforço para escapar, resignou-se.

Uma voz em off lhe disse:

— não se canse à toa apenas siga o script; distraia-os; o filme já vai começar — mais uma vez.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vênus

Esta é a história de Ferdinand. Milênios e milênios trabalhando como Cupido o levaram a uma estafa e como conseqüência entrou em depressão. Afastou-se do convívio com outros cupidos. Era visto vagando sozinho de asa arreada sem arco e flecha... cabisbaixo.

Um dia sentou-se no banco do jardim e ficou horas fitando a névoa. Pensava: “ Sou mesmo um estúpido Cupido; passei toda minha existência a flechar o coração de muitos casais apaixonados e o que me restou foi passar minha vida limpando arco e polindo flechas; passo meus dias sozinho e não conheci até hoje uma companheira que arrastasse uma asa pro meu lado. O que farei? Não tenho curso superior; se tivesse poderia voar mais alto. Soube que estão abertas vagas para arcanjos. O céu é o limite.
“ Já sei! Vou dar entrada com um pedido para me tornar humano. Tenho uma licença prêmio para cumprir. "

Chegando à presença de Vênus, fez a solicitação. Vênus lhe falou:

— Muito bem. Para onde queres ir?
Ingênuo como era, Ferdinand ainda escolheu o dia: 12 de junho.

— Quero surgir em meio às maiores oportunidades de ser atingido no coração; ser pego por aquilo que é o alvo de todos os seres humanos.

Num piscar de olhos o máximo que conseguiu ver foram luzes amareladas no teto do corredor de um hospital da periferia. A poucos quilômetros deixara o Morro do Céu no complexo da Lagoinha.

O tiro foi certeiro.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Tem gente no balcão...VAMOS ATENDER!!




Ai ai ai... tem gente que possui um poder de controle fora do comum. Eu digo, controle sobre os outros. Eu fico perplexa como as pessoas se deixam levar desta forma. Creio que são pessoas fracas, estas que se deixam influenciar. Agora, vamos combinar??? O poder de controlar tem que ser muito persuasivo. O dono do poder tem que ser muito bom, poderoso mesmo ahauhauhauhauhauahuahuh!! Só rindo.

Tem gente também que fala e não cumpre. Ou melhor, o que fala , não se escreve. Mas a vida é assim mesmo. O aprendizado está sempre livre pra quem quiser pegar carona com ele. Faça sinal de pare e sente no banco da frente.

Fui.
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*Esse texto foi um desabafo e se resume à minha vida real.Foi escrito em 2008 e publicado em um falecido blog.

É um texto antigo e oportuno para discussões e/ou debates. Vamos nessa, quem se habilita?

Estou trancando o Quiosque. Ninguém à vista.
Boa noite!

sábado, 8 de agosto de 2009

Quiosque dos Pais



A todos os pais do Quiosque, um domingo suave, abençoado e repleto dos abraços de seus filhos.

Aos pais que já fizeram a viagem, fica a história, a memória, o rosto, as rugas, as mãos que tanto trabalharam e afagaram e abraçaram. Fica o amor que plantaram e que as sementes ( que um dia foram) - hoje frutos e flores, brilhem e rebrilhem para sempre em todos os corações.

O Quiosque deseja a todos esses homens lutadores e amorosos. UM IMENSO ULTRA MEGA DIA DOS PAIS.

Com carinho

LU CAVICHIOLI E EQUIPE

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O mundo tem o tamanho da minha visão.

Quando criança meu quintal era uma cidadela inexpugnável.Organizei batalhas que duraram séculos nas poucas horas que minha imaginação elástica, teve a permissão da criatividade para superá-la. Não houve mortos nem feridos. Apenas a dádiva da imortalidade em manhãs ensolaradas no pátio de minha casa, ou do meu vasto reino. O céu podia esperar sem pressa. Concedi glórias, aniquilei a soberba de invasores, desfrutei de conquistas, eternizei epopéias.

Hoje o mundo é pequeno. Muito pequeno. Não é mais um quintal.Tem o tamanho do meu quarto. Nesse quarto cabe a Europa, a Ásia, a África... todo longínquo espaço imaginável e inimaginável. Percorri os quatro cantos do mundo... e o meu quarto sempre esteve comigo; dimensionando meus sonhos, fortificando serenamente meus rituais de passagem para a realidade.Como o mundo é pequeno demais! Por mais que eu caminhe, as distâncias se encurtam, o tempo se esvai como neve ao sol.

Não sou pródigo. Apenas um filho que cansou de rejeitar a comida dos porcos e quer voltar pra casa mesmo que descalço. Meu apetite é cronofágico. Consumo a mim mesmo segundo a segundo. Ainda a pouco... ainda é pouco, ainda é tic... ainda é tac.As trilhas causam sulcos profundos na consciência. Trêmulas lembranças são gelatinas servidas em potes de aço. No regaço, no fundo da floresta que há em mim, ainda me resta uma ante-sala guardada a sete chaves; chaves essas perdidas por debaixo de alguma distraída saudade.

Como é minúsculo esse mundo! Como é maiúsculo o mistério que o interpenetra. Abraçá-lo é tarefa para gigantes. Rondas e rondas solares passam sem feriado cósmico. Sem descanso a roda gira e eu a observo sem ser seu servo.Olho para o campo de batalha que ficou para trás e meus olhos pesam como chumbo.O chumbo do sono; do sono que me faz sonhar; do sonho que me torna lúcido ao despertar.

Oi, Claro que estou Vivo!

Tenho tido bem pouco tempo pra postar, ler blogs, comentar e todas essas coisas. Razão pela qual a comunicação virtual via blogs tem sindo lamentavelmente mal atendida.

Nos próximos chás de sumiço (já previsíveis), nada que ver com nem esquecimento nem negligência. É só que ando trabalhando demais. Tempo livre pra mim anda assim curtinho feito coice de porco. Mas quanto a isso já me expliquei e justifiquei tanto aqui como alhures, agora chega. Vamos ao episódio que hoje vim contar.

Pessoa muito próxima e querida minha comprou um aparelho novo para a filha de 14 aninhos que tivera seu celular roubado, depois de tomadas todas as demais providências aconselháveis para o caso.

De minha parte, ando pra lá de escaldado com os tantos desserviços que as operadoras prestam hoje em dia. Não é à toa que os processos contra elas se avolumam cada vez mais por todos os forums da vida.

Entretanto, a referida operação transcorreu dentro da maior normalidade desse mundo, e resultou perfeitamente satisfatória. Na barganha, um chip contendo uma boa franquia veio de brinde. Isso tá na cara que não passa de um golpe de mestre que eles dão visando criar demanda. Tudo é cientificamente calculado. No fim das contas, eles auferem lucros astronômicos com a jogada. Mas cá entre nós, ganhar créditos telefônicos é bom, também.

A operadora é, coincidentemente, a mesma do meu celular. A referida pessoa resolveu então dar pra mim.

Era irrecusável. Sem relutância, aceitei. Agora, por um bom tempo, não haverá qualquer motivo para não nos falarmos bem à vontade mesmo que meu telefone fique "pai-de-santo" (só recebendo). Basta eu usar o tal chip. e estamos conversados. Assunto é o que não falta. Serve até gentilmente cedido pelo impagável Stevie Wonder: "I just called..."

Uma menina é roubada mas nada sofre além do susto e da perda de seus pertences. Como adolescente não vive sem telefone, ganha outro e até eu acabo beneficiado. É happy end pra ninguém botar defeito, né?

- Alô! ... Hello! ... Mushi Mushi! ...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Caderninho mágico: Uma festa gramatical



Papel comum
linhas e margens
espaços em branco
hospedeiro das letras
colecionador de palavras
folhas avulsas
perdidas, desorientadas
Fonemas e encontros consonantais
harmônicos, conversam sobre cada linha.
Figuras de sintaxe se exibem no espelho das frases.
Os vícios de linguagem mancham as paredes do texto, enquanto o apóstrofo e o hífen fumam um cigarrinho na varanda da próxima página.
Do lado de fora, os numerais, querendo invadir a festa.

O abecedário em discurso:
a arte pela arte
a mão e a caneta
Dentro da pasta
o caderno
dentro do caderno
a magia
nas folhas, o bordado
de tom acentuado
elas:
AS PALAVRAS

Por Lu Cavichioli

domingo, 2 de agosto de 2009

Poupança de memórias

Existe uma mercadologia psicológica insuspeitada, tramitando nas bolsas de nossos valores pessoais. Por esse ângulo, pede-se uma postura de investimentos diante da vida; que se faça uma poupança de todas as nossas lembranças. Desde as quais nos lembramos com prazer até as que temos desprazer em lembrar. No final das contas não somos poupados com o que fomos, mas, com o quê somos.

Logo cedo começamos a poupar umas memórias aqui, umas pequenas lembranças ali e o nosso pé de meia mnemônico vai se avolumando. Tempos difíceis podem estar por vir. E nesses momentos podemos lançar mão de nossos proventos de recordações para saldar algumas dívidas e dúvidas acumuladas pela vida. Descobrimo-nos economistas a traçar planos de estabilidade que assegurem rentabilidade de satisfação a longo prazo.

Depois de muito poupar pensando em um final de vida “feliz e tranqüilo”, nos veremos de mãos vazias diante do que nos for imposto como irrevogavelmente imposto é. Nossa memória se vê impotente diante da virada de regra do mercado das ações e reações a que tanto estávamos acostumados perdulariamente. Fechamos para balanço e o que mais balança são nossas crenças desvalorizadas e nem ao menos servindo para troco. E pensando bem (mesmo mal também) a troco do quê, não é mesmo?

Com o cofre da consciência abarrotado de vazias lembranças, nos vemos como sempre fomos: híbridos; uma junção de fortunas sem valor e valores que desafortunadamente ninguém reconheceu.

Assim, sentados perdidos em circunspecções, rigorosamente induzidos e deduzidos, volteamos às memórias como último vintém poupado na esperança de poder adquirir “vida nas recordações”. Pagamos por um bem vitalício e o que recebemos, descontadas todas as nossas pendências, mal cobre o que deixamos pendurado: o consumismo de nós mesmos.

sábado, 1 de agosto de 2009

Intercâmbio Cultural





Amigos e colaboradores do Quiosque do Pastel, atravessem a ponte da ineração e visitem
Empório do Café Literário

Entrem, fiquem a vontade e escolham um lugarzinho bem aconchegante. Fique de olho no cardápio literário e aproveite para pedir um café de sua preferencia.

A gente se vê lá!

Meu abraço!

Lu Cavichioli