No Balcão do Quiosque

sábado, 30 de maio de 2009

Perda de tempo

Dizia um amigo...
"Abri o par de janelas de par em par e parei !"
E eu divaguei...
"Fiz o mesmo e me distanciei de tudo
a olhar o horizonte e as folhas das árvores do jardim em frente...
Tudo é convidativo.
Tudo chama por mim, mas não passa de uma paisagem.
Não passa de um desejo.
Deixo-me ficar aqui atrás da janela.
Feito tonta."

Joice Worm

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Carú






Outro dia encontrei meu amigo de infância Carú.
Aliás, Wilson é o seu nome de batismo, mas a história do apelido fica para outra hora.

Eu estava visitando um cliente e consegui reconhecê-lo, trabalhando como entregador de uma fábrica de pães. Na verdade ele estava com uma pilha de engradados de pães no lombo, meio gasto pela vida. Mas eu o reconheci e esperei que terminasse o duro serviço, para só então darmos um longo abraço.

No início ele ficou meio sem graça, talvez devido ao seu humilde emprego. Mas depois relaxou e pudemos bater um bom papo. Aquela velha história de amigos de infância que se encontram depois de longa data...quem morreu, quem tá vivo... enfim, tentamos colocar os assuntos dos vivos e dos mortos em dia.

Vou dizer uma coisa, ficamos impressionados com a quantidade de finados contabilizados na prosa.

Lembramos do cão Veludo, nosso mascote de caçadas e caminhadas. Lembramos também de nosso time Flamenguinho, um marco na nossa história futebolística
...das missas de sábados e domingos...Tempo que passou rápido, mas que naquela época, parece der durado décadas.
O tempo de um menino passa numa velocidade diferente. Talvez a Teoria da Relatividade de Einstein explique.

Mas trabalho é trabalho. Por mais humilde que seja, deve ser levado a sério...e Caru estava trabalhando.

E assim continuou...
O motorista recebeu o pagamento pela mercadoria entregue por meu amigo, entrou na boleia sem dizer nada, deu a partida e arrancou com o caminhão. Carú teve de correr e pendurar-se no estribo para seguir junto...

Nossa conversa havia acabado, sem aceno ou despedida.

Mas ele estava trabalhando e assim continuou...sem mágoa.

É muito bom, conseguir ao longo da vida, ser o mesmo menino da infância.
Eu tento ser.

Marcos Santos

Tem polêmica no Quiosque




POR QUE COMPRAR UM LIVRO DE POESIAS?

Geralmente poemas nos fazem sonhar, mas será que as pessoas estão interessadas em sonhar nos tempos de hoje? Deixo a resposta vagando no ar... Mesmo porque eu seria suspeita para responder.

Estive na bienal do livro em agosto do ano passado como AUTORA de meu primeiro livro e pude acompanhar de perto vários autores que comigo dividiam o espaço no stand da editora . Ali tínhamos de tudo: livros que falavam de filosofias de vida, marketing, crônicas, poesia , contos, auto – ajuda e outros. Tinha até poesia ecológica, literalmente verde esperança em gritos de alerta. É, pessoal! Como o ser humano anda carente em toda sua agressividade – vergonha nacional vista em todo país. É só ouvir o noticiário na Tv, ou abrir meio sonolento o jornal na hora do café da manhã e constatar a face da violência estampada a sangue te olhando de frente. E é nesta carência gritante que percebi como a poesia atinge poucos corações, ( se é que atinge). Que pena!!!!!!! Vocês devem estar se perguntando se fiquei frustrada? E eu respondo que SIM!

Dividia a mesa comigo neste momento um autor que escreveu seu primeiro livro , assim como eu, só que com uma enorme diferença: EU APRESENTAVA POESIA – ELE, AUTO AJUDA. Preciso dizer quem vendeu mais? Todos os livros de poesia, marketing, contos e crônicas eram apenas manuseados, folheados a esmo. Desculpem meu desabafo, mas auto ajuda funciona? Para a maioria, já sei, já sei gente!! FUNCIONA né ?
Questão de gosto, ou crença.

Sou uma autora contemporânea. Amo poetar. Escrever contos e versar temas em crônicas, algumas bem humoradas, outras nem tanto. Mas há gosto pra tudo.
Volto a falar da carência que deixei sozinha lá em cima, lembram? Pois é... o homem pós moderno precisa de algo que explique sua própria existência(tão conturbada). Por isso os discípulos de Paulo Coelho(literatura esotérica de auto-ajuda – vide wikipedia) e afins ganham fama e dinheiro.

Esse texto é uma crítica? SIM! Afinal escritores são alvos de críticas.
Descanso neste momento no livre arbítrio da impotente/imponente(que loucura!?) ousadia de ir e vir, falar e calar.

Por Lu Cavichioli

BOM FINAL DE SEMANA A TODOS.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A hora do óbito

Olhei para os ponteiros. O menor estava junto ao dez e o maior deslizava ponteiramente para o vinte. Sabe, acho que nós e os ponteiros temos algo em comum. Ficamos girando, girando indefinidamente. Não gostamos muito quando algo nos atrasa o avanço ponteiriço com medo que acabe a corda; mas não vemos a hora que a hora continue segundo a segundo, tranquilamente sem alarmes.

O tic-tac — que não é o do meu coração — dá o tom, marca o passo e eu passo... passo a passo disfarçado de tempo antes que o tempo — sempre pontual — possa me encontrar na hora marcada. Isso não importa. O que importa é a porta, é a janela... alguma visão que seja benfazeja tão estonteante o quanto antes; pois antes, nada estonteava-me além de nausear-me a seriedade.

E o que possa existir de mais sério do que perceber que o tempo acabou? Que a hora já foi junto com o tempo. Que nada mais restou do que um relógio parado sem o pulso que um dia pulsou a cada segundo seguido de outro segundo... Esse ser amorfo, fluídico em conluio com os ponteiros de um relógio — não importando se é de marca importada ou se é falsa comprado em um camelô de qualquer esquina — esse mesmo relógio, que já teve o hábito de marcar o óbito sem atrasos... organicamente já demarcou a hora de nascimento que é a hora do esquecimento que o tempo já passou.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

EXTRA EXTRA Notícias do Quiosque



AMIGOS,

Hoje tem festa no quiosque!

Ganhamos este presente de nossa Madrinha
DENISE BC.
Estamos muito felizes com o blog que nasceu em 25/05/2009 e já faz tanto sucesso.
Em dois dias 11 adesões e mais de 100 acessos. É um record muito significativo.

Agradeço a meus colaboradores a oportunidade de fazer valer a amizade em palco virtual.
Espero e acredito que vamos longe e que este blog dará ainda muitos frutos, pois há muitos talentos para acalentar.

Mais uma vez reitero meus agradecimentos a você, Denise, pelo carinho que tem demonstrado e, prepare-se para mimar este bebê/blog, pois agora você é MADRINHA DO QUIOSQUE!

A Borboleta Branca



Eu era um menino muito interessado nas coisas da natureza, e para minha felicidade, morava em uma ilha onde a fauna era rica e privilegiada. Considerava-me um protetor da ecologia, embora eu tivesse um grave defeito: - era colecionador de espécimes raros.

Calma, não pensem que colecionava tudo que aparecia. Eu amava as borboletas, e já tinha uma infinidade delas. De todas as cores, formas e tamanhos. Eu era tão egoísta que as matava. Como poderia então julgar-me um herói ecológico?

Minha loucura era tanta, que saía ao amanhecer. Com minha rede, boné e outros apetrechos de colecionador, pois minha intenção era capturar a borboleta branca.

Ah, como era magnífica! Na ponta das asas possuía nervuras alaranjadas, e quando voava, parecia mais um pirilampo. Fui seguindo-a e conhecendo seus hábitos, descobrindo que só aparecia no entardecer, e para minha frustração, voava sobre o mar e as copas das árvores, que eram muito altas.

Uma tarde, munido de todas minhas armas , eu a seguia com os olhos, e por sorte, ela voava sobre uma araucária perto de casa.
Movido pelo ensejo e ,já com um plano em mente, peguei a escada que papai usava para consertar a antena de TV, e subi no telhado segurando o binóculo, e na outra mão a rede. Não sei como consegui equilibrar-me. Enfim estava sobre o telhado.

Feliz ela voava despreocupada. Foi quando perdi o equilíbrio e caí sentado sobre as telhas, agarrando-me na antena de TV, meu coração a saltar pela boca.

Mas quando me dei conta a borboleta branca havia voado para longe, e eu já não podia mais vê-la. Frustrado, desci a escada cabisbaixo e com lágrimas nos olhos.

Eu não desistia tão fácil assim. Pensei... pensei e resolvi me embrenhar na mata que rodeava o povoado. Assim foi.

No dia seguinte, quando o sol começava a se por, com mochila, saco de dormir e alguns víveres, sem esquecer da rede, lanterna e binóculo, saí para minha jornada mais importante. Não voltaria sem ela, já estava resolvido.

Saí primeiramente olhando para o mar, onde ela também costumava voar, e sem êxito, pus-me a caminho da mata.

Enquanto havia luz, eu olhava para cima, entre as copas das árvores, mas sempre sem sucesso. Finalmente escureceu. Eu deveria estar ficando louco... se me perdesse? Todavia era tudo ou nada.

Parei para tomar uma sopa e fazer uma fogueira, e nada de borboleta. As horas iam se arrastando e tudo ficava sempre mais escuro. Até que entrei em meu saco de dormir, e fiquei a olhar para as estrelas. De repente surge minha deusa branca. Voava mais baixo, pelo simples fato da quietude noturna. Então, bem devagar me levantei, de rede na mão, lanterna ligada – ZAPT!!!!! PEGUEI!!!!!!!!

Nossa, eu não acreditava! Delicadamente segurei suas asas e a iluminei, assim... bem de perto.

Como era linda!! Pude observar as nervuras alaranjadas, e então abri o vidro que continha um algodão embebido em álcool, e quando ia colocá-la, parei , olhando como se debatia, e todo horror que sentia presa entre meus dedos. Fiquei envergonhado e percebi que a vida era muito mais importante que minha louca mania de colecionador.

Abri os dedos e ela voou, livre!
Sabem como isto se chama?

AMOR!

Por Lu Cavichioli

Grilo verde

No lugar onde passei minha infância era comum encontrar grilos verdes pousados tranquilamente em vários locais; encontrava-os pendurados na cortina da sala, do quarto, no chão, no quintal... Mesmo que estivessem mimetizados entre folhas de limoeiro eu os pressentia. Impassíveis deixavam-se pegar pelas longas asas. Eu, pequenino, tinha com eles uma relação típica infantil: curiosidade... uma verde curiosidade. Tamanho era variado. Cheguei a encontrar alguns que não caberiam em minhas pequenas mãos. Pegava-os suavemente levando-os até próximo aos meus olhos. Suas patinhas patinavam lentamente no ar sem medo, sem receios; parecia que pressentiam minha amistosa intenção para admirar todo seu verdume. Um recíproco diálogo coordenado pelo silêncio. Colóquio seguido de catapultados saltos. A liberdade era verde.

Minha mãe dizia que encontrar um grilo era um bom sinal. Algo assim como uma esperança para bons acontecimentos. Isso me encheu de iniciática reverência pelos saltitantes amigos do bom augúrio.

Décadas passadas, infância distante, hoje não há mais grilos em meu caminho. Há um mundo cinzento lá fora carente de grilos que saltitem aos nossos olhos tão cegos de esperança; de esperança verde. Um mundo que restringiu a esperança a uma digitalizada intenção de dois sentidos. Não há como tocar a esperança apenas vê-la e ouví-la.

Restou-me grilos internos; amistosos como reminiscências saltando os dias que passam; um coração verde que trina e pulsa silenciosamente. Restou-me desprender-me e saltar livre dos dedos que, curiosos querem me fazer crer na bondade de uma curta existência por mais longa que seja.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O prazer da leitura e da Escrita




Andei por ai em rimas e versos. Conhecendo os mistérios humanos revelados nas palavras.Perdi-me em devaneios, idéias e apreços. Cai na armadilha das prosas e das crônicas, tropeçando em estilos românticos e contemporâneos.
A literatura é um comportamento viciante. Quando nos damos conta estamos visceralmente à procura dela, afoitos por nos embriagar dos vocábulos , de versos e frases que nos levam a delirar e criar fantasias em nossa imaginação.
Uma voz inteligente clama dentro da gente e a meu ver a literatura serve para acalmar os ânimos e eliminar preconceitos. Como é bom ler, exercitar-se na arte de conhecer palavras, jeitos novos de escrever e vivenciar personagens, aqueles que jamais conheceríamos, não fosse um escritor criá-lo e transportá-lo para o papel.
Ao longo de nossas leituras vamos cultuando escritores e personagens , nos deleitando com o jeito de cada um inventar usos de linguagem , reformulando, reinventando , reconstruindo emoções, sentimentos, idéias e ações.
Ser feliz é ser uma leitora assídua, participativa, avançando pelos vários mundos descritos de formas maravilhosas e a cada página organizar melhor o pensamento, interpretando cada vez mais o mundo em seus vários aspectos e significados.
É uma sensação deliciosa estar envolvida física, mental e emocionalmente com a leitura de uma obra literária, deixando que ela ocupe todos os espaços vazios, abrindo caminhos para que ela preencha as faltas. Momentos inesperados, caminhos novos, estímulos que levam a pensar, a refletir, a inconformismos.
Para aquele que lê , o mundo sai de seus aspecto físico e o leva para mundos imaginários, outras dimensões, paraísos de estórias reais e fictícias. Ler é descobrir o mundo, a si mesma e ao outro. Ler é estar em sintonia com a melodia do universo.Escrever é cantar e dançar a mesma música.

Que sabor você prefere?



Depois de ficar quase uma hora na fila de ônibus com os olhos nublados pela garoa e totalmente fustigados por um bêbado que insistia num discurso patético misturando nomes de políticos e artistas numa tentativa de mudar o mundo, ou quem sabe, aliviar sua fome, avisto ao longe a lotação, apinhada de multidões.

Hora do rush. Meu estômago torturado pela fome e fumaça fingia ser apenas mais um figurante no palco das tormentas.
No pulso o relógio avisa que estou atrasada, reviro meus olhos e tento me agarrar ou me escorar em algo para não participar do dançarino e típico chacoalhar do trajeto.

Pra ajudar começa a chover e eu me lembrei que esqueci o guarda-chuva na agência. Meus neurônios agitavam-se numa procissão frenética, pois naquela noite, ainda, eu deveria terminar minha campanha sobre lingerie, rever algumas fotos e meu contrato com a Editora La Femme.

A noite desceu sobre as ruas e eu finalmente consegui chegar ao consultório. Minha consulta era as 19hs e eu cheguei meia hora atrasada. Propagandistas e suas maletas me olhavam com desdém. Decidi então me sentar já que não havia mais nenhuma atração. Foi então que me lembrei dele! Meu fiel companheiro mágico, tradutor das mais loucas viagens que a mente humana pode fazer.
Então relaxei, sentei-me e fiz daquele momento minha particular e genuína alquimia. Abri a bolsa e de lá saiu elegante, faceiro e totalmente insubstituível: um livro! O título sugeria aventuras, amor e mistério.
Eu lia feliz enquanto o chá de cadeira era servido com direito a escolha do sabor.

Por Lu Cavichioli

O Quiosque e as relações sociais


Quiosque do Pastel é uma imagem muito expressiva, que faz lembrar-me da carrocinha de pipoca na praça central da minha cidade natal. As pessoas reuniam-se na praça para relacionar-se com os mais variados objetivos. A menina passeava na praça para encontrar as amigas e ver aquele garoto que lhe interessava ou para encontrar seu grupo de amigas. O garoto circulava pela praça, normalmente no sentido contrário ao seguido pelas meninas, o que provocava encontros premeditados a cada volta pela praça ou após a saída do cinema. As mães levavam seus filhos para passear, os pais acompanhavam seus filhos e aproveitavam para encontrar amigos. Muitas vezes havia acontecimentos como uma audição da banda de música da cidade no coreto do centro da praça ou a leitura de poemas e crônicas na sala da biblioteca junto ao coreto.

A carrocinha de pipoca, algumas vezes era transformada em posto de venda de outras guloseimas e parada obrigatória dos grupos de meninas e garotos para aprofundar a conversa com aquele ou aquela pretendente. Um pacote de pipocas oferecido poderia ser o mote para iniciar um relacionamento mais duradouro ou para provocar uma desilusão repentina e definitiva.

Em minha vida, tenho conhecido muitos quiosques, considerando-se a figura como um ponto de encontro, realizações e desilusões. Materialmente, conheci belos quiosques em cidades brasileiras e outras cidades de países por onde passei. Afetivamente, consegui transformar meros encontros na praça em duradouros relacionamentos, no que se refere à família, amizade e profissão.

Faço votos que este Quiosque do Pastel cumpra seu papel e funcione por muitos anos.

Luiz Ramos

Rio de Janeiro, 26 de maio de 2009

Foto: ramosforest©

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Crônica da Crônica



Um passarinho me contou que as linhas de uma crônica devem seguir os passos da linguagem direta e marcar presença objetiva na calçada da fama.
O tema segue livre e pode voar sobre qualquer assunto revelando as nuances bem humoradas, jocosas , maquiavélicas ou cínicas, sobretudo inteligentes - e por aí vai.
A diversidade é que dará luz ao que é real e substancioso e veremos formas e contrastes na sopa de letrinhas de cada história/estória. Propondo o real no fictício, dependendo sempre do estilo próprio dos cronistas
E VAMOS SACUDIR A POEIRA PORQUE A NET ANDA MUITO CHATA!

Por Lu Cavichioli

REFLEXOS



Quando acordamos pela manhã e vamos para o banheiro, a primeira sensação que temos ao olhar para o espelho
é um susto. O que vemos, com certeza não nos agrada. Não se engane. Olhe direito. Olhe novamente. Vai ver que o que digo é a pura verdade. Vemos um reflexo nada animador, principalmente se sua noite de sono não foi tão boa assim ou se suas contas estão todas atrasadas e você não tem como saldá-las. Percebe-se rugas de expressão, ou seriam rugas de
preocupação? Daí você torna a olhar e joga água como se quisesse limpar todas elas e ver escoar ralo abaixo. Encontra uma espinha, ou um cravo, tenta apertar, sente dor e desiste. Aposto como você se pergunta o que há do outro lado do espelho, não é? Já pensou nisso? Será que aquela imagem que te olha do outro lado é você mesmo? Há controvérsias!? Provavelmente ela será o que quisermos que seja. Há anos que você olha para este espelho, já percebeu como é que seu reflexo lhe envia mensagens? Então preste atenção. OLhe bem, pausadamente, veja as transformações escancaradas que surgem, no cabelo, na pele, no corpo...e isso ainda não é nada comparada às transformações internas, aquelas no self, no ego, no íntimo.
Já chorou em frente do espelho? Aposto que sim. Viu como as lágrimas rolam lentamente e pingam na roupa, no chão?
Assim é o tempo que passa, lento, como um conta gotas.
O que realmente vemos no espelho? Alucinações? O que há do outro lado?
Acho que outra dimensão. Uma dimensão refletida, onde não podemos entrar. Uma dimensão que guarda nossa imagem
anterior à que vemos hoje, e que nos torna impotentes diante do real.
O espelho é um grande "porta-treco" da ilusão. Lá guardamos o que fomos um dia, e que já não podemos apalpar ou sequer ver, porém, imaginar. Que bom que esse poder nos foi dado!
O espelho é uma espécie de vilão, é ele que mostra em cada trejeito , em cada ruga costurada no rosto, todo medo que temos de envelhecer e nos tornarmos um objeto esquecido, quer pela sociedade, quer pelos entes queridos. E aí vamos para a gaveta dos esquecidos e ficamos empoeirados e antigos. Nosso vocabulário há muito não é mais pronunciado, nossas idéias, todas ultrapassadas, nossa visão, agora, embaçada, precisando de lentes até para olhar no espelho. E tudo isso passa diante de você, rapidamente, todos os dias, impiedosamente.
Mas o que nos alivia é, que aprendemos e nos diplomamos, com louvor e louros, respondendo à todas as questões que a vida sabatinou. Aprendemos também que essa imagem um dia será finita, e a alma - IMORTAL!!!

Por Lu Cavichioli

A anciana - O retrato da minha vida

Hoje estou lembrando de momentos passados da minha vida... Antes, sonhava ser uma mulher plena de felicidade, e ter todos meus desejos realizados. Sempre que fechava os olhos, me imaginava numa casa que fosse quente no inverno e fresca no verão. Assim, me via olhando a praia que havería em frente à ela, a gozar da presença de amigos e parentes. Me sentia feliz.

Quem me conhece, diz que gosta de mim. Que tenho bom coração. Mas não nasci com o dom da beleza, nem com muita inteligência. Sou uma pessoa comum e peço pouco a Deus. Meus sonhos e desejos são quase todos realizáveis... Mas infelizmente não conseguí concretizar muitos.

Posso lhe contar a breve história da minha vida: Me casei com um homem que estava geralmente bêbado. Tive quinze filhos. Trabalhei toda a minha vida para eles, e não tive tempo para cuidar de mim. Não tive tempo nem vontade, pois quando já havia terminado meus trabalhos diários, já não tinha vontade nem motivo para me arranjar.

Hoje me olho no espelho e vejo os anos passados em minha aparência débil. Peitos caídos e pele cheia de rugas. Vejo meus cabelos brancos, anunciando a todos que já não sou jovem. Não tenho forças em meus braços e minhas mãos tem artrites, de tal maneira que já não são bonitas. Agora eles são tortos e cheios de veias azuis.

Mas nem tudo é mal... Um dia chegou um homem à minha aldeia. Eu estava na janela da minha casa quando ele passou com sua máquina fotográfica e parou diante de mim. Me olhou com cuidado e disse “Bom dia”. Eu lhe respondi “Bom dia, o que queres?”. Ele me dirigiu um sorriso muito largo, e me perguntou se podia tirar uma fotografia minha. Disse que estava fazendo um trabalho para uma revista e necessitava de umas fotos “raras”. Perguntei-lhe o que tinha eu de “raro” que lhe pudesse interessar, mesmo sabendo que minha aparência deveria ser verdadeiramente fora do vulgar naquele momento. Ele respondeu dizendo, que as cores da minha roupa, meus óculos antigos de aros pretos e as lentes que faziam com que meus olhos se vissem muito grandes, davam-me alguma graça. Depois indicou que o meu colar parecia que tinha sido feito por minhas próprias mãos. Agradeci-lhe (Tive vergonha de revelar que “sim”... Eu o tinha feito para mim. E me orgulhava disso).

O homem me observou de uma maneira que eu nunca havia imaginado, dizendo que eu era muito bonita, e que se ele colocasse uma faixa vermelha em meu cabelo, de maneira que ficasse igual à minha roupa e um charuto na minha boca, faría com que eu parecesse uma senhora da “alta sociedade”.

Neste momento pensei, que mesmo que fosse apenas para uma fotografia de revista, seria ao menos um de meus únicos sonhos realizados. E sem esperar mais nenhum momento, nem pedir mais explicações, posei para o artista que fotografou o retrato da minha vida.

Joice Worm

O quiosque está aceso - entre!




Assunto? Todos.

Fotos pessoais? A que você escolher.

Imagem? Aquela que melhor casar com sua crônica

Eu e meus colaboradores pretendemos fazer deste blog um canto de leitura aprazível e atual. Escrevendo para quem quiser ler.

Estréia?
A qualquer momento!

Abraços e vem pro quiosque!