No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É Natal





Ali jaz um caráter, um homem, uma pessoa.
Ali jaz um indivíduo só.
Só e abandonado como os perdigotos que escorrem de suas narinas.
Imperceptíveis e no entanto, repugnados.


Mas é Natal...
Natal dos que deixaram de ser
Natal dos que deixaram de ver
Natal dos que deixaram de crer
Natal dos que vivem para beber


Uma pena !


Mas Natal é isso...
Acima de tudo, reflexão.
Se não o fizemos ainda...
...quando o faremos?


Façamos agora?


Marcos Santos
Rio de Janeiro

foto marcos santos

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

MAyall




MAyall não fazia a mínima idéia da distância a ser vencida naquela que seria a sua mais árdua empreitada. Nunca havia passado por uma experiência tal difícil e profunda. O espaço aéreo, sua via natural tão conhecida desde algum tempo após seu nascimento, não mais lhe oferecia o aveludado infinito onde flanar alternava quedas com a liberdade de controlar sua ascensão; O estado de alerta intensificou freneticamente as batidas cardíacas. Coisa que suas auto-consideradas vítimas, ao pressentir sua presença, imaginavam muito bem. Porém as intenções de MAyall não eram outras — e nunca o foram — além de seu talento puro para a caça da única “presa” que julgava importante: o vácuo. Era tudo que MAyall precisava... mergulhar na liberdade do vácuo — ato esse inaceitável tido como a maior tolice já empreendida por quem possua asas para voar. Só que para MYall, suas asas voavam para além da imaginação.

Mas com uma asa apenas, isso ficou impossível. E justamente agora que falta tão pouco para o encontro mais esperado de sua vida. Lá no cimo, à sua espera, estão os seus iguais.
O tempo voava e ninguém passava por ali. A sede lhe dava a sensação de que o sol estivesse na sua garganta. Sabia que seus iguais esperariam até esticar o limite máximo de espera como se o tempo fosse de borracha.

A capacidade da visão turvou-se acelerada pelo suor liberado em cascata por sobre os olhos; a nuca, de base de apoio, passou a ser um peso maior que o pescoço pudesse suportar; a queda era iminente... questão de poucos minutos.

O manto da noite cumpriu fielmente seu dever; as estrelas iniciavam seu lúdico ofício de perfurar o negrume do céu com seu brilho cintilante; a brisa, essa inesperada visitante, velava os intervalos semi-longos da ofegação de MAyall. Um atabalhoado besouro Titanus, no descaso do ato, bateu-lhe a fronte cedendo-lhe graciosamente um quase nocaute técnico.

O bico não fechava mais. E a reserva de esforço, aplicava na sustentação do bico aberto para evitar que colassem... aí seria o fim.

Esmagado pelo medo, jogou-se ao solo de costas. Sua última ação inteligente, supôs. Assim fazendo, evitaria que antes do último alento, lhe fosse impedido de ter como imagem gravada, o cosmos inapelavelmente majestoso nas suas miríades propostas do infinito.

Não se auto-comiserou. Esquecendo-se, perdoou a si mesmo por tudo que fez a si próprio, morrendo primeiro a ilusão de que, o mal que aos outros fizera, foram na verdade ações internalizadas no seu âmbito. Descobriu que o reflexo mata reverberando aos poucos... e corta asas também.

Fechou os olhos mas não o olhar; o que lhe permitiu sentir o corpo elevar-se do solo. Num átimo, percebeu que tentar entender afasta o entendimento. Parou. Algo o movimentou rapidamente.

Uma voz suave o convida abrir os olhos.
Como se estivesse por detrás de um vidro embassado, os borrões semi-coloridos, se aproximavam vagarosamente.

Súbito, não havia mais solo; as estrelas borrifavam luminosidade que lhe refrescava a alma. Os iguais o seguravam alçando-o ao mais alto das alturas.

Sem a necessidade de qualquer expressão através das palavras, soltaram-no em pleno espaço onde não havia em cima e embaixo. Era tudo o que queria; era o seu mais ansiado presente tal qual uma criança anseia pelo mais desejado presente de Natal.

Flutuar na insubstância da liberdade trouxe de volta a asa que lhe faltava. E junto, a felicidade do amor dos iguais.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rivalidade

Meu amigo e cliente Rafael estava todo satisfeito. Com a camisa do Corinthians no encosto da cadeira, a toda hora virava-se e pegava a dita cuja, em seguida sacudia-a como uma bandeira desfraldada.


Banquei o besta, fingi que não havia entendido o objetivo da parvoísse e peguntei a ele:
- Ué?? virou a casaca??? Você não é mais flamenguista???
- Lógico que sou!! Isso aqui é para sacanear os vascaínos...


Tive que continuar bancando o besta:
- Deixa eu ver se entendi...Se o Felipe Massa ficar sacaneando o Fernando Alonso por este ter chegado em 4º lugar no campeonato, apesar de ele próprio ter terminado em 6º, você achará bacana?
- Seria ridículo Marcão. Respondeu ele.

-Então??? Perguntei.
-Então o que, Marcão?
- A camisa do Corinthians...Retruquei.
- Marcão, no futebol é assim. Vale a rivalidade...

- ??? Pensei.

Depois retruquei pela última vez:
- A sua rivalidade é ficar o tempo todo lembrando ao seu rival que você chegou depois dele??

Rafael fez cara de "ué", jogou a camisa do "Timão" no fundo da gaveta e ficou lá, sentado, parado, pensando na morte da bezerra...

Marcos Santos