No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Se as pessoas fossem...


 Se as pessoas fossem vento você seria a suave brisa de verão que chega refrescante, doce, numa tarde de primavera, trazendo o perfume das flores do jardim, o canto do bem-te-vi distante, pousado entre os galhos de uma pequena árvore cujas folhas titilassem ao seu passar...
Se as pessoas fossem música você seria um adágio de Albinoni ecoando sobre um terraço, numa noite de luar...
Se as pessoas fossem flores você seria um cravo encarnado cujo perfume suave pairasse no ar...
Se as pessoas fossem poemas você seria "Ausência" de Vinicius de Morais...

Algumas pessoas são vento, música, flor, poesia... Algumas pessoas são... Apenas sonho!...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Leia no Banheiro


Fiz uma pesquisa rápida no blog da Editora e sessenta e quatro pessoas responderam. É um número pequeno, levando-se em consideração a quantidade de leitores usuais do blog. Mas eu precisava de resultados da pesquisa para fazer este texto e pelo sim, pelo não, aí vai... 

Pegando esse gancho da pesquisa, faço aqui considerações gerais: Perguntei se as pessoas compravam livros de autores novos, como as pessoas costumavam comprar livros, se liam e-book, quanto investiam por mês e qual leitura preferiam.

Para minha surpresa, a maioria esmagadora respondeu que comprava livros de autores novos. Livrarias físicas, sites e portais literários empataram na compra por livros. A maioria das pessoas não lê e-book, grande parte investe mais de R$ 45,00 por mês em livros e uma pequena parcela dos entrevistados lê poesia, sendo que a maioria prefere os outros gêneros literários – entre eles livros técnicos.

Alguma novidade até aqui? Penso que não, pois boa parte das pessoas que conheço em papos sobre livros pensam dessa maneira. A diferença é que todos que conheço fazem a leitura de poesias...

Vendo o resultado dessa pesquisa rápida, creio que declararam gostar de poesia porque me conhecem e sabem que escrevo poesia. Será? Deve bater aquele constrangimento na hora que falo que escrevo poesia e pergunto se a pessoa lê algo. As respostas são sempre muito parecidas: “Leio, sim! Li mês passado um livro lindo da Clarice, vou ler semana que vem um do Mario Quintana.”

Umas das respostas mais sinceras que recebi sobre a pergunta que faço com frequência (Você lê poesia?), foi a da secretária de minha ginecologista. Ela perguntou o que era poesia... Assim na cara! Penso que quando a gente trabalha com educação não se espanta tanto com as perguntas, logo levei um livro meu de presente e ela comentou: “Ah, poesia é isso? Livro bom de ler no banheiro!” Emendei: “É mesmo!”, pois não existe nada melhor que ter leitura boa no banheiro. Quem nunca leu uma embalagem de pasta de dente? Ou o verso do shampoo por falta de leitura boa? 

Poesia é livro de banheiro, de bolsa, de cabeceira, de fila em banco, de sala de espera em médico. Por sinal, eu gostaria que as salas de espera dos médicos tivessem livros de poesias invés das revistas que nos ensinam em 100 passos a ser mais bonita ou sexy.

Sou leitora de poesias! Leio Hilda Hist, Álisson da Hora, Augusto dos Anjos, David Nobrega, Mario Quintana, Lú Cavichioli, Monica Saraiva, Camila Passatuto, Van Luchiari, Emily Dickinson, Cristiano Melo, Flávia Braun, Caroline Freitas, Florbela Espanca, Andrea Lucia Barros, Drummond e mais uma montanha de vivos e mortos, sejam eles em blogs que tenho prazer em seguir ou em livros adquiridos e que estão presentes no meu dia a dia, me presenteando com poesia de ótima qualidade!

A pesquisa mostrou, por enquanto, que poesia é lida por poucos. Talvez a poesia tenha-se reduzido à pressa, aos cento e quarenta caracteres ou mesmo a dois ou três poetas já finados.
Alguns devem achar difícil de entender... Quem sabe, por não saber que poesia carece de explicação ou entendimento. Não precisa ser doutor ou mesmo professor para ler, pode ser
entretenimento e – por quê não? –, leitura de sala de espera e de banheiro.

* Crônica escrita na revista cultural - 8 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É Muvuca? É mercado de peixe?

NÃO: É UMA PADARIA!



Não sei em outros estados, mas em S. Paulo as padarias vestiram roupa de festa oferecendo espetáculos tentadores.
HAJA REGIME!

Logo na entrada você já se depara com prateleiras de vidro exibindo tortas, bolos redondos de todos os tamanhos e também por metro (pasmem). São bolos cortados no sentido horizontal que são vendidos por kilo e você escolhe o tamanho que quiser.
Daí quando olhamos para o outro lado, vemos mini-tortas de limão, morango, côco, mousse de chocolate, uva Itália ,acompanhadas com chantili ou marshmallow. As abelhinhas dividem o espaço com os clientes num bailado adocicado.
O Buffet de café da manhã, almoço e jantar são um desbunde, sem contar o cafezinho tradicional com pão na chapa, eu não dispenso.

Os panetones passeiam pela padaria o ano todo , exibindo silhuetas imponentes na mescla doce/salgado. Recheado com doce de leite e cobertos com trufas. Para quem prefere os salgados, temos de provolone, salame, calabresa e as mais variadas coberturas te deixam babando, como por exemplo a de parmesão. É um disparate! Enquanto na bancada dos salgadinhos vemos empadas, miniquibes, bolinha de queijo, mini esfiras, bolinho de bacalhau e de carne com massa de batata, mini lanches com pãezinhos de leite recheados com catupiry e peito de peru. Rocamboles de presunto e queijo, lingüiça, escarola com tomate seco. E aí você continua meio tonto no meio de tantos quitutes que resolve virar a cabeça pra disfarçar mas encontra com a vitrine dos petit-fours doces e salgados. O tradicional pão francês que namoram as baguetes que podem ser simples a recheadas, que por sua vez fazem ciúme pras ciabattas que acabam por seduzir os clientes porque eles encontram ao lado toda sorte de patês que estão ali para degustação.

Logo vem um aroma de carne louca, daquelas bem temperadas que lembram nossas avós na beira do fogão. Aturdido o povo vai de encontro ao balcão da degustação e daí vocês podem concluir que alguém (com certeza) vai levar um pouco pra viagem.
Num espaço reservado ao fundo, vemos aquele desfile de freezers com sucos, refrigerantes, iogurtes, água de côco, água aromatizada e gaseificada . Leite de soja, massas frescas, cervejas, sorvetes , chás gelados e até saladas montadas em embalagens plásticas.

Na hora de pagar? Ciladas esperam por você : são as conveniências que brilham como pisca-pisca e que te fazem perder o controle das mãos (principalmente se alguém grita perto de você: MANHÊ EU QUERO! Estão ali, pequenos chocolates, chicletes, balinhas, trufas ,pão de mel, bem casados, pirulitos, etc etc...
Finalmente você vai embora, carregado de sacolas, carteira meio vazia ou vazia de vez, talvez salva (por hora) pelo cartão débito/crédito.
Na semana seguinte você encontra com uma balança e resolve fazer um embate com ela. Toma um susto e pensa:

_”Mas como vamos desistir dos pequenos prazeres que a vida nos oferece?” Nem pensar!








imagens google

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Espanto ante fotos antigas



Ontem depois do jantar, estávamos reunidos no quarto de minha filha, quando a propósito já nem sei do que, os meninos quiseram ver umas fotografias antigas. Abri meu laptop em meus arquivos de fotos em preto e branco e, numa determinada pasta lá estavam elas, as fotos que meu tio Antônio, em sua irreverência diria serem "do tempo do Onça".... 

Os meninos foram olhando, interessados, perguntando quem era um, quem era outro e, num determinado momento, ante a foto de uma garotinha, um espanto ao saber que aquela menininha de olhos já sonhadores era eu. 



- Você, Vó? desse tamanho?! 

- Eu mesma, Porque o espanto? Você não está pensando que fui velha a minha vida inteira, está?, respondi sorrindo.

Espanto maior nos rostinhos meio incrédulos, depois a lembrança de uma foto de meu casamento sobre a escrivaninha do meu quarto e uma nova exclamação engraçadíssima:

- Ah, já não penso mais, porque “agora” você disse e eu estou vendo as fotografias...
E, daí para a frente, foi um tal de um espanto atrás do outro, para os dois pequenos que acabaram por descobrir que esta avó já entrada em anos um dia correu pelas ruas, pulou corda, jogou amarelinha, foi a escola para aprender a ler, cresceu, teve seus sonhos e seus amores, cumpriu galhardamente seus caminhos para, finalmente chegar ao posto de matriarca (sem poder) feliz com a família que conseguiu criar.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Melhor Idade

Mal fui chegando e Argel já veio argumentando...
- Ela fica toda nervosa. Confundiu o dia do exame com o horário. Era 10:00 horas do dia 8 e ela pensou que era 8:00 horas do dia 10. Agora estou ligando para a doutora. Quero ver se ela pode atender a Amália hoje. Mas ninguém atende o telefone...

Confesso que não prestei muita atenção aos detalhes da conversa, pois acabara de chegar e sair do carro. Mas ao ver dona Amália toda arrumadinha e andando de um lado para o outro, entendi que era um compromisso marcado e que estavam atrasados.
Argel e Amália formam um querido casal octogenário de amigos que tenho. Sinto-me como se fosse da família deles.

Mas Argel continuava sua ladainha, colocando a culpa em Amália pela perda do dia da consulta médica...
- Agora não adianta ficar nervosa. Estou tentando ligar para ela...Mas que droga! Ninguém atende no consultório...

Entre idas de vindas de Amália pelos cômodos da casa, consegui ouvir uma conversa que demonstrava o quanto ambos estavam nervosos.
- Amália, desisti de ligar para o consultório, vamos tentar a sorte de irmos sem marcar mesmo. Enquanto me arrumo, por favor regue as plantas.
Amália, já arrumadinha, de pronto pegou a mangueira e partiu na direção das plantas e...
- Mas já estão molhadas, você já regou todas... Esse homem tá ficando maluco. Ainda me deixa mais nervosa.

Por último, Argel veio em minha direção, ainda abotoando as calças. Ele ainda me faria uma última queixa de Amália, antes da saída para o consultório da Doutora.
E mostrou-me a receita médica com a marcação da consulta.

- Olha só, está marcado 10:00 horas do dia 8 e não 8:00 horas do dia 10, como ela havia me dito. Ela confunde tudo. Assim fica difícil visitar a doutora...

Eu olhei aquele papel e verifiquei que ele tinha razão em afirmar que a consulta estava marcada para o dia 8 às 10:00, mas só tinha mais um problema que ele não notara e eu tive que contar-lhe.

- Argel, hoje é dia três. Vocês estão adiantados.

Ele ficou quieto por uns instantes e em seguida correu em direção à esposa.
- Amália, Amália, escuta essa, hoje é dia três...

Enfim, essa não é a melhor idade? 
Eu Adoro.


Marcos Santos

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Infância Perdida I

Caros amigos.
Aproveitando o tema, tão bem abordado por nossa amiga Dulce, estou postando um texto que escrevi há muito tempo.
Quando o fiz, fiz sob o signo da saudade e talvez, devido a ela, eu tenha tido condições de descrever tão detalhadamente momentos tão difíceis, mas que no instante da escrita não mais me feriam.
Foi com a serenidade da saudade que consegui escrever esse texto e com ela estou postando aqui.

Infância Perdida I

Quando adentrei ao laboratório senti um cheiro cortante. Não havia ali cheiro de berço, talquinho, sabonetes infantis, sequer algo que lembrasse a delicadeza de um bebê.
Mas lá estava ele, mínimo, delicado e nu, deitado sobre uma bancada de mármore branco e gasto.
O ambiente contrastava com a fragilidade daquele pequeno ser que, desnudo, mostrava em quantos pedaços tinha sido dividido e de que maneira havia sido remontado, com grossa linha de cor bege.
Seu crânio foi cortado em dois, de orelha a orelha, seu pequeno peito de cima a baixo, do pescoço ao umbigo.
Mas minha missão era vesti-lo, e assim o fiz, com todo o cuidado para não machuca-lo. As roupinhas de nenê foram colocadas e no saquinho de dormir ele foi inserido.
Sério, sisudo, mas sem demonstrar mágoa.

E foi assim que segurei e embalei meu filho André, pela primeira e derradeira vez. Sem som, sem mimo, sem cantigas de ninar.

Não sei como suportei aquele momento. Só sei que ele passou e eu fui levado por ele.
Com certeza o dia estava nublado, o Sol não poderia estar brilhando. Mas também não estava chovendo, a chuva aproxima as pessoas dentro de casa.
Eu estava só, como nunca estive em toda a minha vida. Uma solidão de não enxergar a pessoa ao lado. De dirigir o carro sem saber como chegou ao destino. De parar no sinal vermelho mesmo sem tê-lo visto. De andar ao acender do sinal verde sem sequer saber que havia parado.

É estranho a forma de conviver com a morte de um filho querido.
É estranho entender como essa convivência foi suportada.

Deve haver alguma resposta, longe dos almanaques de cabeceira.

Marcos Santos