De todas as ciências, a matemática sempre foi uma espécie de trator intelectual agindo drástica (mente) em mim. Na escola eu levava reguadas na cabeça e puxões de orelhas por causa dessa maldita e rabugenta proprietária dos números.
Nunca me dei bem com números, nem cálculos e muito menos com fórmulas, essas abobrinhas generalizadas e tão exatas que deixam qualquer um atormentado, e “desneuralizado”.
Em uma dessas madrugadas alopradas eu sonhei com esse cara aí, o Kepler e sua “física celeste”.
Lembro que era de noite e o céu estava limpo, escuro e repleto de balões desses em que a gente entra e vai dar um passeio nas estrelas. Eram muitos e dava até certo pavor olhar aquela dança metafísica e colorida.
Eu estava maravilhada com o balé e o mais assustador é que eu esticava a mão e podia tocar os balões. Muito surreal... Mas o que eu não esperava é que entre os balões existisse uma esfera luminosa, inquebrável e arrogante. Eu disse arrogante? DISSE!! Justamente porque eu não conseguia toca-la. Mas, acreditem ou não num ímpeto desastrado eu voei e fui cair justamente na Lua desgarrada entre seus filhos - os ditos balões.
Eu tinha caído aos trancos e barrancos, mas não sentia dor nenhuma porque eu voava em espírito, livre de todas as dores e males. Lá em cima, na esfera arrogante eu era branca, quase transparente.
Meus movimentos eram refinados e meus pés flutuavam e as cores dos balões passavam por mim como brisa.
Continuei deslizando feliz quando me deparei com a figura de uma mulher nua, de pele alva e cabelos cor de fogo. Ela estava sentada em uma pedra e segurava nas mãos uma caixa de prata. Aproximei-me . Ela hesitou! Eu a olhei fixamente e tive medo porque ela rodeou a pedra sumindo nas estrelas. Porém a caixa ficou sobre a pedra...
Senti a vontade imediata em abrir a caixa, mas eu me lembrei da matemática que era exata e eu inexata e desativada.
Os balões continuavam a rodear-me e a Lua surreal começou a girar rapidamente e eu vi relógios e seus ponteiros escravos andarem ao contrário e todos os números gargalhando sobre meus neurônios imbecis que só conheciam o abecedário que só sabiam formar palavras e as palavras só sabiam formar frases e as frases só aprenderam a gerar parágrafos, e então apavorada eu percebi que Kepler estaria em tudo porque tão somente era exato, definido e sem possibilidade de erros. Ele e sua mal falada filha adotiva - a matemática, já que Pitágoras cansou das cornucópias frutíferas de um pentagrama esquecido nos séculos da humanidade.
Acordei espantada , mas feliz porque Pandora desapareceu pra sempre. Ela e sua caixa que só continham males , sombras e mentiras. Contudo ficou uma dúvida:
Por que Pandora sumiu deixando a caixa pra mim?
Será que o segredo de Pandora era aquilo que Kepler chamava de razão astronômica da física, onde os males espalhar-se -iam pelo universo e os números ficariam mais acessíveis à esta pobre cabecinha - a MINHA?
Talvez...
Texto dedicado a Pitágoras, o Pai da Matemática e a Kepler, o Pensador das Estrelas.
By Lu Cavichioli
São Paulo/ julho/2012