No Balcão do Quiosque

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Último dia de 2010 - um texto surreal para sonharmos




A Profecia das Cordas Douradas
(by Lu Cavichioli)

Em noites vazias sou asas na escuridão e ponho-me a ruflar em direção oposta a meu nascimento, acreditando que sou doce ilusão! São tantos pássaros neste pilar etéreo que chego a pensar no Olimpo, onde tantas vezes sentei-me à beira de fontes ouvindo deuses e heróis na mais fantástica odisséia que já se teve notícias.

Ouso então juntar-me a eles na tentativa de algo aprender e alçar meu vôo sempre mais alto. Saber ler, já é de fato, um enorme tesouro, mas não confundam com leitura apenas onde os olhos percorrem as letras, respirando vírgulas e descansando pontos. Ler no sentido de colher interpretações, pescar pontos de interrogação e sorrir com a exclamação.
Ah, são tantas estradas a percorrer que me sinto fatigada e então me sento à beira da fonte e minha sede cresce à medida que “ouço” o tilintar das vozes, o cheiro da magia, o vapor da meditação , vez por outra encolho-me em toda minha ansiedade, descortinando o rosto, meio fio, escondido olho que tudo vê.

Percebo então carruagens habitadas por titãs, deusas , sereias e tritões ampliando a maré. E sem perceber, ouço abraços e aconchegos que chegam de outras dimensões, onde a beleza do olhar realça a liberdade do saber.

Descanso meus músculos de manequim, fecho o guarda-roupas e entro no espelho, onde as ilusões são apenas sonhos escondidos na caixinha de música dos corações.

Vejo na praça principal cordas douradas, que descem anjos e de suas bocas desfilam versos que vão sendo empilhados em serestas. Porventura serão poetas essas criaturas? Não sei, respondam se puderem. Mas uma coisa é certa, quanto mais neblina se fizer em nossa estrada, mais luzes se acenderão no fim do arco-íris, se nosso pote de ouro, colecionar amigos!

Em homenagem a todos que habitam(ou sonham )com o reino encantado da fantasia, onde nossa Excalibur é forjada todos os dias por fiéis cavaleiros da minha e da vossa “Távola Redonda”.

FELIZ 2011 para os Quiosqueiros de plantão!

Confie

Por mais nebulosos que se pareçam os seus dias...


...o Sol sempre encontrará um modo de te iluminar.


Aos amigos Quiosqueiros e Familiares desejo um Feliz 2011.


Marcos Santos
Fotos tiradas em 30/12/2010 às 05:55 hs

O ESPÍRITO MARGINAL

Andei borrifando a expressão “espiritualmente marginal” em alguns posts atrás e isso inquietou alguns dos meus amigos, especialmente o Leonel. Pensei... Isso daria uma boa conversa. Quem sabe? Tentaremos!
A bem da verdade essa denominação nada tem de muito complexa. Implica basicamente em andar à margem das religiões, não de Deus. Continuando a bem da verdade, nem sei bem qual é a minha relação com Deus. Cresci católica, fiz primeira comunhão mas cochilo nas missas, normalmente não consigo acompanhar todos aqueles cânticos e sermões das missas dos batismos, casamentos ou de sétimo dia, as quais compareço. Sempre cutuco alguém pra saber algo que o padre falou. Convivi com pessoas de outras religiões e na maioria das vezes não compreendia o que elas falavam. Ou será que não quis compreender? É possível que essa seja a verdade, me recusei a prestar atenção no que elas falavam pra me privar da responsabilidade em ser uma religiosa, seja lá qual fosse a esfera. Tem muitas regras, muitos pormenores. Um milhão de religiões tomam Deus de assalto, pintam-No com as cores que bem querem e tentam vender essa verdade esquisita. Já blasfemei um tanto pensando no Deus que muitos pregam. Parece um daqueles chefões de filmes sobre a máfia italiana, aonde o sujeito quer que lhe obedeçam pelo seu bel prazer e não por haver uma razão. Então Ele está lá, sentado em seu trono dourado com assento azul celeste, e vez ou outra decide que não quer que seus filhos façam isso ou aquilo. Posso ouvir Deus bradando:
- Não quero que trabalhem aos sábados! Mulheres não usem calça comprida - Na criação do mundo havia calça comprida?
- Padres usem saias e não se casem!
Aí um desavisado pode perguntar:
- Mas porque, Deus?
- Não questione, apenas obedeça, filho infiel!
Não consigo levar tais questões a sério, confesso. Acredito muito mais na consciência de cada um os levando a praticar o bem com o seu semelhante do que seguir um amontoado de regras que nem se sabe quem criou. Pra mim Deus está em praticar o bem, praticar de coração e almas escancarados e não puramente para conseguir uma cadeirinha cativa no céu.
Blasfemo aqui, caros amigos. Bem sei disso! Falei-lhes que sou espiritualmente marginal e agora compreendem o porquê. Jamais li a Bíblia. Me esquivo completamente a qualquer discussão acerca do que diz seus textos porque simplesmente não os conheço. Orgulho em dizer isso? De forma alguma! Mas também não me penitencio. Admiro as pessoas que conseguem se inserir numa religião e isso lhes ajuda a seguir os caminhos nem sempre fáceis. Confesso até uma invejinha dessa fé que sinceramente não sei aonde buscar em mim. Nem sei se quero buscar. Uma de minhas irmãs há um ano tornou-se evangélica convicta, seguiu a religião do marido que há tempos tentava convertê-la. E é daquelas mais radicais em se tratando da brincadeira do pode ou não pode. Foi complicado no início, estranhamos essa mudança, mas aprendemos a respeitar simplesmente porque era o que ela queria. E se houver o tal batismo, estarei lá lhe dando toda a força, mesmo sem entender patavinas. Por que acho mesmo possível que as pessoas convivam apesar de suas diferenças. Por que foge a minha total compreensão saber que pessoas se matam em nome de Deus!!! Tudo bem que é uma questão histórica, milenar... Mas elas ainda se matam e vão continuar se matando e justificam tais atos absurdos, cada lado achando que o Deus verdadeiro é o seu, que o lugar sagrado é seu por direito, enfim. Por que não decidem num par ou ímpar e a parte derrotada começaria em outro lugar, e o fariam sagrado, pregando o amor?
Claro que estou brincando com um assunto muito sério. Sim! Infantil e tola essa minha observação, eu sei! Infantil e tolas são todas as minhas observações sobre religião e o que as pessoas fazem em nome dela. Prefiro mesmo continuar à margem, porque certas coisas nem se eu vivesse mil anos compreenderia.
É bem possível que, se o Deus que me pregam for aquele que castiga, aquele bravo que não admite desobediência feito um pai severo, estou fritinha no fogo do inferno, por ter falado tanta asneira acerca de um assunto que pra mim é um mistério infindável, ainda que não tenha dado um passo sequer afim de desvendá-lo.
Mas se eu tiver alguma razão no retrato que pintei de Deus aqui no meu imaginário, acho que Ele até dará um sorrisinho espontâneo e dirá:
- Essa menina rosada é doida, mas é boa gente... É das minhas! Cancelem imediatamente o ingresso dela lá embaixo!
- Aí, Senhor! Valeu mesmo, heim? 

Por: Milene Lima

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Clube


5- HMHMHMHMHMHMHMHM HMHMHMHMHMHMHMHM
4-  H M H M H M H M H M H M H M H M
3-   H   M   H   M   H   M   H   M
2-     H       M       H       M
1-         H               M
                 VOCÊ


   Esta é sua árvore genealógica nas últimas cinco gerações, desde os seus tetravós, a não ser que você tenha brotado de uma couve ou seja uma ovelha chamada Dolly.
   São uns 150 anos, contando sua idade. Seus ancestrais somam, nessas gerações:

1+2+4+8+16= 31 Homens e 31 Mulheres.

   Note que, se qualquer uma dessas 62 pessoas não tivesse tido filhos, você não existiria. Mas qual é a probabilidade de você existir?
   Vamos raciocinar: se seu pai e sua mãe tivessem, cada um, 50% de probabilidade de gerar um filho durante toda a vida, você teria 25% de chance de existir. Das quatro combinações possíveis, somente uma nos brindaria com sua presença neste mundo:

Mãe apta?    Pai apto?    Filho nasce?
   Não            Não               Não
   Não            Sim               Não
   Sim            Não               Não
   Sim            Sim               Sim

   Fica claro que a probabilidade do filho é igual à probabilidade do pai vezes a probabilidade da mãe. Em outras palavras, 50% x 50% , que dá 0,5 x 0,5 = 0,25, ou 25%, ou 0,5 à segunda potência. Resumindo: 1/4.
   No seu caso, vamos considerar que a aptidão dos seus ancestrais para gerar vários filhos tenha sido de 100%. Êita família bem dotada! Só que para exercer esse dom, cada um deles teve que sobreviver em um mundo onde grassavam guerras e epidemias, e a mortalidade infantil era absurdamente alta. Muitas pessoas não chegavam à idade de procriar, e mesmo entre os que lá chegavam havia quem não quisesse ou não pudesse gerar filhos.
   Mas sejamos generosos e digamos que 99% atingissem essa idade e efetivamente deixassem herdeiros. Então, qual é a chance de que 62 pessoas chegassem a ter pelo menos um filho cada uma?
   O cálculo é fácil: 0,99 elevado à 62ª. potência... o que dá 0,54, ou 54%. Parece que você escapou por pouco...
   Se retrocedermos só mais uma geração, suas chances diminuem para 28%. Depois, 7,8%, 0,50% - e assim vai. Melhor parar por aqui...
   É claro que esse cálculo aproximado serve para todos nós. Somos todos sobreviventes, escolhidos, ganhadores.

   Bem-vindo ao clube dos premiados. 

    (Por Rodolfo Barcellos - baseado numa passagem do livro "O Mundo de Sofia", de Jostein Gaard).
   Esta postagem é uma transcrição revisada da original, de mesmo título, publicada em 02/03/2010 no "Sete Ramos de Oliveira". 

   Aos amigos do "Quiosque", agradeço o honroso convite para participar destas páginas e desejo um 2011, com muita paz, amor e realizações.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Chamada Geral




Final de ano, tudo fechando pra balanço... Mas o Quiosque não! É isso mesmo, gente.
O Quiosque do Pastel está repaginado e pretende reabrir suas portas em breve contando com mais colaboradores e muitas novidades.

As luzes foram acesas e sempre tem gente no balcão, então mãos a obra.
Não sei onde andam meus colaboradores. Alguns bateram em retirada e deixaram suas salas abandonadas. Outros continuam passando por aqui, mas ficam anônimos e nos deixam a procurar rostos. Eu mesma tirei umas longas férias e deixei nossa casa nas mãos de meu administrador e amigo Marcos Santos o qual cuidou muito bem de nosso Quiosque.

O espaço continua aberto para postagens.

Assunto? Todos.

Fotos pessoais? A que você escolher.

Imagem? Aquela que melhor casar com sua crônica.

Escrevemos para quem quiser ler.

Reestréia?
A qualquer momento!

Abraços e vem pro quiosque!

Lu C.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esta Casa de Crônicas deseja...




... A meus colaboradores, amigos e seguidores - BOAS FESTAS e um 2011 de mais reflexões sobre o AMOR, a PAZ, a UNIÃO, o RESPEITO AO SEMELHANTE, o PARA COM O PLANETA e que possamos lembrar que há de se cuidar do CORPO E DO ESPÍRITO.

Até breve e um GRANDE ABRAÇO FRATERNAL da amiga

LU CAVICHIOLI

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Adolescência quântica

Hermes remoia a frase em sua mente que acabara de ler: “o homem é a prova concreta da falência da sua condição imortal”. Seus 14 anos era como um pires para se cortar uma melancia inteira. Maturidade que sufocava; faltava-lhe cotas extras de oxigênio perceptivo para os largos pulmões de sua consciência.

Em uma tarde chuvosa (sempre admirou a beleza das tardes chuvosas; dizia que o tempo instável e bravio despertava-lhe com voracidade o espírito inquiridor), Hermes, sentado à varanda de sua casa, olhando para os pingos de chuva que forçavam as folhas a se movimentarem bailadamente, teve uma idéia; uma idéia não, teve uma revolução mental provocada pelo espírito criativo:

“Não quero fazer 15 anos de idade; quero passar dos 14 para os 28”.
“Quem inventou a adolescência deve ter um senso de humor idêntico a de uma sardinha” — pensou.

É a mais tola das fases humana. Não me sinto criança e nem sou adulto; sou essa coisa indefinida que chamam de adolescente. Vou fechar meus olhos e em 5 segundos ao abri-los serei 14 anos mais velho. Serei um adulto. Serei como me sinto realmente. Um homem adulto.
Após um piscar de olhos, uma tartaruga olhava preguiçosamente para seus pés descalços. Agachou-se, pegou o insigne quelônio, afagou-o desajeitadamente devolvendo-o em seguida ao piso frio de sua varanda.

Não se lembrava de ter um bicho desses. Acompanhou com os olhos o lento movimento daquele animal que deveria medir uns 25cm de casco. Pensou: que vida mais estúpida! Com essa lentidão não sei como consegue procriar. Toca o telefone... levanta para atender. Uma voz rápida pede que esteja no escritório em 15 minutos em caráter urgente. Mas nem terminei o meu almoço. Levanta para pegar a chave do carro, toca o celular: “ alô amor, você pode passar na academia para pegar o Edu, estou indo com a Ciça no shopping; Ah, não esquece de trazer o laptop que já está pronto na assistência. Devo chegar tarde. Tem pizza semi-pronta. Tchau.”

Abriu a porta e se depara com uma pilha de cartas. Multa da Beth; aviso de corte de crédito e mais 9 envelopes todos eles contas próximas do vencimento.

No escritório o ambiente mais parecia uma sala de guerra em Bagdá do que uma atmosfera de trabalho. “Hermes, o chefe tá uma arara esfomeada com você”.

— Hermes, ontem recebi o nosso maior cliente para apresentar o projeto de lançamento e onde estava o senhor? Perdendo tempo com o estabanado do Galvão. Já disse que é a mim que você tem que se reportar. Chega né!

Vou precisar da revisão para amanhã às 8.

— Mas isso deve levar umas 5, 6 horas de trabalho direto...

A noite é uma criança. Peça pizza pra você e a Cleusa. Quero os dois nisso.

O cérebro de Hermes estava começando a entrar em ebulição.
Olhou pela janela e percebeu o quanto o mundo lá fora regurgitava de vida apressada, acesa tanto quanto os faróis dos carros engarrafando-se nos cérebros intransitáveis devido ao excesso de vazios acumulados.
Lembrou da tartaruga, esse representante exclusivo da paciência milenar e percebeu que sua aparente calma zen na verdade era o resultado do fardo acumulado por uma vida endurecida no casco de tantas regras e desregras.

Cada vida vivida, cada vida morrida acrescia uma nódoa de cristalização arquivadas burocraticamente no porão do sem sentido.
Olhou para o relógio... faltavam 15 segundos para 15 anos. Respirou fundo — pela primeira vez — sentindo um sentimento que talvez nunca percebera que o acompanhava segundo a segundo; podia pegar a lua com a mão, de olhos fechados; voar com a imaginação para outras galáxias; vencer 500 Golias com a força de um colibri; saudar o sol que arde dentro do coração e... dormir com a alma abençoada pelo rastilho de pólvora ainda umedecido pelo orvalho das muitas portas que a consciência pode abrir para esse parente de primeiro grau da eternidade.