Quem me conhece, diz que gosta de mim. Que tenho bom coração. Mas não nasci com o dom da beleza, nem com muita inteligência. Sou uma pessoa comum e peço pouco a Deus. Meus sonhos e desejos são quase todos realizáveis... Mas infelizmente não conseguí concretizar muitos.
Posso lhe contar a breve história da minha vida: Me casei com um homem que estava geralmente bêbado. Tive quinze filhos. Trabalhei toda a minha vida para eles, e não tive tempo para cuidar de mim. Não tive tempo nem vontade, pois quando já havia terminado meus trabalhos diários, já não tinha vontade nem motivo para me arranjar.
Hoje me olho no espelho e vejo os anos passados em minha aparência débil. Peitos caídos e pele cheia de rugas. Vejo meus cabelos brancos, anunciando a todos que já não sou jovem. Não tenho forças em meus braços e minhas mãos tem artrites, de tal maneira que já não são bonitas. Agora eles são tortos e cheios de veias azuis.
Mas nem tudo é mal... Um dia chegou um homem à minha aldeia. Eu estava na janela da minha casa quando ele passou com sua máquina fotográfica e parou diante de mim. Me olhou com cuidado e disse “Bom dia”. Eu lhe respondi “Bom dia, o que queres?”. Ele me dirigiu um sorriso muito largo, e me perguntou se podia tirar uma fotografia minha. Disse que estava fazendo um trabalho para uma revista e necessitava de umas fotos “raras”. Perguntei-lhe o que tinha eu de “raro” que lhe pudesse interessar, mesmo sabendo que minha aparência deveria ser verdadeiramente fora do vulgar naquele momento. Ele respondeu dizendo, que as cores da minha roupa, meus óculos antigos de aros pretos e as lentes que faziam com que meus olhos se vissem muito grandes, davam-me alguma graça. Depois indicou que o meu colar parecia que tinha sido feito por minhas próprias mãos. Agradeci-lhe (Tive vergonha de revelar que “sim”... Eu o tinha feito para mim. E me orgulhava disso).
O homem me observou de uma maneira que eu nunca havia imaginado, dizendo que eu era muito bonita, e que se ele colocasse uma faixa vermelha em meu cabelo, de maneira que ficasse igual à minha roupa e um charuto na minha boca, faría com que eu parecesse uma senhora da “alta sociedade”.
Neste momento pensei, que mesmo que fosse apenas para uma fotografia de revista, seria ao menos um de meus únicos sonhos realizados. E sem esperar mais nenhum momento, nem pedir mais explicações, posei para o artista que fotografou o retrato da minha vida.
Joice Worm
5 comentários:
Genial, Joice! Um post digno de estréia!
Bela crônica.
Mais vale tentar que não se aventurar para uma fotografia.
Abraços
Luiz Ramos
Obrigada pela colaboração magnífica.
Adorei a estréia.
Este Blog está me deixando cheia de vontades de voltar às leituras de textos inéditos. Estou adorando participar!
Que legal,Joice! e não sabes que num lugar onde escrevo, minha identificação é uma joaninha. Mas um dia, pra brincar com todos que queriam me conhecer, fiz uma história e coloquei exatamente essa foto.Pode? Precisavas ver as reações,rsrssr!Parabéns pela linda crônica!beijos,chica
Postar um comentário