Andei borrifando a expressão “espiritualmente marginal” em alguns posts atrás e isso inquietou alguns dos meus amigos, especialmente o Leonel. Pensei... Isso daria uma boa conversa. Quem sabe? Tentaremos!
A bem da verdade essa denominação nada tem de muito complexa. Implica basicamente em andar à margem das religiões, não de Deus. Continuando a bem da verdade, nem sei bem qual é a minha relação com Deus. Cresci católica, fiz primeira comunhão mas cochilo nas missas, normalmente não consigo acompanhar todos aqueles cânticos e sermões das missas dos batismos, casamentos ou de sétimo dia, as quais compareço. Sempre cutuco alguém pra saber algo que o padre falou. Convivi com pessoas de outras religiões e na maioria das vezes não compreendia o que elas falavam. Ou será que não quis compreender? É possível que essa seja a verdade, me recusei a prestar atenção no que elas falavam pra me privar da responsabilidade em ser uma religiosa, seja lá qual fosse a esfera. Tem muitas regras, muitos pormenores. Um milhão de religiões tomam Deus de assalto, pintam-No com as cores que bem querem e tentam vender essa verdade esquisita. Já blasfemei um tanto pensando no Deus que muitos pregam. Parece um daqueles chefões de filmes sobre a máfia italiana, aonde o sujeito quer que lhe obedeçam pelo seu bel prazer e não por haver uma razão. Então Ele está lá, sentado em seu trono dourado com assento azul celeste, e vez ou outra decide que não quer que seus filhos façam isso ou aquilo. Posso ouvir Deus bradando:
- Não quero que trabalhem aos sábados! Mulheres não usem calça comprida - Na criação do mundo havia calça comprida?
- Padres usem saias e não se casem!
Aí um desavisado pode perguntar:
- Mas porque, Deus?
- Não questione, apenas obedeça, filho infiel!
Não consigo levar tais questões a sério, confesso. Acredito muito mais na consciência de cada um os levando a praticar o bem com o seu semelhante do que seguir um amontoado de regras que nem se sabe quem criou. Pra mim Deus está em praticar o bem, praticar de coração e almas escancarados e não puramente para conseguir uma cadeirinha cativa no céu.
Blasfemo aqui, caros amigos. Bem sei disso! Falei-lhes que sou espiritualmente marginal e agora compreendem o porquê. Jamais li a Bíblia. Me esquivo completamente a qualquer discussão acerca do que diz seus textos porque simplesmente não os conheço. Orgulho em dizer isso? De forma alguma! Mas também não me penitencio. Admiro as pessoas que conseguem se inserir numa religião e isso lhes ajuda a seguir os caminhos nem sempre fáceis. Confesso até uma invejinha dessa fé que sinceramente não sei aonde buscar em mim. Nem sei se quero buscar. Uma de minhas irmãs há um ano tornou-se evangélica convicta, seguiu a religião do marido que há tempos tentava convertê-la. E é daquelas mais radicais em se tratando da brincadeira do pode ou não pode. Foi complicado no início, estranhamos essa mudança, mas aprendemos a respeitar simplesmente porque era o que ela queria. E se houver o tal batismo, estarei lá lhe dando toda a força, mesmo sem entender patavinas. Por que acho mesmo possível que as pessoas convivam apesar de suas diferenças. Por que foge a minha total compreensão saber que pessoas se matam em nome de Deus!!! Tudo bem que é uma questão histórica, milenar... Mas elas ainda se matam e vão continuar se matando e justificam tais atos absurdos, cada lado achando que o Deus verdadeiro é o seu, que o lugar sagrado é seu por direito, enfim. Por que não decidem num par ou ímpar e a parte derrotada começaria em outro lugar, e o fariam sagrado, pregando o amor?
Claro que estou brincando com um assunto muito sério. Sim! Infantil e tola essa minha observação, eu sei! Infantil e tolas são todas as minhas observações sobre religião e o que as pessoas fazem em nome dela. Prefiro mesmo continuar à margem, porque certas coisas nem se eu vivesse mil anos compreenderia.
É bem possível que, se o Deus que me pregam for aquele que castiga, aquele bravo que não admite desobediência feito um pai severo, estou fritinha no fogo do inferno, por ter falado tanta asneira acerca de um assunto que pra mim é um mistério infindável, ainda que não tenha dado um passo sequer afim de desvendá-lo.
Mas se eu tiver alguma razão no retrato que pintei de Deus aqui no meu imaginário, acho que Ele até dará um sorrisinho espontâneo e dirá:
- Essa menina rosada é doida, mas é boa gente... É das minhas! Cancelem imediatamente o ingresso dela lá embaixo!
- Aí, Senhor! Valeu mesmo, heim?
Por: Milene Lima
10 comentários:
Tô falando, Rosadinha!
Tu escreve tri bem, tô te dizendo... Tua escrita é perfeccionista, irretocável! E concordo contigo, religião não se discute, senão dá guerra!
Um abraço! Feliz Ano Novo!
Bah, Lu...
Já ia me esquecendo. Não sei o que tu queria dizer com bater o martelo, mas seja como for está batido! Estou ao teu dispor. Amo muito tudo isso.
Um abraço! Feliz Ano Novo!
kkkkkkk Oi Léo, bater o martelo é uma expressão que quer dizer: fechado, vamos nessa, está decidido, sacou? É isso menino. Te envio o convite logo mais.
Ahhh estou adorando ver meu Quiosque dando frutos novamente.
bjão Léo!
Lu
Oi Mi, bom dia! Seu texto de estréia deixou-me de olhos arregalados, mas tudo bem! hehehe...
O tema é polêmico e isso aqui no Quiosque é faísca e pega fogo total. Creio que o pessoal vai comentar e deixar opiniões. Mas como disse o Léo, Fé é desses assuntos que não se discute, porém sempre há uma boa diversidade com respeito para se falar neste assunto.
Parabéns pela estréia, você chegou com tudo, menina!
super beijaço da Lu
- Milene, você conhece perfeitamente minha posição neste assunto... lembra do "bate-papo"? Pois é, tá na lista de recheios de pastel. Mas tenho que reafirmar: prêmios não valorizam textos - é justamente o inverso. Obrigado por valorizar (mais uma vez) o Certificado do "Sete Ramos"; o "blog" é outro, mas a fonte é a mesma. Parabéns.
☻ + ☺ = ♥
Deussssskiajude
Tatto
Ôi, Mileninha, te achei aqui também!
Estes assuntos teológicos são polêmicos, e eu costumo evita-los, pois as minhas opiniões podem ser incômodas para algumas pessoas.
Você diz nunca ter lido a biblia.
Pois bem!
Eu fui alfabetizado numa escola paroquial, onde religião valia até nota! Já adulto, li bastante a bíblia e até partes retiradas dela pelo Vaticano, os chamados livros apócrifos (proscritos).
E no entanto, algumas opiniões que você expôs são bem parecidas com as minhas, sobre este Deus-patriarca, que interfere em detalhes do comportamento humano, castiga e ajuda, é acometido de ira e costumava exigir sacrifícios de animais e até ensaiou pedir um sacrifício humano, especificamente Isaac, o filho do pobre Jacó, só para testar sua fé!
Se ele é mesmo tão poderoso e omnisciente, como pode ter dúvidas assim? Contradições...
Complementando meu comentário anterior:
Agora compreendi que você se diz "espiritualmente marginal" por se considerar fora destas questões de fé!
Talvez fosse melhor dizer "teologicamente marginal", pois acho que do verdadeiro espírito você não está à margem, como mostram suas palavras quando estão a expressar sentimentos.
Eu vejo como domínio do espírito as coisas que não são materiais.
Mas, valeu a explicação!
Como sempre, você nunca deixa coisas atravessadas na garganta ou mal resolvidas!
Gostei de sua estreia cá no Quiosque, Milene. Parecemo-nos bastante quanto à visão sobre certos assuntos pra lá de polêmicos. Um deles, o referido no presente post.
Valeu, feliz 2011.
Na verdade as religiões tomam de assalto a Divindade e fazem coisas diabólicas conosco.
Muito pertinente o seu texto.
Bjs.
Postar um comentário