Em meio a uma quantidade enorme de mortes por dengue, um número assusta: O da dengue não diagnosticada. Todos os dias vemos relatos de pessoas queixando-se de diagnóstico errado. Um doente com dengue está sempre correndo o risco de ter sua doença diagnosticada como virose, garganta inflamada, gripe...enfim. Mas nossos valorosos médicos tem algo mais importante com o que se preocupar.
Em 120 dias, entra em vigor na cidade de Belo Horizonte, a lei que proíbe o uso indiscriminado de jalecos fora do ambiente de trabalho. Os médicos estão pulando e contestando contra essa "polêmica" lei. Coloquei o "polêmica" entre aspas por entender, tanto quanto os médicos, tratar-se de uma lei desnecessária. Embora não seja pelo mesmo motivo dos "doutos".
Tenho um filho que passou boa parte de seu primeiro ano de vida dentro de uma UTI. Nesse período observei alguns dados interessantes a respeito do comportamento dos médicos (lamento amigos, se estou generalizando, pois minha experiência foi obtida através de amostragem in-loco). Deixem-me começar:
O estudante de medicina normalmente entra nessa carreira para seguir os passos do pai, ou da mãe, médicos realizados (com poucas exceções). Assim tem ocorrido ao longo do último século e entrando no século atual. Nesse período, uma parte fundamental do trabalho médico foi ficando para segundo plano. O ser humano.
De um modo geral, médicos não gostam de lidar com gente. Eles não tem paciência com os simples mortais. Essa impaciência pode ser facilmente relatada por tantas pessoas quantas forem pesquisadas. Todas, mas todas as pessoas que conheço tem alguma reclamação quanto ao descaso recebido de algum doutor.
Geralmente os jovens estudantes de medicina levam em consideração o status social que a carreira oferece.
Um dos maiores símbolos desse status, quase como um outdoor piscante, é o jaleco. Médicos adoram desfilar com suas camisolinhas bem branquinhas.
Na hora do almoço gostam de andar em bandos, como pombos. Eu costumo dizer que pombos são ratos com asas, tamanha é a quantidade de doenças que transmitem. Esses jalecos, embora representem a nobreza empafiosa da profissão, carregam consigo toda a "acepcia" do asfalto e dos ralos, todo o pó que cai dos bandos voadores, diurnos como os pardais ou noturnos como os morcegos.
Mas convenhamos, quem está atrás de status social nunca estará interessado na pereba do João Ninguém da Esquina.
Imagine aquele estudante orgulhoso de suas relações sociais, tratando do bicho-de-pé infeccionado de um pobre coitado. Consegue imaginar? Nem eu. Se o fizerem tenham certeza que o fazem com nojo.
De repente se vier uma gatinha com o tornozelo torcido eles até se animem, desde que não complique demais.
Mas o importante na profissão de médico é ser chamado de doutor. Alguns até investem na profissão. Tornam-se mestres, doutores de mestres, PHD's... Mas normalmente esses cursos e especializações fazem parte de um pré-requisito para uma promoção na carreira, culminando com uma melhor aposentadoria, principalmente se for no setor público. Eu não vejo nada demais em querer melhorar de vida, mas o problema é que nesses casos, normalmente quem está do outro lado dessa linha, nas filas dos hospitais e postos de saúde, não entra nessa conta de chegada. Essas pessoas são a parte ruim da história. A parte azeda do bolo. Aquele cravo chato que habita sob a sola de nossos pés.
Pois é...e a dengue está matando por falta de paciência em prevenir o diagnóstico. Afinal, como já diz o nome, dengue vem de dengo. O paciente fica dengoso, manhoso. Se os médicos não tem saco para aturar pobre, imagine aturar pobre dengoso.
Mas deixa prá lá. Contanto que a classe médica continue desfilando seus lindos e resplandecentes jalecos por todos os cantos das cidades, a dengue é o que menos importa.
Porque eu considero a lei do jaleco desnecessária? Se eles fossem realmente Médicos, deixariam seus uniformes num lugar adequado e limpo. Uma boa maneira de proteger seus pacientes e a si próprios, independentemente de leis.
Rio de Janeiro
3 comentários:
- Trombonada altissonante, afinada e afiada, Marcos. E embora existam honrosas exceções (conheci pessoalmente três), a generalização é válida no contexto colocado. Parabéns.
Eu acredito que realmente, na nossa cultura, o jaleco seja símbolo de "status", embora eu conheça médicos que não o usem desta forma.
Temos que lembrar que uma das maiores fontes de contágio são os próprios hospitais, e que esta via do jaleco tem mão dupla: tanto entram como saem germes dos hospitais para nos contaminar aqui fora.
Para mim, o problema da epidemia vem mais da falta de consciência da população, que não faz a sua parte nem deixa que os fiscais o façam.
Mas, no caso dos diagnósticos, infelizmente tenho que concordar com a sua visão sobre o relacionamento médico-paciente!
Valeu a bronca!
Foste perfeito, Marcos. Frequento em Maceió o Hospital Universitário e os moços de jaleco se comportam assim como descreveu, andando em bandos, senhores de si, fazendo invisíveis todo o resto. Nos hospitais em minha cidade não é diferente dos demais Brasil afora. Os caras simplesmente não levantam a cabeça pra sequer olhar o paciente, quando de visitas de urgências em hospitais. Tem gente que mesmo passando muito mal se recusa a ir, porque sabe que o diagnóstico... veredicto... é sempre a famigerada injeção de buscopan e diclofenaco, seja lá qual for o problema clínico.
Por outro lado, devo testemunhar sobre as raríssimas exceções. No posto de saúde do bairro, na esquina de minha casa, duas médicas se disfarçam de anjos ou vice-versa. São de uma humaninade muito pouco comum em que homens que lidam com vida a tratam com imenso desdém. Elas se doam, tratam os pacientes feito gente. Fomos abençoados, sei que fomos.
Beijos.
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