Sou a parte menos conhecida de mim mesmo. As outras partes complementam o mistério do não saber o que sou (não “quem sou”).
Deram-me um nome após o nascimento. É a única coisa que sobrevive após a morte. No contexto de saber-se o que se é, muito atrapalha ser alguém. Pois acreditamos ser o que dizem que nós somos. Somos uma imagem pintada em uma tela social para agradar — ou desagradar, tanto faz— aos olhos de quem nos vê, inclusive nós mesmos. Desnudar o que está revestido por camadas de condições psico-sociais, é uma ação a nós, totalmente desconhecida. Não sabemos como fazer isso. Pois se o soubéssemos, não seríamos o que somos ou deixaríamos de sê-lo instantaneamente e aquilo que É real, num rompante do mais visceral silêncio, estilhaçaria nossa redoma de vidro na qual pretensiosamente chamamos de meu mundo, com a facilidade de um efeito especial cinematográfico revelando algo que, na verdade, nunca esteve preso, nunca nem ao menos chegou a ser algo.
Se não podemos expressar o que seja esse algo, esse silêncio tatuado na alma, ao menos a linguagem musical — tal qual um Claire de Lune — intenta evocá-lo no anestésica impulso de colher uma impressão relampejante de sua realidade.
É disso que estou de dizendo. Disso que não é.
Um comentário:
A música tem a capacidade de estimular áreas do cérebro que ninguém penetra, a não ser ela mesma. A música que sai da boca de um gago, sai límpida, lisa, fluida. Talvez por isso, e por ela, sejamos o que somos.
Postar um comentário