Me acuda Bob Marley! Prenderam três moços fumando o cigarro da paz e uma multidão de outros moços armaram um furdunço revoltativo. Eles não querem a polícia por lá. Querem viver livres no campus da universidade sem a insensibilidade gritante dos homens fardados.
Mas Bob, aqui no Brasil é diferente da sua terra. Dizem que as folhinhas são do bem, mas lei é lei, né? Os moços não quiseram saber de papo e invadiram, entoaram gritos de guerra, cerraram os punhos... Ficaram lá acampados por dias e de vez em quando um deles surgia pra listar as exigências. Eu não compreendi porque alguns encobriram o rosto com um lenço, feito aqueles bandidos dos filmes de faroeste. Eram apenas estudantes inofensivos querendo fumar um baseadinho... Por que a fantasia?
Talvez tenha sido pela importância da causa, né? Penso que num país tão tranquilo feito o nosso, sem problema de espécie alguma, erguer a bandeira da maconha seja uma coisa bacaninha a se fazer. Ideologia, eu quero uma pra fumar!
Eu bem sei que se você pudesse falaria com todos eles e diria que a sua praia era a paz e o amor. Esse era o lema. E você lhes contaria sobre o passado desse país, num tempo em que os estudantes tinham mesmo pelo que protestar e lutar. Foram tempos difíceis aqueles, você lá na Jamaica deve ter ouvido falar... Mas esses moços, tadinhos, certamente não tem a menor ideia do que seja de fato repressão policial e tudo o que o valha.
Você não deve ter tido muito apreço por essa classe, a dos moços de farda, eu suponho. Nem eu. Eles são truculentos até a décima potência, mas infelizmente no curso de formação da polícia militar não se dá muita ênfase às abordagens amorosas da polícia para com a população. O jeito é falar “não senhor, sim senhor” e pronto. Chamarei um clichê para me socorrer: ruim com eles, pior sem eles... Sabia que por aqui as pessoas se surpreendem quando um policial dá provas de honestidade? É, menino rasta! Aconteceu esses dias. Um deles recusou um agradinho de um milhão de reais para fingir não ter visto um bandidão e virou notícia de jornal. Amaste o Brasil como eu amo, Rei do Reggae?
Mas voltando aos revoltosos com causa embaçada, eles quebraram tudo por lá, Bob. E ficaram chateados porque tinha praticamente um batalhão contra setenta inofensivos jovens filosóficos e literatos. O bacaninha é não ter havido nada de tão sério assim. Eles saíram tranquilamente da sala da reitoria, sede provisória do movimento (?) e foram gentilmente presos. Depois de pagarem uma fiança coletiva, foram todos pra suas casas abraçar papai e mamãe. Eu os imagino chegando em casa e as mamães em lágrimas acolhendo os filhotes, conferindo pra ver se não lhes arrancaram nenhum pedaço, enquanto os papais os observam um tanto sisudos. Umas palmadas no bumbum e um castigo do tipo “vai-ficar-uma-semana-sem-baseado” cairia bem.
Se você descobrir quem vai pagar o estrago por lá, me avisa, tá?
Agora vamos ouvir você... Essa sim é uma viagem prazerosa.
Por Milene Lima
5 comentários:
Claro que o estrago nas salas que eles ocuparam será pago com o dinheiro dos contribuintes, realmente um belo futuro pro país, pessoas que preferem um cigarro de maconha do que a segurança.
Os dois lados estão errados - a polícia com a truculência exagerada e sem motivo, e a rapaziada com seu desafio vazio de conteúdo. Nota zero para ambos.
(E para a reitoria também. Cadê o diálogo?)
Beijos.
Eu digo e vejo a todo momento que nasci num mundo e estou vivendo em outro? Que planeta será este?
Crônica impecável Mi, estilizando pecados e doenças incuráveis neste FEBEAPA!
A sala Relicário está sendo preparada pra ti aqui no Quiosque. Aguarde.
bacios da Li, lindeza mia.
Li umas "trocentas" vezes esta postagem.... CLAP CLAP, CLAP, CLAP, CLAP.. de pé... sem comentários e nem precisa!!!!
Um beijo no coração meu querido amigo, nem sempre consigo uma boa leitura por minhas andanças nas ondas... dormirei bem :))
Causas nobres eles até teriam...se fossem nobres para persegui-las. Mas preferiram essa causa embaçada. No Chile o pau canta por um ensino de qualidade, aqui o movimento é pela liberdade da baforada.
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