Do chuveiro ao
ralo. Enunciado do espaço-tempo. Do Bigbang ao buraco negro (E vice
versa)
Escrever é acima de
tudo um ato de inspiração. O segredo para que um texto exista
começa com a inspiração. Por vezes a inspiração surge durante o
banho, desce pelo ralo e você não a aproveita. Em outras ocasiões
você sai do banho, senta-se na escrivaninha e a escreve.
Foi observando a água
que cai do chuveiro, molha meu corpo, desce até o piso e finalmente
escorre para o ralo, que fiz esta analogia.
A água e todos os seus
componentes partiram do chuveiro como o universo conhecido, que
surgiu a partir de um ponto no tempo espaço, conhecido como Bigbang.
A partir daí circularam pelo box do banheiro, ganhando os contornos
do meu corpo, os respingos pelas paredes e o empoçamento do piso,
como o tempo espaço que conhecemos naquele confinamento. Finalmente
essa água fluiu para o ralo como o universo, ou partes dele, flui
para um buraco negro flutuando no espaço vazio. Contudo, não flui
sem antes ter algumas de suas partes trilhando caminhos mais longos,
enquanto outras trilharam caminhos mais curtos, sendo que o tempo
transcorrido entre elas não tenha tido relação com o tamanho de
seus percursos, podendo em alguns casos o caminho mais curto ser
percorrido no tempo maior, e o caminho mais longo sendo percorrido no
menor tempo.
Essa analogia não
resume o universo inteiro como o box do banheiro, mas apenas o
universo conhecido, como tal.
O que se pretende é
tratar as diversas partes do processo, anteriores ao chuveiro e
posteriores ao ralo, como diversos universos distintos, com suas
características e condições de espaço-tempo peculiares e
particulares, tal e qual acontece com os componentes da água fluindo
nas camadas mais obscuras dos trechos desconhecidos.
O fato é que toda a
molécula da água existente no mundo um dia se vaporizará e
atingirá os céus. Se liquefará precipitando-se na terra, onde
percorrerá caminhos diversos, podendo inclusive solidificar-se
congelada, para um dia percorrer todo o processo cíclico
indefinidamente, nos quais podemos afirmar, nunca uma mesma molécula
retornará aos seus diversos estados no mesmo tempo ou espaço.
Resumindo, os diversos
universos seriam como os diversos ambientes percorridos pela água,
onde cada chuveiro seria o outro lado de um ralo, assim como cada
Bigbang seria a porta de saída de um buraco negro, da mesma forma
que um buraco negro seria a porta de entrada para seu Bigbang
correspondente.
Deste modo, o Bigbang
não teria início, mas seria eterna e continuamente alimentado por
seu buraco negro correspondente.
Sendo assim, a
existência de Deus tanto poderia ser confirmada, quanto negada em um
mesmo pensamento.
Para aqueles que em
Deus creem, suas onipotência, onipresença e oniciência estariam
presentes num mesmo cosmo. Neste caso, na teoria do “Chuveiro ao
ralo” , Deus seria tão somente todo o universo infinito e eterno,
onde nós faríamos parte dele, de maneira transitória e finita. Não
poderíamos negar que “uma folha não cai, se não for da vontade
de Deus”.
Para aqueles que negam
a existência de Deus, a teoria do “Chuveiro ao ralo” apenas
simplifica a questão de que o universo nunca teve início, sendo
cíclico e eterno em sua capacidade de criar e destruir mundos,
reciclando-os infinitamente. A teoria da Relatividade Geral não só
estaria preservada, como explicaria a formação das diversas
galáxias e sistemas estelares e planetários todos oriundos dos
diversos “Chuveiros” existentes no cosmo.
As percepções de
infinito e eterno devem ser colocadas como algo corriqueiro sob o
ponto de vista cósmico. Nosso planeta teve um início e terá um
fim. Nasceu a partir de um “Chuveiro Bigbang” e será
inexoravelmente tragado por um “Ralo BuracoNegro”. Durante essa
passagem, será transformado em energia pura e descomunal, gravidade
pura e descomunal, espaço-tempo inexistente. Após essa passagem
nosso planeta poderá voltar como poeira cósmica superaquecida,
fragmentos dispersos como cometas, asteroides, ou amalgamado com
outros astros, num novo espaço-tempo, diferente desse em que
vivemos, onde nunca teremos acesso. Contudo, tudo isso ocorre num
ambiente eterno. Onde começo e fim são relativos e fazem parte de
uma reciclagem eterna e constante.
Eternamente finito.
...Viajei no banho...
Eternamente finito.
...Viajei no banho...
Texto e desenho.
Marcos Santos
Marcos Santos
Rio de Janeiro
7 comentários:
Excelente analogia, Marcos. Uma cosmogonia que une a filosofia e a metafísica em torno de questões transcendentais. Parabéns.
Um abraço.
Que banho mais inspirador, garoto! E as reflexões e incertezas, são também eternamente finitas?
Beijo.
Bom domingo.
Brilhante análise do universo, reduzido às dimensões de um banheiro.
Os modelos micro e macro parecem repetir-se em diversas escalas,mas essa idéia de representação para mim parece inédita!
Repetindo a Mileninha, este foi realmente um banho inspirador!
Parabéns pelo texto e pela ilustração, ambos irretocáveis!
Abraços, Marcos!
Bom dia!
Adorei,muitas vezes sou assim mesmo,tem aquela vontade de escrever,e tem dias que simplesmente passam sem nada vir a mente.Os lugares que as vontades surgem,são hilários muitas vezes.
Grande abraço
se cuida
Olá!
Voce voou longe neste banho! Mas é muito bom desprender a mente em alguns momentos para poder refletir sobre assuntos diversos que ficamos coletando e misturando tudo.
Beijos
Bom dia meu amigo.
Uma manhã gelada aqui de zero grau.Vim agradecer pelos seus comentários e ler seu blog.
Grande abraço
se cuida
Que beleza de recheio pro pastel que vim degustar hoje, Marcos. Seu chuveiro big bang e ralo buraco negro, com direito a reflexões tão interessantes. Espero que continuem rendendo tando seus próximos banhos, e que você compartilhe.
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