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No Balcão do Quiosque
quarta-feira, 27 de maio de 2009
A Borboleta Branca
Eu era um menino muito interessado nas coisas da natureza, e para minha felicidade, morava em uma ilha onde a fauna era rica e privilegiada. Considerava-me um protetor da ecologia, embora eu tivesse um grave defeito: - era colecionador de espécimes raros.
Calma, não pensem que colecionava tudo que aparecia. Eu amava as borboletas, e já tinha uma infinidade delas. De todas as cores, formas e tamanhos. Eu era tão egoísta que as matava. Como poderia então julgar-me um herói ecológico?
Minha loucura era tanta, que saía ao amanhecer. Com minha rede, boné e outros apetrechos de colecionador, pois minha intenção era capturar a borboleta branca.
Ah, como era magnífica! Na ponta das asas possuía nervuras alaranjadas, e quando voava, parecia mais um pirilampo. Fui seguindo-a e conhecendo seus hábitos, descobrindo que só aparecia no entardecer, e para minha frustração, voava sobre o mar e as copas das árvores, que eram muito altas.
Uma tarde, munido de todas minhas armas , eu a seguia com os olhos, e por sorte, ela voava sobre uma araucária perto de casa.
Movido pelo ensejo e ,já com um plano em mente, peguei a escada que papai usava para consertar a antena de TV, e subi no telhado segurando o binóculo, e na outra mão a rede. Não sei como consegui equilibrar-me. Enfim estava sobre o telhado.
Feliz ela voava despreocupada. Foi quando perdi o equilíbrio e caí sentado sobre as telhas, agarrando-me na antena de TV, meu coração a saltar pela boca.
Mas quando me dei conta a borboleta branca havia voado para longe, e eu já não podia mais vê-la. Frustrado, desci a escada cabisbaixo e com lágrimas nos olhos.
Eu não desistia tão fácil assim. Pensei... pensei e resolvi me embrenhar na mata que rodeava o povoado. Assim foi.
No dia seguinte, quando o sol começava a se por, com mochila, saco de dormir e alguns víveres, sem esquecer da rede, lanterna e binóculo, saí para minha jornada mais importante. Não voltaria sem ela, já estava resolvido.
Saí primeiramente olhando para o mar, onde ela também costumava voar, e sem êxito, pus-me a caminho da mata.
Enquanto havia luz, eu olhava para cima, entre as copas das árvores, mas sempre sem sucesso. Finalmente escureceu. Eu deveria estar ficando louco... se me perdesse? Todavia era tudo ou nada.
Parei para tomar uma sopa e fazer uma fogueira, e nada de borboleta. As horas iam se arrastando e tudo ficava sempre mais escuro. Até que entrei em meu saco de dormir, e fiquei a olhar para as estrelas. De repente surge minha deusa branca. Voava mais baixo, pelo simples fato da quietude noturna. Então, bem devagar me levantei, de rede na mão, lanterna ligada – ZAPT!!!!! PEGUEI!!!!!!!!
Nossa, eu não acreditava! Delicadamente segurei suas asas e a iluminei, assim... bem de perto.
Como era linda!! Pude observar as nervuras alaranjadas, e então abri o vidro que continha um algodão embebido em álcool, e quando ia colocá-la, parei , olhando como se debatia, e todo horror que sentia presa entre meus dedos. Fiquei envergonhado e percebi que a vida era muito mais importante que minha louca mania de colecionador.
Abri os dedos e ela voou, livre!
Sabem como isto se chama?
AMOR!
Por Lu Cavichioli
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6 comentários:
Amor, consciência ambiental, sensibilidade.
São palavras para explicar esse ato.
Bonito texto. Belo exemplo.
Luiz Ramos
Oi Luiz, é um texto antigo, nem sei se podemos classificá-lo de crônica. Mas eu lembrei dele quando li o texto do Soriano.
Em tempos ecologicamente incorretos, é sempre bom ler algo desse tipo.
Lu
ótimo texto Lú!
Sou editora da Novitas ( editora) e vim te visitar, conhecer um pouco esse espaço. Vou acompanhar e comentar ok? Gostei daqui.
Beijos
Lú sem problemas! Eu guardo teu exemplar :)
Beijos
Oi Letícia, que bom te ver aqui.
rsrs... sei que vais guardar. Obrigada.
beijão!
Ecologia, essa reflexão ambiental muito nos serve também como inflexão dentro de nosso próprio ambiente anímico. Pondo ordem dentro de nossa própria casa, nosso "ecosistema pneumático", espontaneamente deliberamos ações anti predatória e exploratórias sem medidas e carregadas de puro egocentrismo. Belo texto Lú.
Abraços
Leandro Soriano
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