Sentados à mesa, num desses restaurantes entupidos de grã-finos em Porto Alegre, o jovem casal conversava: - Ana, tu tá com aquela tua calcinha vermelha? O garçom era um sujeito branquelo e esticado, mantinha a cara bem fechada fazendo com que os clientes o respeitassem. – Ai Marcio, não começa! Ana era daquelas gurias de pura linhagem, descendência européia, bem criada em berço de ouro e mármore, podre de rica, bem vestida e bem gostosa, beirava a perfeição, filha de fazendeiro, nunca andou a pé, nem de ônibus, estudante de administração em faculdade particular; esse naipe de mulher existe no Rio Grande do Sul em grande quantidade e não é couro pra qualquer catinguento passar a mão. – Tira Ana, e me dá aqui! Marcio não era diferente! Bem de herança, principiado nos negócios do pai, aspirante a milionário, nunca andou a pé, nem de ônibus, sangue europeu, estudante de administração em faculdade particular; esse tipo de cara existe aos montes no estado do Rio Grande do Sul e mete a mão onde sente vontade. – O que tu disse? O garçom esticou o pescoço fino em direção àquela mesa devido ao tom levemente alterado que Ana usou ao fazer a pergunta. – Quero que tire a calcinha e dê na minha mão, de presente. O ambiente era funéreo, a luz baixa, as pessoas cochichavam, somente o tilintar das pratas e cristais quebravam a monotonia do lugar. – Ah! Bom! Tu só pode tá louco né... Te liga guri! O garçom, que se parecia muito com um ganso, ou uma garça, ou um flamingo, ou qualquer dessas aves pescoçudas de banhado, inclusive no modo de andar, aproximou-se da mesa do casal a fim de bisbilhotar o assunto dos namorados. – Eu quero a tua calcinha vermelhinha agora! Marcio era atrevido e estava tão excitado que nem se dava por conta da aproximação do funcionário. – Tu tá conseguindo estragar o meu jantar Marcio! Já tinham bebido uma garrafa de prosecco e estavam ambos quilômetros adiante de Bagdá. – Tu nunca me negou nada Aninha, faz isso pro teu benzinho faz... O garçom discretamente observava os cabelos sedosos, claros e bem cortados da moça, era um desbunde, mesmo estando acostumado à beleza das gaúchas incríveis que ali freqüentavam, o atendente se deixava impressionar pela beleza dessa minha personagem. – Dá pra ti parar? Marcio enfiava seu pé bem calçado em couro legítimo por entre as pernas brancas da namorada que se arrepiava e não parava quieta na cadeira. – Eu quero a calcinha! A essa altura do campeonato todos os demais clientes estavam percebendo e observando – com etiqueta – a indiscrição do casalzinho. – Marcio, pelo amor de Deus guri! Um casal de velhos endinheirados levantou da mesa com ar de indignação – os leitores sabem como são nojentos esses velhos apoderados. – Eu quero só sentir o cheiro bom da tua... – Pára Marcio! Dessa vez a mulher gritou! O garçom interferiu: - Senhores, infelizmente sou obrigado a solicitar que se retirem! – Viu Márcio, viu o que tu fez! Que vergonha! Minha linda personagem disse isso com cara de choro. – Bah! Mas tu é bem chata mesmo hein! Marcio atirou duas notas de cem sobre a mesa, virou as costas e saiu dizendo: - Pode ficar com o troco! A mulher irritadíssima atirou dentro do prato a calcinha vermelha pequenininha – coisa mais bonitinha – que trazia fechada na mão direita! E se foi gritando: Marcio, espera aí seu filho de uma...
3 comentários:
- Pela cor da prenda (a calcinha, não a gaúcha, tchê) eu diria que o episódio se passou em dois anos distintos, embora com a rapidez de uma gafe clássica.
- Humor e erotismo bem dosados são sempre uma combinação estimulante... Parabéns, Léo.
Cena insólita! Difícil imagina-la na tão discreta Porto Alegre, mas os tempos mudam, a cor das calcinhas também!
Aliás, a guria acabou deixando a dita para o garçom!
Mais um talento neste blog tão agraciado!
Cumprimentos!
Um amigo garçom me disse certa vez que adorava ver os senhores apoderados, arrogantes como esse teu coadjuvante, acompanhados de suas belas e jovens mulheres, adentrarem no restaurante que ele trabalhava. Na verdade ele gostava mesmo era na hora da saída, quando ficava a reparar as ancas generosas das jovens senhoras.
Muito saliente esse meu amigo, repare!
Mais uma cena digna de se tornar roteiro de cinema, enfim... Parabéns, Léo Santos!
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