No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

É Preciso Florir


A vida me permitia ficar. Era tudo muito simples porque eu podia ver tudo quanto eu quisesse, fosse dia ou noite, e isso fazia de mim expectador universal em longa viagem dentro de algum espiral metálico que cuspisse fogo pelas ventas.

Eu esperava ansiosa pelas águas de março e os ventos de setembro redescobrindo a vida e a morte ao meu redor. Justamente porque eu estava em constante movimento e as mudanças eram crayons que me desenhavam no panorama artístico de um pintor imaginário. Talvez ele vivesse no alto da serra, cortando lenha e colhendo aromas de florestas na tentativa de perfumar meu coração altaneiro e fugaz.

Lembro-me da estatura varonil dos folículos e pedúnculos raquíticos que nasciam no beiral da estrada, lá pelas bandas da ponte, onde o ar era altamente castigado pelo abraço ofegante dos gases maléficos que invadiam as narinas da atmosfera.

De quando em vez eu sonhava com as montanhas que, arrogantes ,gesticulavam rostos no ocaso abrindo as cortinas da lua para então eu repousar e me tornar um gigante imantado no marinho do azul.

Dos ninhos eu era dona absoluta e minha força era oásis ao meio dia. E assim eu ia ficando, crescendo e multiplicando junto à generosidade da mãe Gaia, cujo plantio favorável e afável,  zelava - ao longe - um tanto desgastada.

Cresci seguindo meu curso que era natural e essencial dentro das tantas possibilidades que me eram conferidas naquele momento (talvez único), antes do abate.

FIM DO CAMINHO (salve o verde e todas as outras cores)

Minhas flores com certeza iriam parar em algum vaso

 com pouco oxigênio e nenhum talento

Minhas folhas  ficariam

 ausentes de clorofila - e meus

 brotos nem veriam a luz

Meu tronco  alvejado,

marcado e dolorido

choraria seivas

Minha raiz (órfã)

 escreveria no solo...

Eu fui APENAS uma árvore!
 
 
 

·         Texto e  poema unidos num grito de alerta aos homens de boa vontade que (ainda) vivem no planeta - nosso aconchego, nossa casa- nosso bem querer.

By Lu Cavichioli

11 comentários:

chica disse...

Te aplaudindo daqui com esse lindo chamado e grito!Parabéns pela poesia tramada com tanta beleza! Tema maravilhoso! beijos,lindo fds!chica

Leonel disse...

Belíssima e melancólica mensagem desta árvore que fala através do teu texto!
Parabéns pela inspiração!
Abraços, Lu!

Milene Lima disse...

Nenhum grito será em vão. Todo e qualquer gesto de amparo à mãe natureza virá feito bálsamo, diminuindo a agonia.

Belíssimo poema, Lu, belíssimo.

Beijo!

Thyara Melo disse...

Lu querida deixei o e-mail pra vc tá, estou viajando e só volto no domingo então creio que só verei seu e-mail quando chegar mais eu aguardo, beijinhos da Thy!

Ana Bailune disse...

Olá, Lu. Lindo, comovente! Olha, eu não esqueci do seu livro. É que os correios aqui estão em 'greve parcial,' ou seja, eles abrem, e deixam a gente esperando durante um tempão até recebermos atendimento. As filas são horrorosas. Pra você ter uma ideia, na última vez que estive lá, tinham umas quatro pessoas na minha frente, e levou mais de quarenta e cinco minutos para eu ser atendida. Mas ele está aqui, e assim que der um tempo, eu o postarei. Ando trabalhando bastante (trabalho em casa) e não tem dado para eu sair muito... e quando saio, o tempo é curto-cronometrado. Mas vai chegar.

R. R. Barcellos disse...

Tu floriste lindamente. E mesmo se fores abatida, algumas flores já terão produzido frutos, alguns frutos terão gerado sementes e algumas delas brotarão em novas árvores.
E nelas tu reviverás, e assim vencerás o machado, as serras e o tempo.
Beijos.

Catia Bosso disse...

Oi queridaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!! Pensei que tu tinha esquecido de 'eu' kkk Fiquei um tempo afastada mas agora voltei!!!!
Saudades
Bora tomar um vinho qualquer dia!

bjsMeus
Catita

Ângela disse...

Que alerta lindo, cheio de poesia.
Bjs

João Esteves disse...

Poesia em prosa e verso, Lu, um canto que apela ao bom senso dos que destroem o nosso lar comum. Que bom que nosso Quiosque bem a ser porta-voz de seu clamor.

☆Lu Cavichioli disse...

Amigos queridos, esse texto é do ano passado,mas ele clamou e tocou minha alma e assim aconteceu a repostagem. Bem a contento destes tempos que deveriam ser "ecológicamente correto".

Creio que estamos tentando, tenho visto mais conscientização em relação a isso.

Abraços de afeto pra todos!
Lu C.
:)

MARILENE disse...

Você disse tudo, poeticamente. Pudesse a natureza se expressar em palavras, estaria invejando as suas. Bjs.