No Balcão do Quiosque

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Silêncio

O silêncio. Quem o quer? Um par em mudo diálogo? Como se a ausência do som das palavras ou do quase inaudível farfalhar do nada a roçar ouvidos esforçados, solidificasse a certeza do... silêncio.Absoluta solidão? Não, não há silêncio na solidão. O homem só não é silencioso. Ao contrário, nele abunda e fervilha caldos de diálogos inflamados consigo próprio. Só há monólogos onde dois ou mais circundam-se a chacoalhar seus argumentos e interpretações – que Deus tenha piedade de quem os tem – numa acirrada e disfarçada disputa pelo efeito de maior contundência na exposição

Um ente não dialoga; ele “monologa” diante de outros vários e tantos atentos monologantes. Ele apenas dialoga consigo mesmo tentando convencer-se com a precisão de um raro entendimento. Mas vã é a tentativa. Sabendo disso, engana-se a si próprio com a mesma elegância com que interpreta o mesmo engano que para si aprovou, para dar a outrem que o ouve atentamente como se o estivesse entendendo. Um consentido acordo de cavalheiros ocos, a preencherem-se de inócuas tentativas significantes.

Mas, e o sentido? O sentido, contido ficou enquanto internalizado no vasto mundo do imanifesto. A partir da manifestação, deixa de fazer sentido; apenas consente-se para que as delongas não prolongue enfados como em uma sala de espera a espera de se fazer entender.

Diante desse quadro – o qual não decoraria nenhum interior – espatulado com vigorosas pressões na realidade, mostra-se o quanto é praticamente quase impossível a socialização igualitária. Por único motivo: a individualidade. O homus-individualis, nada divide. A sociedade não é composta de “dividuais”. É decomposta por individuais.Nunca será possível a longeva sociedade humana igualitária mas sim a circunscrita e desigual “saciedade” humana.

No silêncio de nossas alcovas individuais planejamos um “mundo melhor”. No máximo “dias melhores” com prazo de validade é o que se consegue. Resta-nos o consolo da engenharia “sensitiva” a construir pontes de acesso ao distante próximo, como uma forma de substituição à individualidade demarcada em nosso DNA.

No ensurdecedor barulho dos monólogos, acenamos com a esperança de que em um dado momento possamos nos fazer entender assim como nos entendemos a nós mesmos antes que interrompidos pela morte, possamos soçobrar em um eco perdido.

4 comentários:

Ramosforest.Environment disse...

Será que vale buscar ajuda em Hobbes, Locke, Platão?
A individualidade, o individuo e a sociedade, todos sempre preocuparam. Creio que nem mesmo nos entendemos a nós mesmos.
Agora, com o surgimento da Web, esse tema continua a ser pensado e repensado todos os dias.
Luiz Ramos

chica disse...

Será que conseguiremos? Linda crõnica.Um abração ,chica

João Esteves disse...

Psiu!

SAM disse...

Um belo texto, sem dúvida.

"...No ensurdecedor barulho dos monólogos, acenamos com a esperança de que em um dado momento possamos nos fazer entender assim como nos entendemos a nós mesmos antes que interrompidos pela morte, possamos soçobrar em um eco perdido. .."


O que vejo, percebo, é que muitos se desconhecem e daí a dificuldade de conhecer o outro. E o que não reconhece de ruim em si, injustamente reconhecerá no outro. Espero que possamos ter uma expansão de conhecimentos e reconhecimentos individuais, para que se tenha um bom reflexo no outrem.


Abraço e bom fim de semana!