No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Do chuveiro ao ralo. Enunciado do espaço-tempo. Do Bigbang ao buraco negro (E vice versa)


Do chuveiro ao ralo. Enunciado do espaço-tempo. Do Bigbang ao buraco negro (E vice versa)


Escrever é acima de tudo um ato de inspiração. O segredo para que um texto exista começa com a inspiração. Por vezes a inspiração surge durante o banho, desce pelo ralo e você não a aproveita. Em outras ocasiões você sai do banho, senta-se na escrivaninha e a escreve.

Foi observando a água que cai do chuveiro, molha meu corpo, desce até o piso e finalmente escorre para o ralo, que fiz esta analogia.
A água e todos os seus componentes partiram do chuveiro como o universo conhecido, que surgiu a partir de um ponto no tempo espaço, conhecido como Bigbang. A partir daí circularam pelo box do banheiro, ganhando os contornos do meu corpo, os respingos pelas paredes e o empoçamento do piso, como o tempo espaço que conhecemos naquele confinamento. Finalmente essa água fluiu para o ralo como o universo, ou partes dele, flui para um buraco negro flutuando no espaço vazio. Contudo, não flui sem antes ter algumas de suas partes trilhando caminhos mais longos, enquanto outras trilharam caminhos mais curtos, sendo que o tempo transcorrido entre elas não tenha tido relação com o tamanho de seus percursos, podendo em alguns casos o caminho mais curto ser percorrido no tempo maior, e o caminho mais longo sendo percorrido no menor tempo.

Essa analogia não resume o universo inteiro como o box do banheiro, mas apenas o universo conhecido, como tal.
O que se pretende é tratar as diversas partes do processo, anteriores ao chuveiro e posteriores ao ralo, como diversos universos distintos, com suas características e condições de espaço-tempo peculiares e particulares, tal e qual acontece com os componentes da água fluindo nas camadas mais obscuras dos trechos desconhecidos.

O fato é que toda a molécula da água existente no mundo um dia se vaporizará e atingirá os céus. Se liquefará precipitando-se na terra, onde percorrerá caminhos diversos, podendo inclusive solidificar-se congelada, para um dia percorrer todo o processo cíclico indefinidamente, nos quais podemos afirmar, nunca uma mesma molécula retornará aos seus diversos estados no mesmo tempo ou espaço.

Resumindo, os diversos universos seriam como os diversos ambientes percorridos pela água, onde cada chuveiro seria o outro lado de um ralo, assim como cada Bigbang seria a porta de saída de um buraco negro, da mesma forma que um buraco negro seria a porta de entrada para seu Bigbang correspondente.
Deste modo, o Bigbang não teria início, mas seria eterna e continuamente alimentado por seu buraco negro correspondente.

Sendo assim, a existência de Deus tanto poderia ser confirmada, quanto negada em um mesmo pensamento.
Para aqueles que em Deus creem, suas onipotência, onipresença e oniciência estariam presentes num mesmo cosmo. Neste caso, na teoria do “Chuveiro ao ralo” , Deus seria tão somente todo o universo infinito e eterno, onde nós faríamos parte dele, de maneira transitória e finita. Não poderíamos negar que “uma folha não cai, se não for da vontade de Deus”.
Para aqueles que negam a existência de Deus, a teoria do “Chuveiro ao ralo” apenas simplifica a questão de que o universo nunca teve início, sendo cíclico e eterno em sua capacidade de criar e destruir mundos, reciclando-os infinitamente. A teoria da Relatividade Geral não só estaria preservada, como explicaria a formação das diversas galáxias e sistemas estelares e planetários todos oriundos dos diversos “Chuveiros” existentes no cosmo.

As percepções de infinito e eterno devem ser colocadas como algo corriqueiro sob o ponto de vista cósmico. Nosso planeta teve um início e terá um fim. Nasceu a partir de um “Chuveiro Bigbang” e será inexoravelmente tragado por um “Ralo BuracoNegro”. Durante essa passagem, será transformado em energia pura e descomunal, gravidade pura e descomunal, espaço-tempo inexistente. Após essa passagem nosso planeta poderá voltar como poeira cósmica superaquecida, fragmentos dispersos como cometas, asteroides, ou amalgamado com outros astros, num novo espaço-tempo, diferente desse em que vivemos, onde nunca teremos acesso. Contudo, tudo isso ocorre num ambiente eterno. Onde começo e fim são relativos e fazem parte de uma reciclagem eterna e constante. 
Eternamente finito.


...Viajei no banho...

Texto e desenho.
Marcos Santos
Rio de Janeiro

sexta-feira, 11 de maio de 2012

PROCURA-SE UM ANO LETIVO



Já passava do meio dia quando o repórter surgiu à porta da secretaria-almoxarifado-copa-diretoria... Como dizem os cariocas: “tudo junto e misturado” desde que se deu início à bendita reforma.

Reformas são bem-vindas. Mas seriam mais significativas se mexessem de fato com as estruturas decadentes de um prédio construído há milênios (exagero à parte) sem nenhum planejamento.

Voltando ao repórter surgido do nada.
- Nós somos da TV, gostaríamos de saber como está a reforma.
- Oi? Não está.

Rindo após ouvir obviedades, ele pergunta:
- Mas já era pra ter sido concluída, né? Quando começou?

A funcionária metida a contestadora, responde:
- Começou em fim de janeiro, como diz a placa lá na frente, a construtora tinha noventa dias pra entregar a escola e assim o ano letivo não ser tão prejudicado... Como vê, esses noventa dias deram cria.
- E agora? E os alunos?
- E agora, José? José para onde? Quem conseguiu vaga em outras escolas, #partiu! (uau, estou interneticamente antenada, usei o negocinho do meu sonho), quem confiou no processo, tem grande possibilidade de ficar a ver navios nesse ano, porque não se tem perspectiva de quando isso tudo se resolve. A construtora foi substituída, eles tem mais quinze dias pra fazer uma licitação seríssima a fim de contratarem outra, que dessa vez não usará material de quinta, ou telhas reaproveitadas de outras escolas, ou virarão a madeira de ponta-cabeça pra ocultar rachaduras... Por que agora tudo vai ser bem fiscalizado. Eles se distraíram um pouco, eu acho, não foi de propósito não. Só tem gente  séria e bem intencionada metida nisso.

O moço risonho foi embora, prometendo voltar no dia seguinte para filmar a bagaceira escolar, num período em que as aulas deveriam estar em plenos pulmões. Reformas são bacaninhas, ainda mais quando realizadas em ano político, onde as verbas dão em árvores e são repartidas a contento de todos. Mais ou menos como dizia São Luiz Gonzaga, o Rei do Baião: “um pra mim, um pra tu, um pra eu”...

E num futuro bem ali serão esses estudantes sem escola que disputarão vagas nas universidades com outros advindos das escolas particulares e bons cursinhos preparatórios. Você, caro leitor, arriscaria dizer quantos desses alunos desgarrados do ano letivo em curso (são mais de quinhentos), conseguirão alcançar uma faculdade?

E assim caminha a desigual brasilidade.

(A Milene Lima - O palíndromo)