No Balcão do Quiosque

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Projeto que deu certo!


Amigos queridos!
Estou lá, nos meus Botões de Madrepérola, apontando uma pequena sugestão em forma de um Projeto Educacional, para finalmente ver se meu grito manso consiga produzir eco em meio a autoridades e poderosos líderes de nosso país, ou até mesmo junto a pessoas comuns, de todas as classes, de todas as raças, credos, cores e etnias, pessoas de bem e virtuosas, com sugestões e práticas tão simples que forçoso se torna admitir que é uma vergonha essas mesmas 'práticas' terem sido abolidas de nosso cotidiano!!!
Palavras gentis...
Amor nas atitudes...
São presentes que Deus nos outorgou por termos sido feitos à imagem e semelhança d'Ele, e não tínhamos o direito de sequer ter chegado a um ponto próximo a tudo isso!
Descaso com as palavras, palavreado desenfreadamente 'chulo', gírias as mais gritantes possíveis...internetês... meu Deus!
Voltemos ao que era bom!
E graças a esse mesmo Deus, em quem coloco todas as minhas esperanças, mas sem esperar tudo d'Ele, é que esse meu grito suave já está felizmente encontrando ressonância!!!
Já entenderam minha proposta: uma psicóloga, dois jornalistas, um deputado, professores, e demais pessoas e amigos das mais diversas áreas.
Apelo também aos que têm alma de poeta (como eu), de vida e de efeito, que compreendam que a POESIA já está intrinsecamente engajada nesse Projeto, pois não é poesia toda palavra gentil, harmoniosa e bela que sai de dentro do nosso amável coração???
Grande beijo!
Visitem botoesmadreperola.blogspot.com

domingo, 25 de outubro de 2009

As horas

O dia amanhece como se eu estivesse empurrando um trem. Não foi fácil me levantar. As horas pesavam e o ombro de minha consciência, dolorida, carregou mais um peso do mundo. Faltava-me algo mas não sabia o quê exatamente. Um esforço hercúleo foi o que tive que fazer para lavar o rosto. Tinha que me olhar no espelho. Vagarosamente levantei o rosto para encarar-me. Rosto? Onde está meu rosto? NÃO TENHO ROSTO!!! Um pavor indescritível dominou o que, creio, ser eu mesmo. Levei instintivamente minhas mãos ao... seria rosto? Inútil esforço. Minhas mãos só existiam quando olhava para elas. Se tentasse tocar meu rosto sumido, elas também sumiam. Pensei: “estou morto?” Não, não estava morto. Sentia minha respiração e ouvia o arfar de meus pulmões. Ainda em meio a confusão mental, toquei levemente em meu coração. Lá estava ele em rápidas batidas como querendo dizer: “aqui estou eu, vivo, ao seu lado”. Não estava só. Tinha a companhia de meu coração, meus pulmões, minhas mãos e minha mente confusa. Minha mente? Posso pensar, pensei. Vou falar em voz alta o que estiver pensando. E soltei: “ONDE ESTÁ MEU ROSTO!?”. Ouvia nitidamente minhas próprias palavras.

Já sei. Vou sair às ruas e observar a reação das pessoas. Claro. Se tudo isso for real saberei imediatamente. Assim fiz. Peguei meu casaco, vesti meu jeans, calcei meu tênis branco sujo e fui para rua.

As pessoas passavam por mim e não me olhavam. Ninguém me olhava. Um casal de idosos taciturnos que caminhavam sem trocar uma palavra entre si, passaram por mim como se passassem por uma estátua desinteressante. Estava a ponto de gesticular propositalmente para chamar atenção ao primeiro que passasse.

Lá vinha um adolescente. Aquele jeitão desligado, desencanado me estimulou a um gestual qualquer que chamasse sua atenção.

— E aí brother, sabe onde posso... Nem terminei a frase e o garoto passou por mim como se eu fosse invisível. Invisível?

Foi então que percebi que eu apenas percebia. Eu era um “percebedor!” Existe isso? Não sei explicar mas eu falava e não havia voz; eu me movia mas não haviam membros que me conduzissem; eu pensava e via o que eu pensava... Sentia-me totalmente perdido diante dessa situação. Poderia correr, saltar, gritar, imaginar... e tudo isso não bastaria para me dar uma forma definida. Eu era e ao mesmo tempo não tinha como provar isso aos outros.

Cabisbaixo caminhei até o parque. Sentei-me, ou achei que estava me sentando, no primeiro banco vazio que encontrei. Diante de mim a visão de um lago salpicado de miríades de pontilhos resplandecentes. Isso me reconfortou. Entrei espontaneamente em um relaxamento sem corpo ou algo assim. A brisa massageava o que poderia ser meu rosto. O devaneio era inevitável.

— Você irá se acostumar. O tempo lhe será indiferente.

Disse-me uma voz quase que sussurrando em meus ouvidos. Se é que eu os tivesse.

— Quem é? — perguntei.
— Sou uma voz assim como você.

Devo estar ficando louco, pensei ou, disse isso a mim mesmo. Mantive-me surpreendentemente calmo. O suficiente para encarar a voz amorfa.

— De onde você é?
— Sou daqui, desse mesmo instante que o seu.
— Você é apenas uma voz?
— Sou se isso lhe deixa à vontade.
— Você sabe me dizer por que há apenas vozes e não formas ?
— Porque a realidade é feita somente de vozes. O mais são apenas formas dissimuladas.
— O que está acontecendo comigo?
— Nada de importante, que eu saiba.
— Como isso pode não ser importante?
— Calma, calma... se acalme
— Ok. Me diga o que acontece então com as vozes?
— Como assim?
— Ela duram para sempre ou isso em dado momento se acaba?
— Claro que se acaba. Ou você acha que uma voz se manifesta indefinidamente? Um dia todo esse vozerio silenciará por completo.
— E o que vem a seguir?
— O silêncio.
— Então é o fim?
— Não. É o silêncio.
— Qual a diferença entre o silêncio e o fim?
— O silêncio não se acaba. O fim, sim.
— Qual a utilidade da voz então?
— Só existe uma utilidade: entender o silêncio.
— E o que há de tão importante no silêncio?
— Nele, cessam-se todas as perguntas.
— Mas sem perguntas como poderei chegar à compreensão das coisas?
— As perguntas servem apenas para se chegar a conclusão que não se compreende as coisas.
— Isso não tem fim?
— Sim, tem.
— Onde se encontra então a compreensão das coisas?
— No silêncio.

domingo, 18 de outubro de 2009

O caso da coisa

Vou contar uma coisa pra vocês. Existe algo mais intrigante, mais inquietante, arrebatador do que descobrir o que é realmente uma coisa? Não, não... certamente que não. Pois uma coisa nunca é explicável por completo porque se assim fosse nunca seria uma coisa e sim algo. E uma coisa que venha a ser algo vai contra o estatuto do indefinível: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Dessa forma entendemos o quanto é importante manter o estado de coisas de forma inalterado. Isso facilita o controle amplo e irrestrito de todos aqueles que estão com suas atenções totalmente voltados para as coisas. Esse é o lema para quem tem o leme nas mãos.

A coisa possui um valor universal. Pode ser utilizada como ponte de acesso ao entendimento para qualquer coisa que exista e até mesmo para as que não existem. Por exemplo: sabemos que alguma coisa criou tudo que está manifestado. E o que é essa coisa? Essa coisa ninguém sabe. A coisa é absoluta. Não depende de ninguém ou de qualquer outra coisa. Conclusivamente tudo vai dar na mesma coisa.

Se alguém tiver alguma coisa a acrescentar fique à vontade. Pois uma coisa nunca é a mesma sempre. Ela transforma-se em outra coisa muitas vezes antes da próxima piscada de olho. Daqui para frente passe a olhar para as coisas como quem olha para a permanência da própria vida. Faça a coisa certa antes que as coisas nunca mais sejam as mesmas.

Ah! Só mais uma coisinha: ... eu ia dizer mais uma coisa mas esqueci. Não tem importância fica pra próxima.

sábado, 17 de outubro de 2009

Palavras são palavras, ...

Nas palavras de uma língua, está encerrado muito da alma de um povo ao menos, o que fala esta língua.

Línguas há que são faladas por mais de um povo (como o inglês, o espanhol, o nosso português e algumas outras), bem como povos há que são falantes de mais que uma língua (como os canadenses, os suíços e alguns outros).

Cada língua tem, por assim dizer, suas "células" ou unidades constitutivas, a que costumamos chamar palavras.

Definir - ou mesmo simplesmente identificar - uma palavra nunca é tão fácil quanto talvez pareça.

Se quiser verificar, escolha um texto qualquer, escrito em num idioma que lhe seja absolutamente ininteligível. Tente agora contar o que ache serem suas palavras. Você contará naturalmente unidades gráficas limitadas por espaços, como fazem os editores de texto eletrônicos. Você terá feito uma contagem de espaços, mas não de palavras.

Só para ilustrar, digamos que a língua cem por cento ininteligível pra você é o alemão. Também serviria árabe, chinês, hindi, opção é o que não falta, pois todos nós sempre ignoramos a maioria das divinamene confundidas línguas existentes.

Em alemão, então, você contará como duas palavras cada verbo "trennenbar" quando este estiver com seu prefixo destacado. Isto porque a parte de base de tais verbos alemães aparece antes (às vezes bem antes) de seu prefixo separável, que vai lá para o final da sentença, antes do ponto ou seu equivalente. Tal estranheza vocabular afeta, para piorar as coisas, a maioria dos verbos alemães.

Assim, um verbo como "vorstellen" pode (e costuma) aparecer como "stellen (não sei o que lá) vor". O verbo "aufmachen" como "machen (não sei o que lá) auf". Esse "não sei o que lá" pode (e costuma) ser bem longo, também.

Por outro lado, compostos por vezes longos se formam muito frequentemente em alemão. Com um só desses "palavrões" teutônicos dá pra se dizer algo do tipo "a maçaneta da gaveta da mesa do gabinete do ministro de estado das relações exteriores", ou alguma outra esquisitice congênere, que naturalmente seria contado como uma palavra só. Mas é mesmo?

A contagem feita apenas pelas unidades demarcadas por espaços acabaria por refletir um número completamente falso, e bem distante do número real de palavras.

Existem coisa de seis mil línguas no mundo, e a esmagadora maioria delas são línguas ágrafas, ou línguas em que nenhum sistema de escrita existe. Quando se trata de identificar o que é e o que não é uma palavra numa língua dessas, vemos que a coisa realmente está longe de ser tão simples como nos parecia.

Vemos nos dicionários aquelas unidades lexicográficas chamadas verbetes ou entradas. Elas normalmente tratam de palavras isoladas, que ali vão definidas, explicadas e exemplificadas como tal. Isso nos dá a impressão falsa mas muito reforçada de que palavras isoladas são coisa que existe. Mas na verdade assim não é. As palavras só existem em associação umas com as outras, de acordo com muitas e bem complexas regras.

Mesmo quando utilizamos uma palavra só, há um bom número de outras a ela indissociavelmente ligadas naquele determinado contexto, que simplesmente ficam subentendidas.

Se dizemos só "fogo!" por convenção ou por medida de economia, sempre queremos dizer algo do tipo "comece a abrir fogo agora", ou então "faça logo alguma coisa para ajudar, que temos aqui um início de incêndio!"

As palavras encerram em si mesmas um enmorme tesouro, por vezes bem pouco explorado.

Se averiguarmos a formação, a origem, as colocações fraseológicas, a evolução histórica e tantos etcéteras cabíveis, veremos facilmente como são ricas as palavras, e que interessantes coisas há por se descobrir nelas e sobre elas.

Estou definitivamente convencido de que se a elas nós dedicamos suficiente atenção, elas sempre retibuem lindamente.

As palavras, essa coisa tão vaga, tão relativa, tão imponderável, de certa forma nos enriquecem com uma grande fortuna, embora nem sempre traduzível na "outra", a tal fortuna atrás da qual tantos passam a vida a correr.

Mas pelo menos esta fortuna intangível não se desvaloriza nunca, pode-se repassá-la em vida e sem qualquer perda patrimonial, não se perde e não há quem nos possa tomar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ontem eu resolvi cuidar das flores




Depois de tomar meu rico e saboroso café da manhã em agradável companhia no Empório, com a nossa estimada Lu Cavichioli, a escritora convidada especial Herta Müller, a brasileira não menos importante Lya Luft, a Rose, o 007 BOND, eu só podia mesmo era depois de toda essa atmosfera literária no Mural do Leitor, dançar e cantar. E ficar muito feliz. Decidi, então, que tinha muito o que fazer...
Coloquei uma música alegre para ouvir, e avistei: lá estavam elas, as minhas violetas, cada uma em seu vaso original. Não quero mais assim, pensei. Vou fazer um belo arranjo improvisado para mimoseá-las.
Minha cozinha ganhou um novo visual, depois que ficaram, todas juntas, em uma nova floreira retangular de tupperware sem uso. Há tempo que eu só guardei porque intuí que algum dia poderia servir, e serviu lindamente, pois tem um desenho fazendo um composé que valorizou ainda mais minha cozinha e as violetas azuis,lilases, rosas, de várias cores !
Tenho também dois coqueiros plantados em vasos tipo V e fui depressa olhá-los... minha nossa, como estão crescidos! Crescidos e descuidados, e lá fui eu à luta, arregaçando as mangas, e nesse momento quem me viu jurou que eu parecia mais um bombeiro apagando chamas, soldado empunhando armas, furacão, tsunami2, tudo aquilo que só o vento conseguia acompanhar...
Mas foi um chacoalhão e tanto! Eu havia descurado minha vida exterior, devido à dedicação total aos meus xodós internos, em detrimento de coisas que também precisam de atenção e cuidados!...
Amei esse despertar para o aqui e o agora. Saí também, fui dar uma volta pelas ruas do meu bairro e pela cidade: nossa como está tudo diferente! Foram elas que mudaram ou fui eu que mudei?...
Comprei roupitas novas e cuidei também de moi!
Finalmente, instalou-se um bem-estar geral em meu dia, que se prolongou por toda a tarde e noite a dentro. Já estava preparando meu chá de camomila para coroar este dia, quando...
De repente... buemba!!!
O Quiosque! Meu Deus, o Quiosque. Eu adotei esse filho há algum tempo, e assim como se faz na vida real, nós queremos burilar, corrigir, enfeitar, e com isso, erramos, contornamos, corrigimos, para vê-los enfim caminhar novamente, seguros e felizes.
Surpresa...
Eu não havia decidido ontem cuidar das ‘minhas flores’?
Cuidei.

postagem feita por Graça Lacerda

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Demolição Implacável (crônica em memória de meus avós)



"Ao entrar na casa, onde tantas recordações me fizeram chorar lágrimas ocultas, pude ver através
das paredes, pessoas queridas. Seus rostos sorriam no retrato dos tijolos que estavam agora recobertos
por uma fina camada de argamassa em tom pastel.

Meus pés tocavam aquele piso recém colocado que teimava em ser bonito, rindo-se do assoalho antigo e cansado.
Cômodos ainda vazios , teciam a fina renda de uma saudade.
Eu, estática na porta do quarto , enquanto luzes brincavam em minha íris, revelando uma antiga cama, que vestia sua melhor colcha.

Cortinas abraçadas às janelas aparavam uma réstia de sol que insistia em atravessar a veneziana.
Na sala, a mesa de jantar namorava a cristaleira espelhada que ouvia vozes e risos dos encontros familiares.
Encontros que já dormem o sono da eternidade.

No jardim, o canteiro sepultado entre imponentes lajotas, que ainda não tinham nenhuma história pra contar.
O terreno vestia roupa nova.

No quintal, cacos de cerâmica empilhados, comentavam sobre a nova proprietária. Uma piscina imponente e atrevida que insistia em rir, , olhando para mim, trazendo na expressão fria e azul, um não sei quê de abstração: _ "Nem te ligo!

Coleção: self – by Lu Cavichioli