No Balcão do Quiosque

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Armagedon

     Em março/abril de 2010 o vulcão islandês Eyjafjallajökull deu uma tossidela que fechou metade dos aeroportos da Europa. Durante algum tempo, os noticiários deixaram de lado as matérias sobre o programa nuclear norte-coreano para roer um osso mais suculento. Isso me levou a publicar no Sete Ramos o artigo que se segue:

     Dizem que o poder de destruição do arsenal nuclear das grandes potências é suficiente para arrasar o mundo não sei quantas vezes. Não é bem assim: a energia liberada por terremotos, erupções vulcânicas e furacões excede em cada ano, por milhões de vezes, o total de megatons acumulados nos arsenais do mundo. Está aí o Eyj-seiláoquê, que não me deixa mentir.
     Acontece que as forças naturais atacam cegamente e geralmente deixam um saldo positivo na natureza, mesmo quando ceifam vidas humanas. As cinzas dos vulcões enriquecem o solo, os abalos sísmicos formam novos relevos, os fenômenos meteorológicos equilibram as diferenças climáticas.
     Já a arma atômica foi concebida com o único propósito de destruir. As ogivas têm endereço certo: locais de grande concentração humana e tecnológica. Por isso, é melhor dizer que uma eventual guerra atômica destruiria, sim, a civilização, mas não o mundo.
     E Gaia, após sacudir a poeira radioativa (em alguns milhares de anos, simples momentos para ela), voltaria à vida de sempre - e talvez melhor, sem a interferência desse acidente evolutivo que arrogantemente se autodenomina Homo Sapiens.
     Mas talvez tenhamos uma segunda chance. Após a destruição e o morticínio iniciais, o que restar da população humana continuará decrescendo, não só por conta dos efeitos da radiação residual, mas também pela falta absoluta de recursos tecnológicos, principalmente medicinais, dos quais nos tornamos cronicamente dependentes - remédios em geral, vacinas, antibióticos etc.
     E quando a Seleção Natural tiver descartado os menos aptos e talvez favorecido uns poucos mutantes positivos, é possível que surja uma nova humanidade, menos tecnológica e - com sorte - mais ajuizada. Resta saber se nela haverá lugar para gente como eu e você...