No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Astral

O céu estrelado
merece um olhar
é fonte de agrado
só querer, terá

Procure grandeza
maior não verá.
Um mar de beleza
que à vista se dá

Apalpe o mistério
do céu, do infinito.
Tente, falo sério
nada mais bonito

Um céu estrelado
é tudo de bom
concerto tocado
em sublime tom

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Relatividade

     O tempo escorre lentamente do relógio, em tiquetaques preguiçosos e vadios. É o velho demônio irritante, tirando do saco de minha vida, já meio murcho, uma moeda a cada tique e atirando-a no saco sem fundo da eternidade a cada taque. E ele faz isso sorrindo, sarcástico, para mim. Uma de menos... uma de menos... uma de menos... vai ele desfiando a ladainha dos segundos que se perdem sem resgate.
     Mas hoje, demônio velho, não cairei nesse truque psicológico barato. Não ligarei a TV, não lerei livros ou jornais, não telefonarei para ninguém. Porque sei que ela, a minha amada, está vindo.
     Desfia a tua ladainha, velho demônio, desfia-a mais rápido, que os segundos da espera não se contam como aqueles da tristeza. E quando minha amada estiver em meus braços, será minha vez de contar: uma a mais, uma a mais, uma a mais...
     Pois dela os beijos são vida, e os carinhos são eternidade, e seu amor não cabe neste ridículo universo onde espaço e tempo têm seus limites. Ela me levará nas asas da paixão e me guiará para onde não se contam moedas, onde não há sacos de diferentes tamanhos, onde os demônios contadores se encolhem envergonhados e perecem à míngua de relógios, onde tempo não é dinheiro e dinheiro não é mais que fumaça. E lá escarneceremos de ti, até o fim dos tempos.

sábado, 12 de novembro de 2011

AO BOB COM CARINHO...


Me acuda Bob Marley! Prenderam três moços fumando o cigarro da paz e uma multidão de outros moços armaram um furdunço revoltativo. Eles não querem a polícia por lá. Querem viver livres no campus da universidade sem a insensibilidade gritante dos homens fardados.

Mas Bob, aqui no Brasil é diferente da sua terra. Dizem que as folhinhas são do bem, mas lei é lei, né? Os moços não quiseram saber de papo e invadiram, entoaram gritos de guerra, cerraram os punhos... Ficaram lá acampados por dias e de vez em quando um deles surgia pra listar as exigências. Eu não compreendi porque alguns encobriram o rosto com um lenço, feito aqueles bandidos dos filmes de faroeste. Eram apenas estudantes inofensivos querendo fumar um baseadinho... Por que a fantasia?

Talvez tenha sido pela importância da causa, né? Penso que num país tão tranquilo feito o nosso, sem problema de espécie alguma, erguer a bandeira da maconha seja uma coisa bacaninha a se fazer. Ideologia, eu quero uma pra fumar!

Eu bem sei que se você pudesse falaria com todos eles e diria que a sua praia era a paz e o amor. Esse era o lema. E você lhes contaria sobre o passado desse país, num tempo em que os estudantes tinham mesmo pelo que protestar e lutar. Foram tempos difíceis aqueles, você lá na Jamaica deve ter ouvido falar... Mas esses moços, tadinhos, certamente não tem a menor ideia do que seja de fato repressão policial e tudo o que o valha.

                Você não deve ter tido muito apreço por essa classe, a dos moços de farda, eu suponho. Nem eu. Eles são truculentos até a décima potência, mas infelizmente no curso de formação da polícia militar não se dá muita ênfase às abordagens amorosas da polícia para com a população. O jeito é falar “não senhor, sim senhor” e pronto. Chamarei um clichê para me socorrer: ruim com eles, pior sem eles... Sabia que por aqui as pessoas se surpreendem quando um policial dá provas de honestidade? É, menino rasta! Aconteceu esses dias. Um deles recusou um agradinho de um milhão de reais para fingir não ter visto um bandidão e virou notícia de jornal. Amaste o Brasil como eu amo, Rei do Reggae?

                Mas voltando aos revoltosos com causa embaçada, eles quebraram tudo por lá, Bob. E ficaram chateados porque tinha praticamente um batalhão contra setenta inofensivos jovens filosóficos e literatos. O bacaninha é não ter havido nada de tão sério assim. Eles saíram tranquilamente da sala da reitoria, sede provisória do movimento (?) e foram gentilmente presos. Depois de pagarem uma fiança coletiva, foram todos pra suas casas abraçar papai e mamãe. Eu os imagino chegando em casa e as mamães em lágrimas acolhendo os filhotes, conferindo pra ver se não lhes arrancaram nenhum pedaço, enquanto os papais os observam um tanto sisudos. Umas palmadas no bumbum e um castigo do tipo “vai-ficar-uma-semana-sem-baseado” cairia bem.

                Se você descobrir quem vai pagar o estrago por lá, me avisa, tá?
                Agora vamos ouvir você... Essa sim é uma viagem prazerosa.



Por Milene Lima


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Versejo Insone

Não havendo como
conciliar o sono
nada a fazer, ponho-me
a monologar
nesse modo insólito
e que me é bem próprio
de no solilóquio
lesto, divagar

Voo de passarinho
pra longe do ninho
curtindo o caminho
livre pelo ar,
pilho-me sozinho
sinto-me mesquinho
minto-me um tantinho
só que vai passar!

Pleno adejo, vejo
gente, afã, desejo
um penhasco, um seixo
- vou-me estatelar!
só me lembro o beijo
de cair o queixo
queixo-me mas deixo
isso me levar

Pegando corrente
seja fria ou quente
voo indiferente
pra qualquer lugar
já fico contente
de pensar que, à frente
vou, possivelmente
a você chegar