Sonhei que chovia de madrugada, mas a chuva não era feita de água e sim de finos grãos que brilhavam desde os céus.
Eu estava deitada em meio às minhas flores - um jardim de gérberas vermelhas - onde a biodiversidade era infinita. Estranhamente eu me sentia como Gulliver, porem sem amarras - o que já era a própria libertação. Libertação não do corpo, mas do espírito.
Levantei e me sentei um tanto atordoada e vi casinhas rodeadas de cogumelos vermelhos, amarelos, onde homenzinhos alegres carregavam tortas de amora de um lado para o outro.
A chuva continuava caindo, e brilhava como os fios dourados que envolvem tecidos elegantes. Foi aí que eu vi pezinhos delicados que deslizavam suaves entre o pó dourado.
Balancei a cabeça para atinar minhas idéias e vi criaturas de asas transparentes que rodopiavam no ar descendo até o solo, mas seus pés não o tocavam. Eram muitas e todas caiam sobre mim, cobrindo também as gérberas e tudo ao redor tomou aspecto de um camafeu nacarado, bordado com dezoito quilates e vinham como as águas límpidas no telhado das casas.
O tráfego terreno continuava com uma normalidade fantástica e ao mesmo tempo comum.
Joaninhas perambulavam com cigarras e uma bem peralta, subia as escadas explorando o ambiente - (eu acho que era a nossa amiga Chica, mas sabe-se lá... Abelhas entoavam óperas, e das flores jorravam nectarinas que tinham o tamanho de jabuticabas.
Num ímpeto estendi minhas mãos para ver se conseguia capturar alguma criaturinha e seu brilho, mas foi inútil porque elas passavam pela palma de minhas mãos atravessando minha pele.
Resolvi então deitar no tapete dourado que se formou no solo e meus olhos se abriram para a verdade da vida. Respirei odores de sândalo abrindo a janela...
Qual não foi minha surpresa?!
Na quietude da aurora perguntei:
Choveu fadas no Jardim?!