No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti

Escala Richter: Mede a potência do abalo sísmico provocado por um terremoto.
Escala compreensão: Mede a potência do estado de consciência provocado pelo imprevisível da existência humana.
Porque precisamos de tragédia para despertar da letargia do maior inimigo da vida humana nesta era tão decantada em reversos e provas denominado de rotina?

A rotina age subrepticiamente como anestésico à percepção já tão combalida pela pressão existencial. Temos olhos mas não vemos; temos ouvidos mas não escutamos; nossa língua não fala, imita; não aspiramos mas, sufocamos e nossas mãos tateiam no escuro. Exagero?
É exagero uma fenda sacudir por alguns segundos (alguns segundos) um território nação e transformá-lo em um amontoado de corpos e escombros como se fora um gigantesco “lixão”?

E dos escombros emerge o conhecimento da existência de almas dedicadas a amenizar o sofrimento alheio como essa Sra. Zilda Arns. Não me compraz a sua opção “religiosa”, mas a sua rotunda disposição em ajudar. Nisso está o seu valor. E isso sem o alarme midiático que agora se refestela em anunciar para o mundo a sua personalidade e importância global.

E ao grafar nação a referência aponta para um país onde a diferença entre ser pobre e miserável está por um alfinete. E isso abrange mais de 80% da população. A civilização mundial atual gaba-se de ser “A CIVILIZAÇÃO” como se as do passado longínquo pudessem ser definidas como atrasadas ou arrastando-se primitivamente através dos tempos. O ser humano não passa de uma frágil camada de consciência moral racional vivendo em cima de placas tectônicas formadas pelo imponderável das forças naturais que enigmaticamente revoluteiam nas profundezas de seu subconsciente.

Quando nos deparamos com uma tragédia humana dessa magnitude é exatamente essa magnitude que nos abala interiormente; movimentam nossas placas internas causando um terremoto que sacode nossa consciência. Por alguns instantes nos sentimos com os olhos bem abertos. Lembramos da tal solidariedade, compaixão, respeito, amor... ah! o amor...”quando é demais ao findar leva a paz...”

Dói saber que o tempo vai passar e o esquecimento vai encobrir como as areias do deserto, as pegadas do sofrimento resistente. E tudo voltará à superfície dos fatos. Até que um novo abalo dê uma sacudida forte nas estruturas da prepotência humana que reluta em perceber a falha que existe no profundo de sua alma.

5 comentários:

chica disse...

Que pena que seja assim e o pior é que veremos na próxima vez tudo novamente.Lindo texto alerta!abração,tudo de bom,chica

Graça Lacerda disse...

Leandro!

Foi preciso o abalo da sacudidela para que Zilda Arns fosse valorizada...
Foi preciso esse horror da natureza (implacável!) para que, mais uma vez o mundo acordasse desse 'prepotente' modo de viver e ver as coisas...
É uma lástima.
Meu coração dói com sofrimentos assim, que nos fazem sentir impotentes diante deles.
Em contrapartida, após os 'fatos' só nos resta orar e muito, pois nossas 'placas internas' já foram abaladas, e o abalo sísmico mais uma vez chegou sem avisar!!!
Muito bom seu texto!

Hod disse...

Olá Leandro,

Movimentos Tectônicos, Eras laciais, Maremotos, Terremotos, Mil vulcões, oscilações do eixo do Planeta e da orbita que não é um circulo perfeito,
Meteoros, Cometas... Não existe lugar mais insuto no universo para se viver.
Ainda contribuimos para agravar e provocar outros tipos de tragédias.

Oii Amiga Graça.. Pena que destivaste teu blog ???

Chica, bom descanso e volte com novidades da ilha!!

Amigos, obrigado por suas visitas em minha atmosferas.

Forte abraço a todos com muitas bençãos!!

Hod.

☆Lu Cavichioli disse...

Ah, como eu gosto de te ler, Leandro!

O Quiosque também tremeu com essa tragédia e ele existe pra isso mesmo: pra desabar desabafos

Parabén Soriano, por mais essa boca no trombone.

abraços, meu querido!

João Esteves disse...

Que chave de ouro, Leandro.
Só relendo o último parágrafo consegui apreciá-lo devidamente.