No Balcão do Quiosque

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Dilma não nos enganou.

Normalmente as doenças nos oferecem alguns sinais antes de se manifestarem. A gripe começa com um leve incômodo, uma dorzinha de garganta, antes de se transformar em febre de 39ºC. Algumas viroses se apresentam com uma leve dor nos membros, principalmente nas pernas, antes de nos jogarem na cama. Eu tenho uma característica particular de sentir o sabor acentuado do cloro na água, pouco antes de cair doente em quase todos os tipos de virose que se apossem do meu corpo, incluindo a gripe. Enfim, doenças dão sinais, uns mais leves e outros mais fortes.

Logo após a posse de seu primeiro mandato, Dilma nos deus sinais. Foram sinais leves, mas foram sinais.

Existe uma lógica na qual as colocações de uma pessoa muito idiota possam parecer geniais devido ao inusitado. Vemos isso no excelente filme Muito Além do Jardim, onde Peter Sellers fez seu último e memorável papel. No filme, o jardineiro Chance se vê as voltas com uma vida fora de seu abrigo e de sua companheira de uma vida inteira, uma pequena televisão. Ao entrar em contato com o mundo exterior, Chance acaba virando uma espécie de guru do empresariado, devido às suas colocações de jardineiro. Não que ele quisesse dar sentido às suas frases dentro do contexto das conversas, mas pelo fato das pessoas buscarem alguma mensagem mais profunda e transcendental ao que o jardineiro dizia. E assim Chance virou um "gênio".

Assim aconteceu com Dilma. Ao aparecer na frente de Lula com um laptop no qual parecia ter de tudo dentro (Livro Vultos da República - Editora Cia das Letras), a atual presidente se habilitou para ocupar cargos no governo Lula.
O restante da história nós já sabemos, mas e quanto aos sinais?

A língua portuguesa é manhosa. Ela deixa rastros de personalidade de quem a pronuncia. A gentileza, a arrogância, a bondade, até a dissimulação em tentar esconder uma personalidade, deixam seus "DNAs" no rastro do pronunciamento das palavras de nossa querida língua.

O primeiro ato de Dilma, como Presidente da República, foi afirmar que seria chamada de "Presidenta" e não de Presidente. No princípio houve um estranhamento de alguns, com discussões com professores linguistas, incluindo o professor Pasquale Cipro Neto.
Numa dessas justificativas, Pasquale afirma que a flexão do "E" em "A" na terminação "NTE", de "agente" por exemplo, pode ocorrer em pouquíssimos casos. Um deles é "PARENTE/ PARENTA"....o outro é justamente "PRESIDENTE/ PRESIDENTA".
Estava lançado o primeiro sinal. Dado ao inusitado da expressão, que na sequência seria confirmada como rara e correta, Dilma confirmou sua condição de "gênio" de personalidade forte, da mulher que se auto-afirma, conhecedora inclusive dos meandros da língua.

O jardineiro Chance estava no comando.
De lá para cá foram infindáveis sinais, até chegarmos onde chegamos.

Marcos Santos.

Um comentário:

☆Lu Cavichioli disse...

O gênio, me parece, acabou de escrever essa crônica.
Parabéns Marcos, fazia tempo que eu não lia algo tão interessante e inteligente: Do objeto direto ao pretérito imperfeito... Pra pensar.

abraços com saudade
beijo na Denise e no filhote