No Balcão do Quiosque

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conversas que Tive Comigo






Estou lendo “Conversas que Tive Comigo ,” de Nelson Mandela. O livro em si é até um pouco chato, e a leitura às vezes torna-se arrastada, pois é um apanhado de fragmentos de anotações pessoais, cartas e conversas que ele teve com pessoas, relatos de viagens, experiências que teve na prisão, encontros políticos... e até mesmo notas sobre sua saúde. Mas pesca-se  pérolas muito preciosas durante a leitura deste livro, o que seria impossível de não acontecer, devido a grandeza de quem o escreveu.
Mandela diz que a prisão é o melhor lugar para alguém pensar sobre a vida... às vezes, tem-se a impressão de que os vinte e sete anos que ele passou preso, na verdade, foram-lhe leves. Não vi, até agora (estou quase na metade do livro) nenhuma palavra de raiva dirigida contra seus opressores. Será porque as cartas eram censuradas?
O livro só faz aumentar a admiração que sempre tive por este homem único. E a certeza de que eu jamais, em milhões de vidas, seria capaz de ser como ele: entregar a minha vida e  a minha liberdade em defesa da causa de um povo. Arriscar-me a morrer para que outros pudessem ser livres. Pessoas como ele dão a mim uma noção exata de minha pequena pessoa, e de minha quase inexistente colaboração ao  mundo.
Em um dos relatos que mais me impressionaram até o momento, Mandela conta como, durante um julgamento, ele tinha certeza de que seria sentenciado à morte, e que ele não se importava. Tinha certeza, quando o juiz ia começar a ler a sua sentença, que ele estava morto. E a indiferença com que ele trata do assunto, surpreendeu-me; na verdade, chocou-me. É preciso uma grande dose de desprendimento, um idealismo fortemente arraigado dentro do coração, para ter uma reação assim. Qual de nós caminharia para a morte com tanta coragem e indiferença, com a certeza de que estaria fazendo uma troca justa: a vida pela causa?
Acho que pessoas como ele não são seres humanos comuns; são missionários. São maiores do que eles próprios. Não tem , em si, uma gota de egoísmo, e não podem ser comparados a nós, pobres seres humanos comuns.
Vinte e sete anos na prisão, sendo submetido a trabalhos forçados, passando fome, sendo mal-tratado e tendo seus escritos censurados. Durante um período, as visitas só eram permitidas a cada seis meses, e durante apenas trinta minutos. Acho que eu teria enlouquecido. Mesmo que , mais tarde, a dureza tenha sido relaxada, eu fico pensando no quanto a liberdade me é cara... mas eu estou falando apenas da minha pequena liberdade, essa coisinha egoísta de poder ir e vir quando eu quiser, a hora que eu desejar.
A liberdade da qual ele fala em seu livro e pela qual ele luta, é de outra esfera. Nem se compara à nossa. Nem ouso tentar compreendê-la.

5 comentários:

chica disse...

Bom apanhado, resenha do livro!! Parece bom,mesmo que não seja meu gênero!beijos,tudo de bom,chica

Milene Lima disse...

Houvessem mais homens como Mandela, haveriam menos povos subjugados, certamente.

Não li o livro da sua história, mas esse apanhado instigou-me. Dos filmes que vi, muitas sensações me tomaram: revolta, admiração, dor...

Viva Mandela, sempre!

Beijo!

☆Lu Cavichioli disse...

Oi Ana, também não li o livro, mas este apanhado tipo resenha definiu a história deste homem admirável!

E foi bem produtiva esta conversa contigo. Arrumar a casa é sempre bom e prestar atenção nos quadros fixos na parede do inconsciente também renova o espirito.

Catarse total!
beijo!
:)

Apenas Ysolda disse...

Maravilha tudo por aqui. Parabéns, Ana querida!!!

Já estou seguidora.

Beijos,

João Esteves disse...

Boa leitura, Ana. Personagens como Mandela, que deixaram exemplo e contribuição tão relevantes são mesmo bem raros, mas eternamente inspiradores.