No Balcão do Quiosque

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Chamada Geral




Final de ano, tudo fechando pra balanço... Mas o Quiosque não! É isso mesmo, gente.
O Quiosque do Pastel está repaginado e pretende reabrir suas portas em breve contando com mais colaboradores e muitas novidades.

As luzes foram acesas e sempre tem gente no balcão, então mãos a obra.
Não sei onde andam meus colaboradores. Alguns bateram em retirada e deixaram suas salas abandonadas. Outros continuam passando por aqui, mas ficam anônimos e nos deixam a procurar rostos. Eu mesma tirei umas longas férias e deixei nossa casa nas mãos de meu administrador e amigo Marcos Santos o qual cuidou muito bem de nosso Quiosque.

O espaço continua aberto para postagens.

Assunto? Todos.

Fotos pessoais? A que você escolher.

Imagem? Aquela que melhor casar com sua crônica.

Escrevemos para quem quiser ler.

Reestréia?
A qualquer momento!

Abraços e vem pro quiosque!

Lu C.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esta Casa de Crônicas deseja...




... A meus colaboradores, amigos e seguidores - BOAS FESTAS e um 2011 de mais reflexões sobre o AMOR, a PAZ, a UNIÃO, o RESPEITO AO SEMELHANTE, o PARA COM O PLANETA e que possamos lembrar que há de se cuidar do CORPO E DO ESPÍRITO.

Até breve e um GRANDE ABRAÇO FRATERNAL da amiga

LU CAVICHIOLI

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Adolescência quântica

Hermes remoia a frase em sua mente que acabara de ler: “o homem é a prova concreta da falência da sua condição imortal”. Seus 14 anos era como um pires para se cortar uma melancia inteira. Maturidade que sufocava; faltava-lhe cotas extras de oxigênio perceptivo para os largos pulmões de sua consciência.

Em uma tarde chuvosa (sempre admirou a beleza das tardes chuvosas; dizia que o tempo instável e bravio despertava-lhe com voracidade o espírito inquiridor), Hermes, sentado à varanda de sua casa, olhando para os pingos de chuva que forçavam as folhas a se movimentarem bailadamente, teve uma idéia; uma idéia não, teve uma revolução mental provocada pelo espírito criativo:

“Não quero fazer 15 anos de idade; quero passar dos 14 para os 28”.
“Quem inventou a adolescência deve ter um senso de humor idêntico a de uma sardinha” — pensou.

É a mais tola das fases humana. Não me sinto criança e nem sou adulto; sou essa coisa indefinida que chamam de adolescente. Vou fechar meus olhos e em 5 segundos ao abri-los serei 14 anos mais velho. Serei um adulto. Serei como me sinto realmente. Um homem adulto.
Após um piscar de olhos, uma tartaruga olhava preguiçosamente para seus pés descalços. Agachou-se, pegou o insigne quelônio, afagou-o desajeitadamente devolvendo-o em seguida ao piso frio de sua varanda.

Não se lembrava de ter um bicho desses. Acompanhou com os olhos o lento movimento daquele animal que deveria medir uns 25cm de casco. Pensou: que vida mais estúpida! Com essa lentidão não sei como consegue procriar. Toca o telefone... levanta para atender. Uma voz rápida pede que esteja no escritório em 15 minutos em caráter urgente. Mas nem terminei o meu almoço. Levanta para pegar a chave do carro, toca o celular: “ alô amor, você pode passar na academia para pegar o Edu, estou indo com a Ciça no shopping; Ah, não esquece de trazer o laptop que já está pronto na assistência. Devo chegar tarde. Tem pizza semi-pronta. Tchau.”

Abriu a porta e se depara com uma pilha de cartas. Multa da Beth; aviso de corte de crédito e mais 9 envelopes todos eles contas próximas do vencimento.

No escritório o ambiente mais parecia uma sala de guerra em Bagdá do que uma atmosfera de trabalho. “Hermes, o chefe tá uma arara esfomeada com você”.

— Hermes, ontem recebi o nosso maior cliente para apresentar o projeto de lançamento e onde estava o senhor? Perdendo tempo com o estabanado do Galvão. Já disse que é a mim que você tem que se reportar. Chega né!

Vou precisar da revisão para amanhã às 8.

— Mas isso deve levar umas 5, 6 horas de trabalho direto...

A noite é uma criança. Peça pizza pra você e a Cleusa. Quero os dois nisso.

O cérebro de Hermes estava começando a entrar em ebulição.
Olhou pela janela e percebeu o quanto o mundo lá fora regurgitava de vida apressada, acesa tanto quanto os faróis dos carros engarrafando-se nos cérebros intransitáveis devido ao excesso de vazios acumulados.
Lembrou da tartaruga, esse representante exclusivo da paciência milenar e percebeu que sua aparente calma zen na verdade era o resultado do fardo acumulado por uma vida endurecida no casco de tantas regras e desregras.

Cada vida vivida, cada vida morrida acrescia uma nódoa de cristalização arquivadas burocraticamente no porão do sem sentido.
Olhou para o relógio... faltavam 15 segundos para 15 anos. Respirou fundo — pela primeira vez — sentindo um sentimento que talvez nunca percebera que o acompanhava segundo a segundo; podia pegar a lua com a mão, de olhos fechados; voar com a imaginação para outras galáxias; vencer 500 Golias com a força de um colibri; saudar o sol que arde dentro do coração e... dormir com a alma abençoada pelo rastilho de pólvora ainda umedecido pelo orvalho das muitas portas que a consciência pode abrir para esse parente de primeiro grau da eternidade.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Aprenda a chamar a polícia!

Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.

Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.

Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,espiando tranqüilamente.

Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma:


-Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.

Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado.
Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.

No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:
-Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.

Eu respondi:


- Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível.



(Luiz Fernando Veríssimo)

sábado, 9 de outubro de 2010

Tradição

"Tradição (do latim: traditio, tradere = entregar; em grego, na acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis παραδοσις) é a transmissão de práticas ou de valores espirituais de geração em geração, o conjunto das crenças de um povo, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através das gerações.
A tradição e sua presença na sociedade baseiam-se em dois pressupostos antropológicos:
a) as pessoas são mortais;
b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento entre as gerações."...


Não há dúvidas de que a tradição vai muito além dessa breve definição, preguiçosamente copiada da Wikipédia.
Para nós mortais, religiosos ou não, o significado de tradição passa por castas, famílias, classes sociais...Enfim, por todos aqueles que, de alguma forma consideram-se especiais diante dos outros pobres mortais. Aliás, mais pobres e mais mortais do que eles próprios.

A família entra como um parágrafo a parte quando o assunto é tradição. Algumas famílias sentem-se mais tradicionais do que outras. A escala de medida não é bem clara, mas mesmo assim elas conseguem diferenciarem-se, qualificando a si próprios, enquanto desqualificam os outros.

Alguns enchem a boca para pronunciar seus sobre-nomes italianos: "Antognoni", "Farfareli", "Fidelini", "Falconieri"...Na verdade descendem de pobretões que vieram ocupar com grande vantagem e incentivos, os lugares deixados pelos pobres escravos negros, largados na sarjeta. Embora não conhecessem nada do riscado da cafeicultura, eram mais branquinhos e bonitinhos do que aqueles "crioulos horrorosos" (Não consigo enxergar outro motivo para tal sacanagem). Já há outros que capricham no biquinho para pronunciar "Fechecler", "Abajour"...Enfim, tradicionalíssimos de grande e nobre estirpe.

Mas existem aqueles que, inconformados com sua falta de "berço", não exitam em apelar ao casamento, na busca incansável da "tradição". Nesse caso, vai aí a possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afinal, linhagem é linhagem, não importando se o acesso à "tradição" se dá pela entrada da frente ou pela saída de trás.

O meu caso não foge a essa regra.
Totalmente sem tradição, minha família teve seu início a partir de um português sem sobre-nome.
- Qual o seu nome meu senhor?
- Antônio José...
- Mas Antônio José de quê?
- Antônio José de nada ó pá.
- Antônio José de Nada é o nome completo? O sobre-nome é "Nada"?
- Não, o sobre-nome é nenhum.
- Afinal, qual o seu nome completo?
- Ó pá, é Antônio José e ponto final, mas sem escrebere o "ponto final". Está bem entendidinho?
- Então vamos tentar a sua filiação. Nome do seu pai?
- José Antônio.
-...De quê?
- Só isso
- ?!? Tá de sacanagem portuga? Nem quero saber o nome de sua mãe.


Não preciso dizer que hoje, alguns de seus decendentes retorcem-se na busca de alguma junção matrimonial que os "tradicionalize". Outros tentam desesperadamente arquitetar algum sobre-nome que se encaixe na história de meu avô. Teria sido Pato? Ou Pereira? Quem sabe Oliveira?

De onde veio, de que família pertencia, onde nasceu...Dele só se sabe que era um tripeiro. Não no sentido tripeiro, nascido no Porto (para quem não sabia dessa, vale a curiosidade), mas o tripeiro que vende tripas, miúdos do boi...não os miúdos no sentido dos "filhos dos bois portugueses", mas no sentido das vísceras do bicho.
O que se sabe é que, aproveitando-se de uma época em que o homem da casa não tinha satisfações a dar, meu avô iniciou a família "José Ninguém".
...E assim espalhou suas sementes pelas terras brasileiras, mais precisamente em Turiaçú, entre Madureira e Rocha Miranda, no subúrbio do Rio de Janeiro.

O que se fala sobre Antônio, dá conta de um bom homem, trabalhador honesto e pai dedicado, mais nada (o que já me basta).
Sua cidade portuguesa de nascimento segue como uma incógnita. Suas reconhecidas presteza, bondade e simpatia, de certa forma o protegeram de especulações maldosas, que certamente seriam feitas a respeito de sua reduzida alcunha.
Mas eu, como descendente e herdeiro de sua cepa, por direito de neto, serei inconseqüente e arriscarei em especular:
Teria Antônio José emprenhado alguma galega e partido para o Brasil, abdicando do sobre-nome para não ser localizado por um pai furioso?
Faz sentido...
Ou tudo isso, mas no lugar do pai furioso, um marido traído?
Faz mais sentido ainda...
Ou teria dado um calote na praça lusitana e fugido para o Brasil de modo a usufruir dos benefícios do golpe?
Considerando sua vida inicial em Turiaçú, num canto da casa que minha avó dividia com suas irmãs...Se foi golpe, foi mal sucedido.

A verdade mesmo de toda essa história, é que o bom Antônio José construiu uma família sem nenhuma tradição. A família "José Ninguém", cuja maior tradição é exatamente essa...Não ter tradição alguma.
Então? Vamos continuar assim? Vamos manter nossa tradição secular?

Enfim...Tradição é isso.


Marcos Santos

Fotografia: Gravura sobre a tradição em família, de Gordon Lawson

sábado, 2 de outubro de 2010

Festa na véspera.....mais o ladrão chefe

Então é isso? Uma eleição cuja campanha começou antes da hora acabou antes que os votos sejam depositados na urna? A vencedora de véspera já estendeu a mão, magnânima, à oposição; seus dois maiores caciques começaram uma briga intestina; cargos são distribuídos entre os partidos da base e os assessores já preparam os planos e projetos. Fala-se do futuro como inexorável.

O quadro está amplamente favorável a Dilma Rousseff, mas é preciso ter respeito pelo processo eleitoral. Se pesquisa fosse voto, era bem mais simples e barato escolher o governante. Imagina o tempo e o dinheiro poupado se pesquisas, 30 dias antes do pleito, fossem suficientes para o processo de escolha?

A estrutura da Justiça Eleitoral, as urnas distribuídas num país continental, mesários trabalhando o dia inteiro, computadores contando votos; nada disso seria necessário. Mas como eleição é a democracia num momento supremo, respeitá-la é essencial.

Os que estão em vantagem, e os que estão em desvantagem, não podem considerar o processo terminado porque isso amputa a melhor parte da democracia, encerra prematuramente o precioso tempo do debate e das escolhas.

Dilma já sabe até o que fará depois de ser eleita, como disse na sexta-feira: "A gente desarma o palanque e estende a mão para quem for pessoa de boa vontade e quiser partilhar desse processo de transformação do Brasil."
Os jornalistas insistiram, ela ficou no mesmo tom: "Estendo a mão para quem quiser partilhar. Eu não sei se ele (Serra) quer. Você pergunta para ele, se ele quiser, perfeitamente."

Avisou que se alguém recusasse, não haveria problema: "Pode ficar sem estender a mão, como oposição numa boa que vai ter dinheiro." Já está até distribuindo o dinheiro público.

Feio, muito feio. Por mais animador que seja para Dilma os resultados da pesquisa — e deve ser difícil segurar a ansiedade — ela deveria pensar em algumas coisas antes.
Primeiro, que falta o principal para ela ganhar: o voto na urna. Segundo, que o eleitor muda de ideia na hora que quer, porque para isso é livre. Terceiro, que, novata em eleição, deve seu sucesso a fatores externos a ela: o presidente Lula, o momento econômico e a eficiência dos seus marqueteiros.

Aliás, o marketing de Dilma tem sido tão eficiente em aparar todas as arestas de sua personalidade que criou uma pessoa que nem ela deve conhecer.

O salto alto não é só dela, a bem da verdade. A síndrome das favas contadas se espalha por todo o seu entorno, cada vez mais desenvolto. Por isso já começaram a brigar os generais de cada uma das bandas: Antonio Palocci e José Dirceu.
Da última vez que brigaram, os dois caíram. A disputa dos partidos da base de apoio pelos cargos públicos, como se fossem os despojos da guerra já vencida, é um espetáculo que informa muito sobre valores, critérios e métodos do grupo.
A desenvoltura do já ganhou é tanta que até o presidente Lula, dono da escolha autocrática de Dilma, parece meio enciumado e reclamou que já falam dele no passado. E avisou: "Ainda tenho caneta para fazer muita miséria."

A declaração inteira é reveladora: "Tem gente que fica falando aqui como se eu já tivesse ido embora, mas ainda tenho quatro meses e alguns dias de governo. Alguns falam como se eu já tivesse ido. Tem gente que se mata para ser presidente por um dia e ainda tenho quatro meses e alguns dias. Ainda tenho a caneta para fazer muita miséria nesse país."(PALAVRAS AMEAÇADORAS, TIPICAS DE DITADORES). O sentimento é um perigo. O presidente Lula já está fazendo miséria. Atropelou o calendário eleitoral, zombou das multas na Justiça, pôs o governo que dirige para trabalhar pela sua candidata como se a máquina pública fosse um partido político.


Cada um faça sua própria avaliação dessa frase de um presidente:
(Não tem nehuma conotação nem de longe com patriotismo, com nacionalismo, com algo do tipo bem feitor, a sensação é de ódio, destruição, poder pra fazer o bem e o mal, de quem tem a chave da justiça em suas próprias mãos)

AINDA TENHO A CANETA PARA FAZER MUITA MISÉRIA NESSE PAÍS.

Por Miriam Leitão*

só de passagem e repassando a mensagem!
(Lu C.)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cena Urbana - O Mendigo Molhado

Nem mesmo a sujeira de sua indumentária permanecia solidária, visto que a força das chuvas arrancavam-na,
transformando-a em lama fétida.

A enxurrada que caía sobre seu corpo, era o contado mais íntimo que a muito não tinha,
visto que até aos ossos penetrava.

A torrente fria que lhe cobria
era seu único aconchego.

Conforto sem conforto,
sem leira nem beira,
... sem ninguém...

Apenas um pedaço pensante de carne, ainda viva.
Depósito de anticorpos e defesas bacteriológicas.

Um laboratório vivo promíscuo.
Produtor de odor, suor, fezes e urina.

Um vivo morto.
Um morto vivo.
Um Ser Humano Urbano.
Um Ser do trânsito.

Como um poste,
um bueiro,
uma placa,
uma sarjeta.


Marcos Santos