No Balcão do Quiosque

quinta-feira, 4 de março de 2010

Homotextualismo

Vamos tecer alguns comentários sobre o prazer textual e suas preferências. Sem preconceitos. Abertamente. Isso... com a mente bem aberta. Você cresceu e sei que já é o momento de se falar sobre o assunto de uma forma direta e clara.

Ao ver um livro diante de você, se apresentando com um título interessante, com uma capa estilo couchê, todo com aplicação de verniz com reserva, sente uma atração — sem reservas — incontrolável de se aproximar do seu conteúdo, na intuição que ali pode estar a mais excitante leitura de sua vida; fantasias indescritíveis percorrem cada linha de sua imaginação; terceiros, de gosto duvidoso, emitiram o mais desfavorável comentário a respeito; ao tocá-lo, revela-se cheio das intenções de propor histórias que em muito extrapolaria o seu prazer textual; por mais que o convite ao aprofundamento além da paródia maniqueísta, lhe seja perigosamente sedutora, é vã a tentativa de encontrar o ponto G do seu arcabouço literobidinoso; e mesmo diante de todas essas evidências você o tem como referência para saciar sua sede de inspiração. Mas desiste e vai videocopular com o aparelho de tv ao menor sinal aberto e sem trancas — um voyer de aventuras superficiais. Humm... temos aqui evidência de um homotextualismo carpe die ao avesso (ou aversão à boa literatura). Relaxe e faça o melhor com o que tens em mãos... ou melhor, em vistas. Se esse é seu prazer, respeita-se peremptoriamente.

Agora, se andando pelos sebos da vida, você se depara com uma edição de capa rasgada, ou mesmo sem capa mas de sólida e definida reputação textual; toda pronta para ser lida até o rodapé; daquelas leituras que você com certeza levaria pra cama não apenas para deixá-la à cabeceira como um aventuroso enfeite, mas ao — com a devida data venia do verbete — penetrar o seu conteúdo, levá-la-ia aos sonhos para alimentar a realidade; capítulo a capítulo desvelar-se-ia a assinatura indelével da delicadeza temperada pela astúcia; a docilidade das frases a vagar em suspense; alternando com a retumbante visão da loucura; uma paixão além de ponto e vírgula; crescer interiormente, bem no mais profundo da mente; um viajar por universos, múltiplosversos, infinitusversos ... Sim, rejubilai: és um heterotextual convicto. Respeitado peremptoriamente.

Conta-se ainda um outro tipo sem luz própria; vaga sem lume: o bitextual. O tipo mais indefinido a respeito do uso que faz de sua literobidinosidade. Trafega textualmente ora pelos prazeres homotextuais, ora heterotextuais. Ainda não encontrou sua alma gêmea, literatextualmente falando; ou alma irmã; quem sabe ainda um parentexto de terceiro grau. Ou encontrou e não sabe — sei lá.

Bem, percebe-se que o assunto é vasto. Diria vetusto. Textólogos de plantão hão de se manifestar e infestar com suas retumbantes argutas argumentações, toda a idiossincrasia pertinente ao opulento tema. Porém que prevaleça o amor pelo prazer textual de alto nível sempre.

5 comentários:

chica disse...

Concordo contigo.Não importa como...basta que preveleça o amor pela leitura, pela BOA LEITURA...abraços,chica

Graça Lacerda disse...

...homo, hetero ou bi: não importa! O importante é que se opte pela boa leitura, de alto teor de qualidade...

E que os verdadeiros ou pretensos textólogos não nos importunem...

Tenho dito.

Muito bom, Leandro!!!

Marcos Santos disse...

Não tenho salvação. A alergia ao pó expulsou-me dos sebos e só restaram-me os "pisca-piscas" nas estantes da Livraria Travessa.

VELOSO disse...

MUITO BOM BLOG E TRABALHO ESTAREI POR AQUI VALEU!

Barbara disse...

Tô de acordo com a Graça mas confesso tesão eterna por Herman Hesse.