No Balcão do Quiosque

terça-feira, 7 de julho de 2009

Entrevista com a verdade. Um conto verdadeiro

Temos a honra de trazer a todos os amantes da verdade, a primeira entrevista realizada ao vivo com esta que é sem sombra de dúvida, o ideal mais buscado e rebuscado pelo mais fidedigno ser humano.

— Boa noite Sra. Verdade, é uma imensa honra pod...

— Me desculpe a interrupção mas, o que o fez se referir a mim com o tratamento no gênero feminino?

— Bem... eu não saberia cumprimentá-la no gênero masculino pois não me soaria usual dizer...boa noite Sr. Verdade.

— Compreendo. Mas devo lhe adiantar que, nenhum dos dois gêneros aplica-se a mim. Estou acima de número, gênero e grau. Por isso sou a Verdade. (aplausos entusiasmados)

He, he, he...nossa platéia está atenta e bastante atuante hoje.

— Mas, diga-nos ... éemmm... Verdade, por quê és tão procurada e dificilmente encontrada?

— Isso não é verdade. Devo dizer que poucos me tem procurado. Por vezes tenho que me abstrair com algum passatempo pra escapar do tédio. E olha que não me escondo não! Esse ser humano é que é preguiçoso. Vive lá aos rapapés com a mentira, que promete uma vida que é só cenário — um cenário tão bem feito, diga-se de passagem, que parece de verdade.

— Mas pelo que se sabe, é histórico, chegando a ser épico, o quanto há eões de tempo, o ser humano a tem procurado... coff, coff (uma tossidela pigarreante); tendo inclusive gerado guerras, derrubado civilizações, criado leis...

— Ahhh, que nada! Esse tal de ser humano só quer saber de ser o que ele não é. Se ele fosse o que deveria ser, seria como eu por exemplo. Sou o que sou: in-con-tes-tá-vel.

— Como você conquistou essa posição inconteste?

— Uma coisa eu posso lhe dizer: não foi através da política. (huuuuuuuuuuu... vaias de uma parte da platéia)

He, he, he...Verdade é engraçada e tem um ótimo senso de humor, não é meus amigos?

— Nem sempre meu caro, nem sempre. Às vezes sou contundente; chegando mesmo a ser trágica. Já desmascarei muita gente com a minha incontestabilidade. Sei por exemplo que você …

Hum, hum...voltamos já, já, após nosso intervalo comercial.

Estamos de volta com a entrevista de hoje. Aqui com a gente, cara a cara: Verdade

— Qual mensagem você poderia deixar para a juventude que está iniciando a busca por Verdade?

— Nenhuma.

— Desculpe...

— Pra que deixar mensagem, orientação, toques, dicas, pra juventude? É tudo mentira mesmo. (OOOHHHH!!!..., exclamou a platéia)

— É isso. Vocês criaram através dos tempos uma atmosfera tão carregada de mentiras, que de geração em geração, quem nasce, vive respirando mentira. Se tirar a mentira, você estará tirando o oxigênio delas. E se eu aparecer e dizer que eu sou a Verdade ninguém acreditará. Pensarão que é mentira.

Interlocutor coça a cabeça, ri amarelado, tosse asmaticamente; se recompõe

— Mas como faríamos para nos libertarmos disso; de toda essa atmosfera envenenada? Dê-nos o conhecimento para atingirmos a purificação e sermos como você, Verdade...(silêncio sepulcral na platéia)

Verdade olha bem de frente para a lente que a enquadra em close. Continua olhando em total silêncio.Sem dizer uma palavra, levanta laconicamente e se dirige em direção à platéia; passa em meio a milhares de espectadores sem que ninguém a perceba; vai em direção à porta de saída do teatro, para e chama um táxi.

— Boa noite Sr. Mentira, pra onde vamos? — Se preocupe apenas em dirigir, ponha o veículo em movimento. Deixe que o caminho, eu indico.
Vruuummmmm...

3 comentários:

chica disse...

Plac,plac,plac(isso são aplausos,pelo menos na minha concepção...) Lindo,reflexivo e com um humor maravilhoso o modo que encontraste de falar sobre a VERDADE que realmente não precisa ser mostrada.Ela ESTÁ AÍ só não vê quem não quer...Adorei.abração e tudo de bom,chica

Anônimo disse...

Leandro

A a verdade feminina ou masculina não importa.
O certo é que ela deve indicar o caminho sempre.
Esse texto deveria ser encenado em um palco de teatro.
Magnífico.

beijo

Rose

Madalena Barranco disse...

Leandro, eu também me uno aos aplausos!! O texto é divertido e... Verdadeiro!

Beijos