No Balcão do Quiosque

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A última saudade

Um quarto vago, cheiro de abandono por certo o dono, sem desafios, correu mundos sem ir além de algumas quadras. Nada faltou ao homem grotesco, sem parentesco com reflexos e nexos de uma arte qualquer. Lei que deságua, no rosto expressão brava, o mundo deu de ombros ao canto da sereia a um Ulisses, que se tu visses, despercebido seria tamanha abundância de alma vazia.

Feito de sonhos, um homem medonho tem de si um medo tamanho guardado no bolso como um trocado barganha na feira de gente esquecida de dor tão doída sem ter mais o que sentir inventa felicidade no fim da idade pra ser melhor sem tristeza, chega de mentir.Ah! ... minha santa bondade, vem outra idade e eu que já fui, agora só penso na demora do fim que sou dentro de mim. Minha esperteza é destreza talhada por sombras feitas de giz.

Quero partir mas sou-me inteiro inútil e cansado corro pros lados recolho todos meus fardos como gari. A planta saudade me faz ter vontade de ao menos um tempo fugir de teu tempo, voltar à raiz. O ponteiro minuto não é mais arguto; pobre coitado não anda ao lado do último segundo que não mais está por aqui. Estrelas minhas memórias que em mim estão guardadas obnubiladas pelo brilho lembrança sol de meio dia.

Na minha morte será que dou sorte de virar pro lado e dormir como um soldado que o inimigo tombou; piscar meu olho direito depois de ter feito um pedido a quem me aceitou? Indo embora agradeço sem demora ao menos um adeus reconhecendo uma por uma no fim da idade está minha última saudade.

6 comentários:

chica disse...

Quanta tristeza na vida desse pobre homem que nem na hora de ir embora pra sempre, livra-se de uma saudade...Saudade de quem nem viveu...abração,tudo de bom,chica

João Esteves disse...

Sua Última Saudade, Leandro, foi pra mim muito agradável de ler, no bem escrito do texto, nas filosofanças que me provocou.
Meu destaque vai para a profusão de rimas internas estrategicamente bem espalhadas por todo o texto, num remartelar oportunamente transposto da poesia metrificada para o fluxo da consciência de possível inspiração Joyceana. Sua interessante personagem goza de alguma universalidade, no que expõe seus embates com a própria finitude, a própria condição mortal, sempre melhor percebida em idade madura, por assim dizer casmurra.
Última saudade que se sabe absolutamente saudade mas não se garante absolutamente última, ficando por última até o momento, ciente de que outras saudades ainda se podem apresentar, cada qual por sua vez última até o momento.
Simpatizo e mais, identifico-me com esta personagem em várias passagens.
Valeu, Leandro!

☆Lu Cavichioli disse...

Querido Soriano vejo um texto que dança sob a leitura. Como disse bem, nosso amigo João, essa profusão rimada e tão bem desenhada, fez dessa saudade um motivo a mais para ler e reler tua crônica.

Parabéns meu amigo.
beijo da Lu

Jacque disse...

Tenho um selinho sem regras para você no Blog ARCO - IRIS ENCANTADO.

Beijo.

Jacque

Ramosforest.Environment disse...

Um belo exercício literário.
Obrigado por compartilhar esse seu texto.
Luiz Ramos

Leandro soriano disse...

Neo-orkuteiro, não sobrou nada da mosca. Boa pontaria.

Chica, esse texto é uma tentativa lírica de apontar uma realidade acima de toda e qualquer tristeza.

Dear Lú. Grato pelo belo espaço que você criou para atrair amigos.

Jacque, não entendi ainda o que significa esse "selinho". Tel me please. Mas grato,
muito grato.

Ramos, querido amigo. Abraços a você.