No Balcão do Quiosque

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gafe

Sentados à mesa, num desses restaurantes entupidos de grã-finos em Porto Alegre, o jovem casal conversava: - Ana, tu tá com aquela tua calcinha vermelha? O garçom era um sujeito branquelo e esticado, mantinha a cara bem fechada fazendo com que os clientes o respeitassem. – Ai Marcio, não começa! Ana era daquelas gurias de pura linhagem, descendência européia, bem criada em berço de ouro e mármore, podre de rica, bem vestida e bem gostosa, beirava a perfeição, filha de fazendeiro, nunca andou a pé, nem de ônibus, estudante de administração em faculdade particular; esse naipe de mulher existe no Rio Grande do Sul em grande quantidade e não é couro pra qualquer catinguento passar a mão. – Tira Ana, e me dá aqui! Marcio não era diferente! Bem de herança, principiado nos negócios do pai, aspirante a milionário, nunca andou a pé, nem de ônibus, sangue europeu, estudante de administração em faculdade particular; esse tipo de cara existe aos montes no estado do Rio Grande do Sul e mete a mão onde sente vontade. – O que tu disse? O garçom esticou o pescoço fino em direção àquela mesa devido ao tom levemente alterado que Ana usou ao fazer a pergunta. – Quero que tire a calcinha e dê na minha mão, de presente. O ambiente era funéreo, a luz baixa, as pessoas cochichavam, somente o tilintar das pratas e cristais quebravam a monotonia do lugar. – Ah! Bom! Tu só pode tá louco né... Te liga guri! O garçom, que se parecia muito com um ganso, ou uma garça, ou um flamingo, ou qualquer dessas aves pescoçudas de banhado, inclusive no modo de andar, aproximou-se da mesa do casal a fim de bisbilhotar o assunto dos namorados. – Eu quero a tua calcinha vermelhinha agora! Marcio era atrevido e estava tão excitado que nem se dava por conta da aproximação do funcionário. – Tu tá conseguindo estragar o meu jantar Marcio! Já tinham bebido uma garrafa de prosecco e estavam ambos quilômetros adiante de Bagdá. – Tu nunca me negou nada Aninha, faz isso pro teu benzinho faz... O garçom discretamente observava os cabelos sedosos, claros e bem cortados da moça, era um desbunde, mesmo estando acostumado à beleza das gaúchas incríveis que ali freqüentavam, o atendente se deixava impressionar pela beleza dessa minha personagem. – Dá pra ti parar? Marcio enfiava seu pé bem calçado em couro legítimo por entre as pernas brancas da namorada que se arrepiava e não parava quieta na cadeira. – Eu quero a calcinha! A essa altura do campeonato todos os demais clientes estavam percebendo e observando – com etiqueta – a indiscrição do casalzinho. – Marcio, pelo amor de Deus guri! Um casal de velhos endinheirados levantou da mesa com ar de indignação – os leitores sabem como são nojentos esses velhos apoderados. – Eu quero só sentir o cheiro bom da tua... – Pára Marcio! Dessa vez a mulher gritou! O garçom interferiu: - Senhores, infelizmente sou obrigado a solicitar que se retirem! – Viu Márcio, viu o que tu fez! Que vergonha! Minha linda personagem disse isso com cara de choro. – Bah! Mas tu é bem chata mesmo hein! Marcio atirou duas notas de cem sobre a mesa, virou as costas e saiu dizendo: - Pode ficar com o troco! A mulher irritadíssima atirou dentro do prato a calcinha vermelha pequenininha – coisa mais bonitinha – que trazia fechada na mão direita! E se foi gritando: Marcio, espera aí seu filho de uma...

3 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Pela cor da prenda (a calcinha, não a gaúcha, tchê) eu diria que o episódio se passou em dois anos distintos, embora com a rapidez de uma gafe clássica.
- Humor e erotismo bem dosados são sempre uma combinação estimulante... Parabéns, Léo.

Leonel disse...

Cena insólita! Difícil imagina-la na tão discreta Porto Alegre, mas os tempos mudam, a cor das calcinhas também!
Aliás, a guria acabou deixando a dita para o garçom!
Mais um talento neste blog tão agraciado!
Cumprimentos!

Milene Lima disse...

Um amigo garçom me disse certa vez que adorava ver os senhores apoderados, arrogantes como esse teu coadjuvante, acompanhados de suas belas e jovens mulheres, adentrarem no restaurante que ele trabalhava. Na verdade ele gostava mesmo era na hora da saída, quando ficava a reparar as ancas generosas das jovens senhoras.
Muito saliente esse meu amigo, repare!

Mais uma cena digna de se tornar roteiro de cinema, enfim... Parabéns, Léo Santos!