No Balcão do Quiosque

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Projeto

Porto Alegre, verão 2010/2011

Poderia ser em qualquer lugar da cidade, não seria nem mesmo necessário que fosse em Porto Alegre, qualquer cidadezinha de beira de estrada serviria ou, resumindo, que fosse em qualquer canto do mundo. O importante é que fosse só meu. O espaço interno poderia ser qualquer coisa mediana, razoável, cinco por cinco, três por três, tanto faz, por ínfimo que fosse, o tamanho, sinceramente, não me importaria, não me importaria nem um pouco. O importante é que eu coubesse dentro. E a decoração? Bem, decoração seria totalmente dispensável, não que eu não goste de papéis de parede, pinturas abstratas ou figurativas, plantas e bibelôs, é, digamos que de plantas e bibelôs eu, realmente, não goste, mas a questão não é essa, o que quero deixar claro aqui é que pouco me importaria se fossem paredes sem reboco, piso de chão batido e telhado de zinco, não quero saber, a estética do ambiente é a última coisa que me preocupa. O importante é que eu me sentisse bem. Quanto a iluminação e ventilação eu até afirmo: estas sim são questões indispensáveis. Um ambiente arejado seria fundamental para mim, eu não sobreviveria sem uma boa porção de vento fresco na cara permanentemente, assim como a ausência de luz seria, da mesma forma, um infortúnio, a luz, em verdade, seria tudo, sem luz nada feito e, para tanto, seria de bom tamanho uma janelinha com venezianas e um bico de lâmpada – para as longas noitadas. O importante é que eu estivesse vivo. A mobília seria algo tri simples: uma mesa central, não precisaria ser uma mesa enorme nem muito alta, que bom que fosse uma mesinha pequena e baixinha, nem nova precisaria ser, uma de segunda mão resolveria meu problema numa boa, não me apego a detalhes e, também, precisaria de algo em que eu pudesse me jogar exausto, esgotado, fraco, alguma coisa que eu pudesse usar como leito de reposição de energias, onde eu pudesse tanto repousar de olhos abertos ou tirar um cochilo leve como morrer feito um porco babando e roncando. Creio que se não fosse possível dispor de uma cama, uma poltrona fofa daria conta do recado, ou uma almofada, é, taí, uma almofadona grande, quase do tamanho de um homem, o fato é que, fosse como fosse, eu estaria satisfeito, completamente satisfeito. O importante é que eu estivesse satisfeito. Pra encerrar, sobre a mesa eu poria um notebook, um computador comum, uma máquina de escrever, qualquer coisa que tivesse teclas ou até mesmo um calhamaço de papel e uma caneta ou lápis, não me interessa, juro, meu querido leitor, que não me interessa nada, nada, nada além de sentar, relaxar e viver o resto da vida inventando estórias.

Mais textos de Léo Santos? No blog Nota Preta.

11 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Excelente projeto, Léo. Mas, por favor, não se esqueça da conexão via internet... porque você já tem leitores cativos para suas estórias, e eu sou um deles.
PS: Eu ainda grafo, teimosamente, "história"...
- Abraços.

Anônimo disse...

Te sigo aqui também.
Boa semana pra ti!

Janaina Cruz disse...

Eu procurei um lugar assim também pra mim meu amigo, um lugar pequeno, com pouca mobília bem iluminado e com silencio suficiente para que eu pudesse ouvir as minhas canções favoritas e meus próprios pensamentos... Mas só encontrei esse lagarzinho dentro de mim, onde me perco tantas e tantas vezes e me faço e me refaço em poesia e prosa... Vou seguir-te aqui também para vislumbras as tuas histórias...

João Esteves disse...

Detalhes em profusão quantitativa em geral pouco agregam de qualitativo à vida e nesse caso realmente contam pouco, bem pouco.
A simplificação em seu projeto é extrema, radical, mas uma simples ressalva já salva tudo: desde que você se sinta bem, tanto faz realmente qualquer coisa.

Como dizia uma canção antiga, chamada Barato Total, "Quando a gente tá contente/ tanto faz o quente/ tanto faz o frio/ tanto faz..."
Feliz 2011

Isa Martins disse...

Oi Léo, chegando por aqui...
Um belo projeto que fico aqui torcendo pra que se torne realidade, basta acreditar né?
Quanto a decoração? bem... eu adoro criar e enfeitar rsss, minha maior alegria é introduzir cores e belezas, já viu pelos meus blogs né?
Acho que nossos talentos são os nossos maiores tesouros e tem que ser trabalhados, então quando seu quiosque estiver pronto quero ser convidada pra dar os meus pitacos, posso?
Você ganhou uma seguidora aqui também, só que a verificação de palavras pode impedir meu acesso rsss
Beijos de Luz pra ti!

☆Lu Cavichioli disse...

Léo, sua estréia não poderia ser diferente e em grande estilo.

Esse projeto que trouxe ao nosso Quiosque, é bem a cara dele mesmo. Casual, sem muito teretete e tal. Janelas abertas, brisa reconfortante, uma rede... Eu prefito o calhamaço com uma caneta macia do que as teclas do note. Gosto de escrever a mão.

Concluindo, você fechou com chave de ouro contando a nós que as estórias podem tornarem-se histórias, depende do ponto de vista.
Parabéns meu querido, por sua estréia, e manda mais porque o ano está só começando.

beijos da Lu

Leonel disse...

As primeiras palavras tiveram um gosto meio agridoce de saudade.
Porto Alegre, a velha querência...
Faz muito tempo que não ando por lá. Como estarão a Av. Otávio Rocha e a Praça XV?
Será que ainda se vende nata batida no mercado?
E aquela salada de frutas com sorvete e nata?
Good times...
Bonito texto!

Si Fernandes disse...

Uma bela apresentação... Será um livro? Eu pensei nisso quando li esse texto.
A verdade é caro autor, que compraria esse canto, essa enorme almofada,e essa mesinha, só para te ver criar e criar... E compraria todos os seus livros, caro autor. Porque sei da paixão que tens pela letra. Ela te rouba de tudo.
Belo texto, caríssimo autor.

Milene Lima disse...

Me apaixonou a ideia da mesinha pequena e baixinha, que não seria nova mas certamente muito charmosa. Me encantou como me encantam teus contos e teu canto (vixe, pequei em demasia pesado nos trocadilhos). Me encantas, guri!
O que te satisfaria não é assim tão complicado... É simples e lindo! Viverias toda a vida a nos fazer viver todas as tuas histórias inventadas.
Sabe da minha torcida pra que isso aconteça... Bem sabes!

E o violão... Ah, o violão! Tudo bem, aposentei a ideia.

Beijocas, moço inventador de estórias.

Nine disse...

Que belo projeto!

E as estórias, sei que serão as melhores do mundo...
Quem precisa de mobília quando o mundo inteiro vive na própria cabeça?

beijos

Impulsiva disse...

Há tempos acompanho o Léo e seus textos magníficos, mas em nenhum outro já lido tinha enxergado tão claramente o Léo enquanto pessoa.

A simplicidade desse projeto é inversamente proporcional ao mundo mágico que este escritor e poeta é capaz de criar...

Perfeito Léo, como sempre!

Beijos da tua eterna fã,
Kenia.